Ana Carolina Garcia. Foto: SRzd

Ana Carolina Garcia

Jornalista formada pela Universidade Estácio de Sá, onde também concluiu sua pós-graduação em Jornalismo Cultural. Em 2011, lançou seu primeiro livro, "A Fantástica Fábrica de Filmes - Como Hollywood se Tornou a Capital Mundial do Cinema", da Editora Senac Rio.

Top 10: os melhores filmes das plataformas de streaming em 2023

“Assassinos da Lua das Flores” é dirigido por Martin Scorsese (Foto: Divulgação / Crédito: AppleTV+).

Opções viáveis para disponibilização de títulos que enfrentariam dificuldades no circuito exibidor caso conseguissem espaço para serem exibidos lado a lado de blockbusters hollywoodianos, as plataformas de streaming se tornaram, de certa forma, dependentes dos cinemas devido à obrigatoriedade de exibição comercial dos títulos que almejam disputar a temporada de premiações que termina com o Oscar, o prêmio mais cobiçado do cinema mundial. A dependência se tornou maior no período posterior à fase mais crítica da pandemia, quando as instituições revogaram o afrouxamento de suas regras de elegibilidade, entre elas, a Academia de Artes e Ciências Cinematográficas de Hollywood (Academy of Motion Picture Arts and Sciences – AMPAS).

 

Única plataforma de streaming a conquistar a estatueta do Oscar de melhor filme até a presente data, com “No Ritmo do Coração” (CODA – 2021, EUA / França / Canadá), de Siân Heder, a AppleTV+ mostrou sua força em 2023, preocupando a concorrência, principalmente a Netflix. Por meio do Apple Studios, a plataforma da maçã conta com dois longas de peso que chegaram aos cinemas de olho no Oscar, “Assassinos da Lua das Flores” (Killers of the Flower Moon – 2023, EUA) e “Napoleão” (Napoleon – 2023, EUA / Reino Unido), respectivamente dirigidos por Martin Scorsese e Ridley Scott – “Napoleão”, infelizmente, é uma das pendências desse ano.

 

A força demonstrada pela Apple surpreendeu até mesmo a Netflix, que reinou absoluta como gigante do streaming durante muito tempo e, agora, enfrenta concorrentes poderosos como Disney+, HBO Max e a já citada Apple. Ainda sonhando com a estatueta do Oscar de melhor filme, a Netflix apostou suas fichas em “Maestro” (Maestro – 2023, EUA), de Bradley Cooper. Com Scorsese e Steven Spielberg entre seus produtores, o drama biográfico estreou na plataforma no último dia 20, depois de passar uma temporada em cartaz nos cinemas.

 

A Netflix também apostou no drama inspirado em fatos reais, “Máfia da Dor” (Pain Hustlers – 2023, Reino Unido / EUA), de David Yates, estrelado por Emily Blunt, Chris Evans e Andy Garcia, mostrando o esquema por trás da epidemia de opioides nos Estados Unidos. Além de chamar a atenção com o longa animado “Leo” (Leo – 2023, Austrália / EUA), de Robert Marianetti, Robert Smigel e David Wachtenheim.

 

No entanto, um curta de animação merece destaque por condensar as técnicas tradicionais e computadorizadas, “Era Uma Vez um Estúdio” (Once Upon a Studio – 2023, EUA), de Dan Abraham e Trent Correy. Produzido para a Disney+ como elemento de extrema importância para a celebração dos 100 anos da The Walt Disney Company, o curta ganhou exibição na ABC, uma das principais emissoras americanas, em 15 de outubro, data do centenário da Casa do Mickey, que não emplacou nenhum longa animado realmente relevante no streaming nem no circuito.

