Ana Carolina Garcia. Foto: SRzd

Ana Carolina Garcia

Jornalista formada pela Universidade Estácio de Sá, onde também concluiu sua pós-graduação em Jornalismo Cultural. Em 2011, lançou seu primeiro livro, "A Fantástica Fábrica de Filmes - Como Hollywood se Tornou a Capital Mundial do Cinema", da Editora Senac Rio.

‘The Post: A Guerra Secreta’: Spielberg, Hanks e Streep em defesa da liberdade de imprensa

“The Post: A Guerra Secreta” tem discurso atual em prol da liberdade de imprensa (Foto: Divulgação).

Há dois anos, um filme sobre os bastidores de uma reportagem jornalística responsável por abalar as estruturas da Igreja Católica chamou a atenção do público e de parte da crítica, principalmente após vencer o Oscar da categoria principal. Dirigido por Tom McCarthy, “Spotlight – Segredos Revelados” (Spotlight – 2015) evoca de certa maneira “Todos os Homens do Presidente” (All the President’s Men – 1976), de Alan J. Pakula, algo que o novo filme de Steven Spielberg também faz. Indicado ao Oscar de melhor filme e atriz para Meryl Streep, “The Post: A Guerra Secreta” (The Post – 2017) é uma das estreias desta quinta-feira, dia 25.

 

A produção começa no front vietnamita em 1966 com uma sequência poderosa que mostra o horror ao qual os soldados americanos estavam expostos, algo similar à de “O Resgate do Soldado Ryan” (Saving Private Ryan – 1998), filme que rendeu a Spielberg seu segundo Oscar de melhor direção. Em seguida, a trama é transportada para a capital americana em 1971 em meio aos protestos contra a guerra e aos problemas financeiros do Post, comandado por sua dona, Kay Graham (Meryl Streep).

 

“The Post: A Guerra Secreta” conta a história da equipe de jornalistas do The Washington Post e o seu dilema de publicar ou não documentos secretos sobre a Guerra do Vietnã, o que aumentaria a ira do presidente Nixon, que já perseguia o periódico e travava uma batalha judicial contra o The New York Times por causa da publicação de outra parte dos tais documentos. Com isso, o jornal entra oficialmente na briga pela preservação da liberdade de imprensa, encabeçado por Kay Graham e pelo editor Ben Bradlee (Tom Hanks), o mesmo que anos mais tarde autorizaria a publicação de matérias sobre o escândalo Watergate, mostrado no clássico de Pakula.

 

Trio de respeito: Meryl Streep, Steven Spielberg e Tom Hanks durante as filmagens (Foto: Divulgação).

 

Abordando a falta de credibilidade concedida às mulheres e defendendo o jornalismo em prol da sociedade, o longa tem como maior trunfo a união de três profissionais pertencentes ao Olimpo hollywoodiano: Steven Spielberg, Tom Hanks e Meryl Streep. O resultado é uma obra imprescindível e soberba, algo raro nos dias atuais.

 

O desempenho como Kay Graham rendeu à Meryl Streep sua 21a indicação ao Oscar (Foto: Divulgação).

 

 

Vencedora de três estatuetas do Oscar, Streep brilha em cena como Kay Graham, uma mulher fragilizada pelo suicídio do marido e pela função inesperada, que não tem o respeito do conselho do jornal fundado por seu pai. E sua posição no The Washington Post lhe exige tomar uma decisão que mudará não apenas o cenário político dos Estados Unidos, como também os rumos de sua empresa e seus funcionários, implicando, ainda, na preservação ou não da amizade com o homem que encomendou o estudo minucioso sobre a campanha americana no Vietnã, Robert McNamara (Bruce Greenwood). É um trabalho de composição complexo que surge na tela de forma discreta e termina completamente agigantado por explorar com propriedade a insegurança de uma mulher num alto cargo em plenos anos 1970.

 

No entanto, a trama histórica funciona como pretexto para uma discussão cada vez mais atual, seja nos Estados Unidos, no Brasil ou em qualquer outro país: a liberdade de imprensa. Com um roteiro preciso, assinado por Liz Hannah e Josh Singer, Spielberg aborda o assunto com afinco em plena Era Trump, mostrando como o jornalismo praticado com seriedade e responsabilidade exerce papel fundamental numa sociedade democrática. E a defesa à liberdade de imprensa é concentrada principalmente na força do personagem de Hanks. Defendido com garra pelo ator duas vezes vencedor do Oscar, Bradlee é o responsável pelas frases de efeito em prol do jornalismo, entre elas: “Nós (jornalistas) temos que monitorar o poder deles (governantes)” e “O único jeito de defender o direito de publicar é publicando”.

 

Esteticamente belo, “The Post: A Guerra Secreta” é uma ode ao jornalismo e ao direito de publicação, condensado num trecho da decisão da Suprema Corte Americana à ação contra o The Washington Post e o The New York Times, utilizado no filme: “A imprensa deve servir aos governados, não aos governantes”. E é esse o recado de Spielberg, Hanks e Streep ao seu público em tempos tão conturbados em todo o mundo.

 

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Assista ao trailer oficial legendado:

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