Ana Carolina Garcia. Foto: SRzd

Ana Carolina Garcia

Jornalista formada pela Universidade Estácio de Sá, onde também concluiu sua pós-graduação em Jornalismo Cultural. Em 2011, lançou seu primeiro livro, "A Fantástica Fábrica de Filmes - Como Hollywood se Tornou a Capital Mundial do Cinema", da Editora Senac Rio.

Globo de Ouro 2018: ‘Três Anúncios para um Crime’ é o grande vencedor

“Três Anúncios para um Crime” venceu quatro estatuetas, incluindo a de ator coadjuvante para Sam Rockwell (Foto: Divulgação / Crédito: HFPA PHOTOGRAPHER).

A Associação de Imprensa Estrangeira de Hollywood (Hollywood Foreign Press Association – HFPA) realizou na noite do último domingo, dia 07, a 75a cerimônia de entrega do Globo de Ouro no The Beverly Hilton Hotel em Los Angeles. E o grande vencedor foi “Três Anúncios para um Crime” (Three Billboards Outside Ebbing, Missouri – 2017), que levou quatro das seis estatuetas às quais concorria.

 

Dirigido e roteirizado por Martin McDonagh, o longa venceu nas categorias de melhor filme (drama), atriz em filme (drama) para Frances McDormand, ator coadjuvante para Sam Rockwell e roteiro. Com isso, “Três Anúncios para um Crime” sai do Globo de Ouro fortalecido na atual temporada de premiações, sobretudo na campanha do Oscar, cuja lista de indicados será anunciada pela Academia de Artes e Ciências Cinematográficas de Hollywood (Academy of Motion Picture Arts and Sciences – AMPAS) no dia 23 deste mês.

 

Líder de indicações desta edição, com sete ao todo, “A Forma da Água” (The Shape of Water – 2017) faturou apenas dois prêmios, direção para Guillermo del Toro e trilha sonora original para Alexandre Desplat. Mesmo número de estatuetas de “Lady Bird: É Hora de Voar” (Lady Bird – 2017). Considerado o “cute movie” da temporada, o longa dirigido e roteirizado por Greta Gerwig venceu duas categorias importantes, melhor filme (comédia / musical) e atriz em filme (comédia / musical) para Saoirse Ronan, que tem chances concretas de conseguir uma vaga dentre as finalistas do Oscar de melhor atriz.

 

James Franco aceitou o prêmio de melhor ator em filme (comédia / musical) ao lado do irmão, Dave Franco, e de Tommy Wiseau, o verdadeiro “artista do desastre” (Foto: Divulgação / Crédito: HFPA PHOTOGRAPHER).

 

Diretor, produtor e protagonista de “O Artista do Desastre” (The Disaster Artist – 2017), James Franco saiu do The Beverly Hilton Hotel com seu segundo Globo de Ouro, sendo o primeiro de melhor ator em filme (comédia / musical) – o outro prêmio foi na categoria de melhor ator em minissérie ou telefilme por “James Dean” (Idem – 2001). No longa, Franco vive Tommy Wiseau, que estrelou, dirigiu, escreveu e produziu “The Room” (Idem – 2003), filme que é considerado um dos piores da história do cinema.

 

Com seis indicações, incluindo de filme (drama) e direção para Steven Spielberg, “The Post: A Guerra Secreta” (The Post – 2017) chamou a atenção por não ganhar nenhum prêmio, mesmo sendo protagonizado por dois gigantes, Tom Hanks e Meryl Streep, ambos indicados. Assim como o longa de Spielberg, outros três títulos de peso na atual temporada também saíram do evento sem nenhuma estatueta. São eles: “Dunkirk” (Idem – 2017), “Corra!” (Get Out – 2017) e “Me Chame Pelo Seu Nome” (Call Me By Your Name – 2017), produzido pelo brasileiro Rodrigo Teixeira.

 

Também com DNA brasileiro, “O Touro Ferdinando” (Ferdinand – 2017), de Carlos Saldanha, viu a estatueta concedida pela HFPA ir direto para o concorrente “Viva – A Vida é Uma Festa” (Coco – 2017). Com direção de Lee Unkrich e Adrian Molina, a animação tem sido chamada pela crítica especializada de “nova obra-prima dos estúdios Disney” e é franca favorita ao Oscar da categoria.