 

Mesmo enfraquecido após as revogações das medidas sanitárias que permitiram o retorno das atividades cotidianas a partir de 2021 graças à vacinação e, também, pela crise econômica que impôs cortes orçamentários a inúmeras famílias, algo observado na queda de assinantes em diversos serviços, o streaming busca produzir títulos em pé de igualdade com os produzidos pelos estúdios tradicionais para as salas de exibição. Na verdade, hoje, as plataformas são uma espécie de apoio para os grandes estúdios, que, na busca pela coexistência pacífica, descobriram uma fonte de renda extra para os seus negócios, capaz de explorar marcas previamente estabelecidas, inclusive em spin-off’s, bem como em produções originais. É um mercado de inúmeras possibilidades para o (tel)espectador, por vezes, assumindo função educativa por meio tanto de séries infantis quanto de documentários de temática adulta.

 

Confira o Top 10:

1. “Assassinos da Lua das Flores”:

“Assassinos da Lua das Flores” é uma produção Apple (Foto: Divulgação).

Título original: “Killers of the Flower Moon”.

País: Estados Unidos.

Plataforma: AppleTV+.

Direção: Martin Scorsese.

Roteiro: Eric Roth, Martin Scorsese e David Grann.

Gênero(s): Policial, drama e história.

Elenco: Leonardo DiCaprio (Ernest Burkhart), Robert De Niro (William Hale), Lily Gladstone (Mollie Burkhart), Jesse Plemons (Tom White), Tantoo Cardinal (Lizzie Q), John Lithgow (Peter Leaward), Brendan Fraser (W.S. Hamilton), Jillian Dion (Minnie), entre outros.

Sinopse: Baseado no livro “Assassinos da Lua das Flores: Petróleo, Morte e a Origem do FBI”, de David Grann, o longa é ambientado nos anos 1920 e conta a história da série de assassinatos que tinha como objetivo dizimar a tribo Osage, proprietária de terras ricas em petróleo, chamando a atenção do Bureau of Investigation (BOI), que, mais tarde, passaria a se chamar Federal Bureau of Investigation (FBI).

 

Com quase três horas e meia de duração, “Assassinos da Lua das Flores” reúne as principais características do cinema de Martin Scorsese, ganhando contorno épico, para contar ao (tel)espectador um episódio cruel da história americana, mostrando como os Osage foram vitimados pela ganância, inclusive de autoridades corruptas, dentre elas, o xerife local.

 

Priorizando o fator humano em detrimento da trajetória do FBI, o longa se desenvolve com calma para que os acontecimentos possam levar o (tel)espectador à reflexão. Para tanto, utiliza o relacionamento de uma Osage com um homem branco dominado pelo tio de interesses escusos. Isso é mostrado com habilidade por Scorsese, contando com o apoio do elenco em total comunhão que tem como destaques Robert De Niro, Leonardo DiCaprio e, principalmente, Lily Gladstone, que constrói sua personagem de maneira a equilibrar suas mais variadas emoções em meio ao horror.

 

Com elementos que, por vezes, remetem ao gênero do faroeste, “Assassinos da Lua das Flores” é uma produção instigante que mantém o ritmo narrativo da primeira à última cena, impedindo que o (tel)espectador se disperse. E, importante ressaltar, é a maior aposta do streaming da maçã na atual temporada de premiações, objetivando chegar ao Oscar.

 

2. “Maestro”:

“Maestro” é uma produção Netflix (Foto: Divulgação).

Título original: “Maestro”.

País: Estados Unidos.

Plataforma: Netflix.

Direção: Bradley Cooper.

Roteiro: Bradley Cooper e Josh Singer.

Gênero(s): Biografia, drama e musical.

Elenco: Bradley Cooper (Leonard Bernstein), Carey Mulligan (Felicia Montealegre), Matt Bomer (David Oppenheim), Vincenzo Amato (Bruno Zirato), Kate Eastman (Ellen Adler), entre outros.

Sinopse: Inspirado em fatos reais, o longa conta a trajetória do casal Leonard Bernstein e Felicia Montealegre, que sempre soube da homossexualidade do marido. A história é contada sob a ótica de Felicia, apresentando ao (tel)espectador a complexidade do relacionamento que durou 25 anos.

 

Produzido por Bradley Cooper, Steven Spielberg e Martin Scorsese, “Maestro” se destaca no catálogo da Netflix como um título sério que, apesar do que muitos supõem, não pretende seguir à risca a fórmula convencional de cinebiografias. Isso se deve à abordagem de Cooper, que prioriza o olhar de Felicia Montealegre, bem como a maneira como ela lidou com a dor advinda dos relacionamentos extraconjugais de Bernstein, principalmente com outros homens.

