Ana Carolina Garcia. Foto: SRzd

Ana Carolina Garcia

Jornalista formada pela Universidade Estácio de Sá, onde também concluiu sua pós-graduação em Jornalismo Cultural. Em 2011, lançou seu primeiro livro, "A Fantástica Fábrica de Filmes - Como Hollywood se Tornou a Capital Mundial do Cinema", da Editora Senac Rio.

‘Um Dia de Chuva em Nova York’ contém crítica de Woody Allen à mídia

Protagonizado por Elle Fanning e Timothée Chalamet, “Um Dia de Chuva em Nova York” entra em cartaz nesta quinta-feira, dia 21 (Foto: Divulgação / Assessoria Imagem Filmes).

Afetado diretamente por acusações de abuso sexual contra Woody Allen, feitas por sua filha Dylan Farrow, que voltaram à tona após o escândalo envolvendo Harvey Weinstein e a posterior eclosão de movimentos como o #MeToo e Time’s Up, “Um Dia de Chuva em Nova York” (A Rainy Day in New York – 2018) entra em cartaz nesta quarta-feira, dia 20, depois de ter tido seu lançamento adiado, quase cancelado, pela Amazon Studios.

 

Com direção e roteiro de Allen, o longa começa mostrando um jovem casal universitário se preparando para viajar para a Big Apple, onde Ashleigh Enright (Elle Fanning) entrevistará o conceituado cineasta Roland Pollard (Liev Schreiber). O plano inicial consiste em realizar o trabalho e depois curtir a cidade, mas imprevistos separam a dupla. Enquanto Ashleigh se deslumbra nos bastidores de divulgação de um filme e nos encontros com celebridades, Gatsby Welles (Timothée Chalamet) se frustra por ser posto em segundo plano. E em meio à frustração, reencontra a irmã de uma antiga namorada, bagunçando de vez o seu mundo.

 

Selena Gomez e Timothée Chalamet em cena (Foto: Divulgação).

 

Utilizando a fórmula tradicional do cinema de Woody Allen, “Um Dia de Chuva em Nova York” é uma produção que não se arrisca em nenhum momento, nem mesmo com toques de originalidade e criatividade, oferecendo uma trama calcada num roteiro previsível e repleto de diálogos simplórios. Apesar disso, Allen encontra espaço para inserir uma crítica à imprensa que há décadas esmiúça sua vida pessoal e familiar. Tal crítica pode ser observada com afinco em duas situações distintas: a primeira no diálogo entre os personagens de Jude Law (Ted) e Rebecca Hall (Connie), que diz que “não existe jornal que não seja um tabloide”; e a segunda, na sequência que mostra Ashleigh acompanhando o ator Francisco Vega (Diego Luna), explorada e completamente deturpada pela mídia. É como se o cineasta quisesse transmitir a mensagem de que as aparências enganam, e que o público precisa de discernimento na hora de julgar quem quer que seja.

 

Com bela fotografia que concede atmosfera clássica à história contemporânea, assinada por Vittorio Storaro, vencedor do Oscar por “Apocalipse Now” (Apocalypse Now – 1979), “Reds” (Idem – 1981) e “O Último Imperador” (The Last Emperor – 1987), “Um Dia de Chuva em Nova York” não exige muito de seu elenco, provavelmente pela simplicidade de sua trama. Com isso, não há nenhuma atuação memorável neste longa, nem mesmo de Elle Fanning e Timothée Chalamet, cujo figurino remete um pouco ao do próprio Woody Allen em “Noivo Neurótico, Noiva Nervosa” (Annie Hall – 1977). Esta situação se agrava pelo fato de os personagens não serem minimamente interessantes, sobretudo Gatsby, jovem de família abastada que critica sua classe social, mas que também não pensa em arregaçar as mangas e ter seu próprio sustento, vivendo da fortuna familiar e apostando em jogos de azar sempre que tem oportunidade.

 

Misturando drama e comédia, embalados por uma trilha sonora suave, “Um Dia de Chuva em Nova York” está longe de ser o melhor filme da carreira de Woody Allen e acabou desperdiçando o vigor de dois jovens talentos em ascensão, Fanning e Chalamet. É o mais do mesmo e, no fim das contas, nem o triângulo amoroso funciona.

 

*“Um Dia de Chuva em Nova York” entra em cartaz em algumas salas nesta quarta-feira, dia 20.

 

Assista ao trailer oficial legendado:

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