Andreas Kisser, do Sepultura, abre o jogo ao falar sobre luto e morte após perder a esposa

Andreas Kisser e Patrícia. Foto: Reprodução do Instagram

Andreas Kisser e Patrícia. Foto: Reprodução do Instagram

Andreas Kisser, guitarrista do grupo Sepultura, perdeu, em julho deste ano, a mulher, Patricia Perissinoto Kisser, com quem estava há 32 anos.

A morte da empresária e produtora, em decorrência de um câncer de cólon, será lembrada nesta quarta-feira (28), no festival solidário Patfest, na Audio, em São Paulo.

No evento, 100% da renda vai para a ONG Comunidade Compassiva, que atua em comunidades periféricas no Rio de Janeiro e em Minas Gerais prestando apoio a pacientes em situação de vulnerabilidade que estão em quadros irreversíveis. Andreas teve três filhos com a companheira de décadas: Yohan, Giulia e Enzo.

“Cheguei à Comunidade Compassiva depois do processo que a gente passou após o falecimento da Patrícia. Ela chegou em um momento de situação irreversível e uma equipe de cuidados paliativos entrou para ajudá-la”, conta Andreas em entrevista à revista Quem.


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“O caso dela era um caso clássico de eutanásia, de ela estar completamente consciente da situação, com o corpo parado, sem funcionar mais e de querer parar com o sofrimento, com a dor. Minha expectativa é que as pessoas falem sobre a morte, não tendo medo nem tabu. É chamar atenção para dizer que essas possibilidades existem, que pode acontecer com todo mundo, de maneiras diferentes, e por que não estar preparado para isso? Com educação, com diálogo na sociedade, não só entre os médicos. É para a gente saber o que pode fazer em relação a tratamentos… O legado é a informação”, avaliou.

“A morte não é punição, ela está aí pra dar um sentido à nossa vida, para abraçar as pessoas, falar um ‘obrigado’, coisas simples do dia a dia. Falar ‘eu te amo’ para os filhos, para os amigos. Coisas para não deixar para amanhã. A ideia da morte dá mais foco ao presente, vivendo intensamente isso. A Patrícia teve, tem e vai ter para sempre essa atitude que deixou com a gente. E é isso que quero passar para as pessoas, que sejam mais do presente, sem medo”, ensina Andreas.

“Não teve um momento de ‘virar a chave’. Percebi que esse é um problema da sociedade. O Brasil lida muito mal com a morte, porque é um país supersticioso, preconceituoso. Religião pode atrapalhar demais no conceito do que é vida e do que é morte… A experiência que passei e as possibilidades que eu não tive me fizeram perguntar: ‘Por que não tive isso? Por que não se fala sobre isso?’. A Patrícia sempre falou da morte de uma forma leve, até quando começamos a namorar, inclusive. Ela falava para todo mundo: ‘Não quero meu caixão sem travesseiro, sem cobertor, não quero passar frio, bota meia no meu pé’. Brincava com isso. E quando aconteceu, ela sabia o que queria. Não houve discussão familiar, foi tudo respeitando o pedido dela”, contou.

“Para mim, não importa muito o que dizem, cada um passa sua experiência. O que os outros tentam definir como fases… Nunca pensei nisso e, para mim, não tem fundamento. Para mim, a música sempre ajudou em tudo quanto é tipo de situação, inclusive nessa. O Patfest é um exemplo disso. Trazer à tona nossa experiência, falar com as pessoas… A tristeza e a dor fazem parte de um processo evolutivo das pessoas, e a gente não tem que ter medo disso. Aliás, usar isso para crescer, ver outras oportunidades que só a dor e a tristeza trazem. Tem que absorver tudo e não tentar ignorar uma situação. Mas não penso em fases. Eu tenho minha família, meus amigos, a banda, a música que me ajudam demais e eu ajudo demais a eles. Todo mundo está se abraçando e reconstruindo nossa vida. O processo de luto pode ser uma análise posterior, mas que nada ajuda num momento como esse”, disse.

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