 

Hábil na direção, tal qual visto há alguns anos com o oscarizado “Nasce Uma Estrela” (A Star is Born – 2018, EUA), Cooper conduz com sensibilidade e cuidado as sequências que mostram ao (tel)espectador a sexualidade fluida de Bernstein, bem como a liberdade concedida a ele por Montealegre, mas deixando nítido o quanto a atriz se ressentia do marido por causa das relações extraconjugais – e como isso minou sua energia ao longo dos anos.

 

Contando com atuações impecáveis de Mulligan e Cooper, “Maestro” ainda chama a atenção tecnicamente, sobretudo no que tange à fotografia, caracterização de personagens e direção de arte. É uma produção grandiosa que utiliza com perspicácia todos os recursos disponíveis em prol da narrativa, inclusive as composições de Bernstein, indicado ao Oscar por seu trabalho em “Sindicato de Ladrões” (On the Waterfront – 1954, EUA), de Elia Kazan.

 

3. “Saltburn”:

“Saltburn” é uma produção Amazon (Foto: Divulgação).

Título original: “Saltburn”.

País: Estados Unidos e Reino Unido.

Plataforma: Amazon Prime Video.

Direção: Emerald Fennell.

Roteiro: Emerald Fennell.

Gênero(s): Comédia, drama e suspense.

Elenco: Barry Keoghan (Oliver Quick), Jacob Elordi (Felix Catton), Archie Madekwe (Farleigh Start), Sadie Soverall (Annabel), Richie Cotterell (Harry), Richard E. Grant (James Catton), Rosamund Pike (Elspeth Catton), Alison Oliver (Venetia Catton), Carey Mulligan (Pamela), entre outros.

Sinopse: O filme mostra a trajetória do jovem Oliver, estudante da Universidade de Oxford que faz o possível para ser aceito pelos colegas de classe, mas em vão por ser bolsista. Dentre os colegas, o popular Felix, com quem estabelece laços de amizade. De família rica, Felix convida Oliver para uma temporada em sua casa, sem saber que o convite afetaria a vida de todos.

 

Badalado na atual temporada de premiações americana, “Saltburn” é um dos títulos mais impactantes do catálogo das plataformas digitais por levar à telinha as consequências de conceder espaço a estranhos no ambiente doméstico e familiar.

 

Conduzido por Emerald Fennell de maneira a expor tanto a vulnerabilidade da família que vive na bolha da aristocracia quanto a mente doentia de um jovem sem limites nem escrúpulos, “Saltburn” prima pelo roteiro bem estruturado, repleto de detalhes que agregam enorme valor ao conjunto desse longa original Amazon. Porém, a trama não funcionaria sem a comunhão total do elenco, que tem como maior destaque Barry Keoghan. O ator constrói Oliver esmiuçando seus problemas mentais, equilibrando com maestria momentos de aparente sensibilidade e muitos outros de emoções à flor da pele.

 

Cuidadoso no que tange à direção de arte e fotografia, “Saltburn” é um longa que reúne a fragilidade e a bestialidade humanas de forma a levar o (tel)espectador à reflexão, principalmente por mostrar a facilidade com a qual o perigo é levado para casa.

 

4. “O Pacto”:

“O Pacto” é uma produção Amazon (Foto: Divulgação).

Título original: “The Covenant”.

País: Reino Unido, Estados Unidos e Espanha.

Plataforma: Amazon Prime Video.

Direção: Guy Ritchie.

Roteiro: Guy Ritchie, Ivan Atkinson e Marn Davies.

Gênero(s): Ação, drama e suspense.

Elenco: Jake Gyllenhaal (Sargento John Kinley), Dar Salim (Ahmed), Jason Wong (Joshua ‘JJ’ Jung), Emily Beecham (Caroline Kinley), Antony Starr (Eddie Parker), Abbas Fasaei (Pooya), entre outros.

