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Estandarte: relevância histórica nas agremiações de samba de Porto Alegre

Onira Pereira (centro) junto das porta-estandartes na escadaria da Igreja Nossa Senhora das Dores, centro histórico de Porto Alegre-RS. Foto: Divulgação

Por Michelle Lima

O estandarte

O estandarte foi criado como um símbolo de anunciação de regimentos militares, dando a ele uma representatividade de guerra, luta e proteção àqueles que estão sob seu legado.

Desde seus primórdios é um elemento de extrema relevância tanto nas áreas militar, religiosa e civil, pois sua presença legitima um grupo de pessoas que contempla um mesmo ideal.

Por muitas vezes o termo ‘estandarte’ é designado como um tipo de bandeira, porém dentro da concepção carnavalesca estes pavilhões possuem representatividades distintas, tanto na questão estética quanto no que cada um significa no contexto de Mômo, portanto não são sinônimos.

O estandarte no Brasil

Aqui no Brasil, por ser um país altamente religioso e de imensa diversidade cultural, este elemento consegue transitar com a mesma importância entre o sagrado e o profano, pois é largamente utilizado em procissões e em vários segmentos de expressão popular. Nas regiões Norte e Nordeste tem presença obrigatória em várias manifestações culturais, como em clubes de frevo, reisados, bumba meu boi e nos maracatus. No Sudeste teve grande visibilidade no carnaval carioca dentre os antigos ranchos e cordões de sociedades, mas se hoje fizermos uma análise na concepção genérica do evento pelo país, a imagem do estandarte está intimamente ligada as bandas e blocos de rua. Porém no que tange as escolas de samba é um elemento que atualmente não se configura como obrigatório, embora várias vezes seja um recurso utilizado pelos carnavalescos das agremiações em seus enredos. É necessário mencionar que nos primórdios dos desfiles de carnaval, era ele o único pavilhão representativo nas agremiações da época, pois não existia a presença do casal de mestre-sala e porta-bandeira, mas sim a figura masculina do porta-estandarte, pois devido as dimensões e os materiais utilizados na confecção tornava-os muito pesados para uma sutil condução. Mesmo não sendo quesito de avaliação na pontuação dos desfiles, no carnaval do Rio Grande do Sul, mais especificamente em Porto Alegre e região metropolitana, a presença do estandarte é de extrema relevância histórica, e por isso há em todas escolas de samba a figura da porta-estandarte, tornando-se assim peça fundamental no cenário carnavalesco gaúcho.

A Porta-Estandarte no Carnaval

Como já mencionado anteriormente, os primeiros a carregar este tipo de pavilhão eram homens, pois tinham a força física necessária para condução do estandarte durante todo o percurso do desfile, porém com o passar dos tempos adaptações foram feitas, e a presença masculina foi substituída pelas moças que demonstravam identificação e amor por suas agremiações. Surge assim a figura da porta-estandarte com características peculiares a todas, onde o papel principal é o de anunciar com simpatia e elegância a escola de samba que irá adentrar na passarela. No início suas vestes lembravam passistas, desfilavam com fantasias pequenas ou até mesmo de maiôs, porém devido a importância deste personagem no contexto do carnaval suas vestimentas sofreram alterações nos padrões estéticos. Deixaram de expor tanto o corpo e sofisticaram suas roupas em lindas fantasias, com vistosos costeiros em arte plumária e vestidos ricamente bordados, geralmente com o uso de longas saias de armação, peça da indumentária que torna o figurino mais volumosos e que por muitas vezes valoriza o desempenho e performance da dança. Impossível falar de porta-estandarte e não citar aquela que se tornou o maior ícone dentro desta função, não só por exercer esta dança com extrema competência, mas por ser a uma eterna defensora da permanência da figura da porta-estandarte junto às escolas de samba, Onira Pereira é sem dúvida o grande nome dentro desta arte. Mas é necessário ressaltar que outras damas também se tornaram referências nesta função no carnaval do sul do país, verdadeiras divas do asfalto que quando empunhavam seus estandartes desfilavam com garra, elegância, altivez e nas evoluções de seus bailados demonstravam o imenso orgulho que sentiam por seus pavilhões:

Além de Onira Pereira, Rosalina Conceição e Shaienne Sehnem, todas “crias” da Escola de Samba Bambas da Orgia (celeiro de grandes destaques nesta função) Nara Mattos, Academia de Samba Praiana; Edília e Tiquita, Imperadores do Samba; Vera Furacão e Guislaine Pereira, Estado Maior da Restinga e Juciane Afrausino, Imperatriz Dona Leopoldina.

Sobre a autora

Michelle Lima. Foto: Divulgação

Porta-Bandeira premiada no Carnaval de Porto Alegre, desfilou por diversas agremiações como: Estado Maior da Restinga, Academia de Samba Praiana e Bambas da Orgia; reconhecida como Doutora (Honoris Causa) em Carnaval por ter alcançado por mais de sete carnavais seguidos a nota dez no quesito. Palestrante e Instrutora em oficinas do quesito Mestre-Sala e Porta-Bandeira. Jurada dos desfiles das escolas de samba do Carnaval de Porto Alegre, do interior do Rio Grande do Sul e, de São Paulo -2013/2017.

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