 

Apresentada por Seth Meyers, a cerimônia deste ano foi marcada por protestos contra os recorrentes casos de assédio sexual na indústria do entretenimento, algo conhecido há tempos, mas varrido para debaixo do tapete na maioria das vezes. E o estopim para os protestos foram as diversas acusações contra o produtor e ex-todo poderoso Harvey Weinstein, um escândalo de grandes proporções que abalou a estrutura de Hollywood.

 

Uma das formas de protesto encontradas pelas atrizes foi a utilização da cor preta em suas roupas, o que, de acordo com a imprensa americana, causou a escassez de vestidos pretos em Los Angeles, dificultando o trabalho dos estilistas. Mas a roupa foi apenas o aperitivo para a cerimônia propriamente dita, marcada por protestos no palco, tanto nas apresentações dos prêmios quanto nos discursos de agradecimento. O próprio Meyers abriu a cerimônia com tiradas afiadas, como “Boa noite, senhoras! E senhores que restaram!”, para em seguida citar o caso Harvey Weinstein, a substituição de Kevin Spacey por Christopher Plummer em “Todo o Dinheiro do Mundo” (All the Money in the World – 2017) e criticar o presidente americano Donald Trump ao afirmar que o evento contém três palavras que o irritariam, “Hollywood, estrangeiro e imprensa”.

 

Oprah Winfrey recebeu o Cecil B. DeMille Award, apresentado por Reese Witherspoon (Foto: Divulgação / Crédito: HFPA PHOTOGRAPHER).

 

A liberdade de imprensa também foi pauta no Globo de Ouro 2018, sendo defendida pela presidente da HFPA, Meher Tatna, e por Oprah Winfrey, a grande homenageada da noite. “Vemos a imprensa sofrer um cerco hoje em dia. É preciso ter dedicação para se revelar a verdade, a injustiça. Revelar os tiranos e suas vítimas. Quero dizer que eu valorizo a imprensa mais do que nunca. Estamos tentando viver esse tempo difícil. Por isso, vou falar que sei ao certo que dizer a sua verdade é a ferramenta mais poderosa que temos. Tenho orgulho e me inspiro nas mulheres que tiveram a força e o poder de falar e compartilhar suas histórias particulares. Neste ano, somos a história”, disse Winfrey ao receber o Cecil B. DeMille Award, prêmio concedido pelo conjunto da obra e que já foi entregue a profissionais como Steven Spielberg, Walt Disney, Meryl Streep e Sidney Poitier, lembrado por ela em seu discurso.

 

“Em 1964, eu era uma menina, sentada no chão da casa da minha mãe, assistindo Sidney Poitier vencer o prêmio de melhor ator por ‘Uma Voz Nas Sombras’. O palco veio o homem mais elegante que eu já vi. Lembro-me da gravata branca e sua pele negra. Eu nunca tinha visto um negro homenageado assim. Depois, ele ganhou este mesmo prêmio. Tentei várias vezes explicar o que aquele momento significava para uma criança de um lugar tão humilde. Minha mãe entrou em casa, cansada de limpar a casa dos outros. E nesse momento, não consigo deixar de pensar que pode existir alguma pequena menina me assistindo receber este prêmio. Sou a primeira mulher negra a ganhá-lo. É uma honra e um privilégio compartilhar a noite com todas elas, e todos os homens e mulheres que me inspiraram, me desafiaram e me trouxeram até aqui”, disse a homenageada.

 

Ovacionada pela plateia, Oprah Winfrey fez um dos discursos mais poderosos da história do Globo de Ouro, emocionando os presentes, que a interromperam com aplausos de pé, principalmente ao lembrar os casos de abuso sexual, dentro e fora de Hollywood.  “Não sofremos abuso só na indústria do entretenimento. É um problema que transcende local de trabalho, raça, cultura. Quero prestar um tributo às mulheres que suportaram anos de abuso e violência. Elas, como minha mãe, tinham contas para pagar, filhos para alimentar e sonhos para correr atrás. São mulheres com nomes que nunca saberemos. São trabalhadoras domésticas, em fábricas, restaurantes, no mundo da tecnologia, militares…”, afirmou Winfrey antes de finalizar com a história de Recey Taylor, mulher negra vítima de estupro após ser sequestrada por seis homens em 1944, e com a mensagem de esperança por dias melhores.