Sinopse: Ambientado na Guerra do Afeganistão, o filme conta a história de um sargento americano, John Kinley, salvo por seu intérprete afegão, Ahmed, que se arrisca para levá-lo à base. A salvo nos Estados Unidos, Kinley descobre que Ahmed é um dos homens mais procurados pelo talibã, e que sua única chance de sobrevivência é a aprovação do visto americano. Com a demora da documentação de Ahmed, Kinley decide voltar ao Afeganistão para resgatar o intérprete, que vive escondido ao lado da esposa e do filho recém-nascido.

 

Uma das surpresas da Amazon Prime Video nesse ano, “O Pacto” é uma produção pouco badalada dentre as inúmeras opções oferecidas pelas plataformas de streaming em geral. No entanto, é uma das mais interessantes, pois analisa com cuidado o cenário da Guerra do Afeganistão a partir da situação dos afegãos que foram contratados como intérpretes pelo governo americano. Uma atuação aprovada por parte de seus conterrâneos, mas considerada traição pelo Talibã.

 

Conduzido com vigor por Guy Ritchie, o longa de desenvolve de maneira a mostrar a violência por meio da emboscada à missão liderada pelo Sargento John Kinley, que tem toda sua equipe assassinada e é ajudado por Ahmed, intérprete que tem como objetivo conseguir o visto americano e sair do Afeganistão junto de sua família. Da emboscada à base, o impõe riscos minuciosamente retratados por Ritchie em um de seus trabalhos de direção mais vigorosos.

 

“O Pacto” é uma produção cuja trama aborda as questões propostas de forma direta, sem rodeio nem melodrama, para melhor dialogar com o (tel)espectador. Mas, para tanto, tem como alicerce o jogo cênico construído por Gyllenhaal e Salim, ator iraquiano que chegou como refugiado à Dinamarca aos seis anos de idade. São duas atuações impecáveis que agregam enorme valor ao longa que potencializa a tensão a cada cena.

 

5. “Passagens”:

“Passagens” é uma produção Mubi (Foto: Divulgação).

Título original: “Passages”.

País: França e Alemanha.

Plataforma: Mubi.

Direção: Ira Sachs.

Roteiro: Mauricio Zacharias, Ira Sachs e Arlette Langmann.

Gênero(s): Drama e romance.

Elenco: Franz Rogowski (Tomas Freiburg), Ben Whishaw (Martin), Adèle Exarchopoulos (Agathe), Erwan Kepoa Falé (Amad), Arcadi Radeff (Dimo), entre outros.

Sinopse: “Passagens” mostra a trajetória do casal Tomas e Martin, impactados pela inconstância do primeiro, que se envolve com a jovem Agathe. À medida que o romance de Tomas e Agathe se fortalece, Martin percebe que tem de seguir com a própria vida e inicia um relacionamento com Amad, incomodando ao ex, que faz o possível para não perder Agathe nem Martin.

 

Rejeitado pelos festivais de Cannes e Veneza por ter sido exibido nos de Berlim e Sundance, “Passagens” apresenta uma trama complexa conduzida com engenhosidade por Ira Sachs, que explora o lado mais egocêntrico do protagonista a quem pretende desconstruir para expor sua insegurança e imaturidade à medida que a trama se desenvolve.

 

Cineasta em ascensão, Tomas não dimensiona as consequências de seus atos nas vidas das pessoas a quem diz amar, acreditando estar numa situação confortável na qual poderá manter a vida com dois parceiros distintos. Neste ponto, o longa começa a mostrar os efeitos colaterais sobre Martin e Agathe, cientes da necessidade de darem o próprio grito de liberdade. E, com isso, “Passagens” permite que o (tel)espectador estreite os laços com a trama proposta por Sachs.

 

No fim das contas, “Passagens” é um filme sobre a queda de um homem guiado pelo próprio ego, que precisa do choque de realidade para aprender a valorizar aqueles que realmente se importaram com ele, duas pessoas que precisam deixar o grande amor para trás, mesmo que o processo seja doloroso, para que possam encontrar a própria felicidade.

 

6. “Tetris”:

“Tetris” é uma produção Apple (Foto: Divulgação).

Título original: “Tetris”.

País: Reino Unido e Estados Unidos.

Plataforma: AppleTV+.

Direção: Jon S. Baird.

Roteiro: Noah Pink.

Gênero(s): Biografia, drama e história.

Elenco: Taron Egerton (Henk Rogers), Mara Huf (Tracy), Miles Barrow (Dennis Jackson), Nikita Efremov (Alexey Pajitnov), Toby Jones (Robert Stein), Oleg Stefan (Nikolai Belikov), entre outros.

Sinopse: Baseado em fatos reais, o longa conta a história por trás do Tetris, jogo popular criado por Alexey Pajitnov em 1984, na Rússia, quando a União das Repúblicas Socialistas Soviéticas (URSS) vivia seus anos finais. Quatro anos depois, o jogo chamou a atenção de um desenvolvedor, Henk Rogers, em Las Vegas, dando início a uma batalha pela aquisição dos direitos de comercialização do Tetris, acompanhada de perto por agentes soviéticos.

 

Inserindo elementos ficcionais em prol da fluidez narrativa, “Tetris” é um dos títulos menos badalados do catálogo do streaming, mas bastante interessante por levar à telinha uma história pouco conhecida que ajudou, de certa forma, a pavimentar o caminho para outros jogos eletrônicos criados nos anos seguintes.

 

Com direção firme de Jon S. Baird, o longa foge um pouco da fórmula convencional de cinebiografias para entreter o (tel)espectador, por vezes, remetendo ao sucesso “A Rede Social” (The Social Network – 2010, EUA), de David Fincher. A diferença é que “Tetris” é mais ágil que a produção sobre a criação do Facebook, além de usar a trilha sonora de forma mais incisiva.

 

Contando com boa atuação de Taron Egerton, “Tetris” é uma produção cuja trama tem a ganância como fio condutor, utilizando a questão política como pano de fundo para a melhor compreensão do (tel)espectador.

 

7. “Máfia da Dor”:

“Máfia da Dor” é uma produção Netflix (Foto: Divulgação).

Título original: “Pain Hustlers”.

País: Reino Unido e Estados Unidos.

Plataforma: Netflix.

Direção: David Yates.

Roteiro: Wells Tower.

Gênero(s): Policial e drama.

Elenco: Emily Blunt (Liza Drake), Chris Evans (Pete Brenner), Andy Garcia (Dr. Neel), Brian d’Arcy James (Dr. Lydell), Catherine O’Hara (Jackie), Chloe Coleman (Phoebe), entre outros.

Sinopse: Adaptação do livro “The Hard Sell: Crime and Punishment at an Opioid Startup”, de Evan Hughes, o longa começa mostrando as dificuldades de uma mulher para criar a filha sozinha, fazendo o possível para atender às necessidades da menina que tem a saúde debilitada. Trabalhando como stripper, Liza conhece Pete Brenner, funcionário de uma empresa farmacêutica que precisava aumentar as vendas para se manter no mercado. Reconhecendo o potencial persuasivo de Liza, Pete dá a ela uma chance na companhia, com o aval do patrão, Dr. Neel, sem saber que o jogo viraria no futuro.

 

Abordando sem rodeios a crise de opioides nos Estados Unidos, “Máfia da Dor” utiliza elementos do formato documental para satirizar uma questão extremamente perturbadora para a sociedade americana, que testemunhou o horror causado pela prescrição indiscriminada de Fentanil a partir da década de 1990.

 

Dirigido por David Yates, o longa mostra como a indústria farmacêutica convenceu médicos a participarem de seu esquema milionário, ignorando as inevitáveis perdas humanas em prol do enriquecimento próprio. Contudo, a trama não funcionaria a contento se não tivesse como um de seus alicerces o elenco em sintonia, cujos destaques são Emily Blunt e Chris Evans, que busca sair da sombra de seu personagem mais famoso, Steve Rogers / Capitão América.

 

“Máfia da Dor” não é uma produção perfeita em todos os quesitos, mas merece destaque pelo assunto abordado, sendo capaz de levar o (tel)espectador à reflexão, sobretudo no terceiro ato, quando o cerco se fecha contra a empresa e seus funcionários.