 

Aos 101 anos de idade, Kirk Douglas recebeu uma breve homenagem antes de anunciar o prêmio de melhor roteiro (Foto: Divulgação / Crédito: HFPA PHOTOGRAPHER).

 

Outro momento de ovação do Globo de Ouro 2018 ficou por conta de Kirk Douglas. Receptor do Cecil B. DeMille Award em 1968, o ator que completou 101 anos de idade em dezembro, ganhou uma breve homenagem da HFPA ao subir ao palco ao lado da nora, a atriz Catherine Zeta-Jones, para apresentar o prêmio de melhor roteiro. Debilitado, o astro foi aplaudido de pé pela plateia e demonstrou grande emoção pelo carinho de profissionais de uma indústria que muito deve a ele, inclusive na luta contra a censura no período do macarthismo ao se tornar o primeiro produtor a contratar um roteirista que integrava a lista negra, Dalton Trumbo, para “Spartacus” (Idem – 1960).

 

Considerado um dos principais termômetros do Oscar, o Globo de Ouro chega à sua 75a edição como a segunda maior festa da comunidade hollywoodiana. É uma premiação importante que, apesar de não influenciar diretamente o resultado de prêmios de outras instituições, pesa bastante na campanha rumo à cerimônia da AMPAS.

 

Confira a lista completa de vencedores:

Melhor filme – drama:

– “Três Anúncios para um Crime”.

Melhor filme – comédia / musical:

– “Lady Bird – A Hora de Voar”.

Melhor ator – drama:

– Gary Oldman – “O Destino de uma Nação” (Darkest Hour – 2017).

Melhor atriz – drama:

– Frances McDormand – “Três Anúncios Para um Crime”.

Melhor ator – comédia / musical:

– James Franco – “O Artista do Desastre”.

Melhor atriz – comédia / musical:

– Saoirse Ronan – “Lady Bird – A Hora de Voar”.

Melhor ator coadjuvante:

– Sam Rockwell – “Três Anúncios Para um Crime”.

Melhor atriz coadjuvante:

– Allison Janney – “Eu, Tonya” (I, Tonya – 2017).

Melhor direção:

– Guillermo del Toro – “A Forma da Água”.

Melhor roteiro:

– “Três Anúncios para um Crime” – Martin McDonagh.

Melhor canção original:

– “This Is Me” – “O Rei do Show” (The Greatest Showman – 2017).

Melhor trilha sonora original:

– “A Forma da Água” – Alexandre Desplat.

Melhor animação:

– “Viva – A Vida é uma Festa”.

Melhor filme estrangeiro:

– “Em Pedaços” (Aus dem Nichts – 2017, Alemanha).

Melhor série de TV – drama:

– “O Conto da Aia” (The Handmaid’s Tale – desde 2017).

Melhor série de TV – comédia / musical:

– “The Marvelous Mrs. Maisel” (Idem – desde 2017).

Melhor minissérie / telefilme:

– “Big Little Lies” (Idem – desde 2017).

Melhor ator em série de TV – drama:

– Sterling K. Brown – “This Is Us” (Idem – desde 2016).

Melhor atriz em série de TV – drama:

– Elisabeth Moss – “O Conto da Aia”.

Melhor ator em série de TV – comédia / musical:

– Aziz Ansari – “Master of None” (Idem – desde 2015).

Melhor atriz em série de TV – comédia / musical:

– Rachel Brosnahan – “The Marvelous Mrs. Maisel”.

Melhor ator em minissérie / telefilme:

– Ewan McGregor – “Fargo” (Idem – 2017).

Melhor atriz em minissérie / telefilme:

– Nicole Kidman – “Big Little Lies”.

Melhor ator coadjuvante em série de TV / minissérie / telefilme:

– Alexander Skarsgard – “Big Little Lies”.

Melhor atriz coadjuvante em série de TV / minissérie / telefilme:

– Laura Dern – “Big Little Lies”.

Cecil B. DeMille Award:

– Oprah Winfrey.

 

Confira algumas fotos oficiais do Globo de Ouro 2018:

 

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