 

8. “O Estrangulador de Boston”:

“O Estrangulador de Boston” é uma produção Star+ (Foto: Divulgação).

Título original: “Boston Strangler”.

País: Estados Unidos.

Plataforma: Star+.

Direção: Matt Ruskin.

Roteiro: Matt Ruskin.

Gênero(s): História, policial e drama.

Elenco: Keira Knightley (Loretta McLaughlin), Carrie Coon (Jean Cole), Chris Cooper (Jack Maclaine), Alessandro Nivola (Detetive Conley), David Dastmalchian (Albert DeSalvo), Rory Cochrane (Detetive DeLine), entre outros.

Sinopse: Baseado em fatos reais, o longa mostra a trajetória de duas repórteres que trabalharam na cobertura jornalística de assassinatos de mulheres em série na cidade americana de Boston, e arredores, no início dos anos 1960. Trabalho subestimado por muitos, principalmente homens, dentro e fora da redação do jornal.

 

Produzido por Ridley Scott, “O Estrangulador de Boston” leva ao streaming uma história que aterrorizou a sociedade americana no início dos anos 1960: o assassinato em série de mulheres em Boston e arredores. Mas alguns elementos ignorados pela polícia local chamaram a atenção das jornalistas Loretta McLaughlin e Jean Cole, um deles, a ausência de padrão do serial killer. A partir disso, o longa se desenvolve de maneira a mostrar a luta das duas mulheres num ambiente dominado por homens, bem como o perigo a que estavam expostas durante a investigação.

 

Dirigido e roteirizado por Matt Ruskin, o filme consegue criar uma ambientação crível para o período retratado por meio tanto da fotografia quanto da direção de arte, figurino e maquiagem. Contudo, o que realmente chama a atenção é o fato de optar pelos bastidores, não pelos assassinatos propriamente ditos, mostrando toda a pressão sobre as jornalistas, especialmente McLaughlin, que viu seu casamento ruir gradualmente.

 

Contando com atuações competentes de seu elenco, principalmente de Keira Knightley e carrie Coon, “O Estrangulador de Boston” é conduzido com objetividade para mostrar ao (tel)espectador o quão essencial é o jornalismo. Neste ponto, dialoga com outro drama jornalístico inspirado em fatos reais, e ambientado em Boston, o vencedor do Oscar de melhor filme e roteiro original, “Spotlight – Segredos Revelados” (Spotlight – 2015, EUA), de Tom McCarthy.

 

9. “Era Uma Vez um Estúdio”:

“Era Uma Vez um Estúdio” é uma produção Disney+ (Foto: Divulgação).

Título original: “Once Upon a Studio”.

País: Estados Unidos.

Plataforma: Disney+.

Direção: Dan Abraham e Trent Correy.

Roteiro: Dan Abraham e Trent Correy.

Gênero(s): Animação e comédia.

Elenco: Chris Diamantopoulos (voz de Mickey Mouse), Kaitlyn Robrock (voz de Minnie Mouse), Natalie Babbitt Taylor (voz de Snow White), Scott Weinger (voz de Aladdin), Robin Williams (voz de Gênio, arquivo), Ariana DeBose (voz de Asha), Josh Gad (voz de Olaf), Bill Farmer (vozes de Pateta e Pluto), Jennifer Hale (voz de Cinderela), Paige O’Hara (voz de Bela), entre outros.

Sinopse: “Era Uma Vez um Estúdio” começa mostrando a saída dos funcionários do estúdio do prédio da animação na sede de Burbank, Califórnia. Um deles, Burny Mattinson, veterano que se dedicou à empresa fundada pelos irmãos Walt e Roy O. Disney por 70 anos, testemunhando momentos bons e ruins. Afinal, a história da animação Disney não é marcada apenas por momentos gloriosos, pois passou por situações difíceis no decorrer das décadas, inclusive correndo o risco de “extinção”. E quando os artistas e animadores deixam o local, Mickey e Minnie convocam os demais personagens para a fotografia do centenário, iniciando certa confusão que, para os (tel)espectadores, garantem a diversão e a emoção.

 

Híbrido de live-action e animação tradicional e computadorizada, “Era Uma Vez um Estúdio” reverencia o passado de maneira a olhar com carinho e atenção para o presente e, também, para o futuro. E esta é uma das razões pelas quais o curta figura entre os longas-metragens neste Top 10.

 

Primoroso tecnicamente, o curta coloca Mickey e Minnie ao lado de Oswald o Coelho Sortudo, do Gênio e das princesas, dividindo espaço com inúmeros personagens que contribuíram para fortalecer o Mundo Mágico de Walt Disney na tela grande, na telinha e nos parques temáticos, inclusive vilões como Scar, por exemplo. E isso é feito com perspicácia pela equipe, emocionando o (tel)espectador em diversos momentos, especialmente quando a criatura (Mickey) reverencia o criador (Walt), que aparece numa fotografia – na verdade, essa é apenas uma das fotos das lendas que transformaram o estúdio que começou na garagem do tio de Walt Disney, pois outros profissionais também são homenageados, inclusive Ub Iwerks, o responsável pelo primeiro desenho do camundongo.

 

“Era Uma Vez um Estúdio” é uma produção original, repleta de soluções criativas, mas que remete aos anos iniciais da empresa fundada sob o nome de Disney Brothers Cartoon Studios em 1923, quando os curtas eram híbridos de live-action e animação, sobretudo os que compunham a série “Alice Comedies” (Alice Comedies – 1924 a 1927, EUA). Sem dúvida alguma, esse curta é uma bela celebração à história do estúdio que revolucionou a vertente animada da sétima-arte, que também serve para pavimentar o caminho de sua próxima animação, “Wish – O Poder dos Desejos” (Wish – 2023, EUA), de Chris Buck e Fawn Veerasunthorn, que chega ao circuito comercial brasileiro em 04 de janeiro.

 

10. “Leo”:

“Leo” é uma produção Netflix (Foto: Divulgação).

Título original: “Leo”.

País: Austrália e Estados Unidos.

Plataforma: Netflix.

Direção: Robert Marianetti, Robert Smigel e David Wachtenheim.

Roteiro: Robert Smigel, Adam Sandler e Paul Sado.

Gênero(s): Animação e comédia.

Elenco: Adam Sandler (voz de Leo), Bill Burr (voz de Squirtle), Cecily Strong (voz de Srta. Malkin), Jason Alexander (voz do pai de Jayda), Rob Schneider (voz do Diretor), Allison Strong (voz de Sra. Salinas), entre outros.

Sinopse: Leo é um lagarto que vive na sala da classe do 5o ano do Ensino Fundamental ao lado da tartaruga Squirtle. Septuagenário, Leo tem uma crise e decide fugir do local, mas a decisão da professora de que ele tem de ser levado por um aluno diferente a cada final de semana muda seus planos à medida que conhece melhor os anseios das crianças, entendendo o comportamento de cada uma delas. E quando a popularidade de Leo aumenta, Squirtle fica enciumado.

 

Contando com Adam Sandler entre seus produtores e roteiristas, “Leo” é uma animação que se destaca pelo crescimento gradual, pois começa de maneira despretensiosa e ganha forma a cada cena, permitindo que (tel)espectadores de todas as idades se interessem pela trama de cunho familiar.

 

Dirigido por Robert Marianetti, Robert Smigel e David Wachtenheim, o longa mostra como a atitude dos adultos afeta o comportamento de muitas crianças, contribuindo para a animosidade entre elas em ambientes como o escolar. Neste cenário, Leo, o lagarto falante, surge como o suporte emocional há tempos sonhado por elas, escutando-as e aconselhando-as.

 

Apresentando a essência mágica outrora exclusiva das produções Disney, “Leo” é cuidadoso com a técnica, mas prima por estabelecer o diálogo simples e direto com a fatia infantil dos (tel)espectadores, mostrando a ela como é possível vencer o medo e a insegurança em prol da harmonia e do respeito ao próximo.

 

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