Ana Carolina Garcia. Foto: SRzd

Ana Carolina Garcia

Jornalista formada pela Universidade Estácio de Sá, onde também concluiu sua pós-graduação em Jornalismo Cultural. Em 2011, lançou seu primeiro livro, "A Fantástica Fábrica de Filmes - Como Hollywood se Tornou a Capital Mundial do Cinema", da Editora Senac Rio.

‘The Flash’ é salvo pelo Batman

“The Flash” é protagonizado por Ezra Miller (Foto: Divulgação / Crédito: Warner Bros.).

“The Flash” é dirigido por Andy Muschietti (Foto: Divulgação / Crédito: Warner Bros.).

Uma das principais apostas da DC/Warner para 2023, “The Flash” (The Flash – 2023, EUA) chega aos cinemas na próxima quinta-feira (15) com o objetivo de mostrar aos espectadores que o Universo Estendido da DC (DC Extended Universe – DCEU) pode render frutos capazes de brigar em pé de igualdade com os títulos produzidos pelo Universo Cinematográfico da Marvel (UCM), que outrora contou com James Gunn em sua equipe – atualmente, Gunn divide o cargo de CEO da DC Studios com Peter Safran.

 

Com direção de Andy Muschietti, de “It: A Coisa” (It – 2017, EUA / Canadá) e “It – Capítulo 2” (It Chapter Two – 2019, EUA / Canadá), “The Flash” começa mostrando Barry Allen / Flash (Ezra Miller) às vésperas do julgamento de seu pai, acusado pelo assassinato da própria esposa e mãe de seu filho. Para Barry, que não consegue reunir provas suficientes para evitar a condenação do pai, a única solução é viajar no tempo e impedir o crime ocorrido na residência da família quando ainda era uma criança. Advertido por Bruce Wayne / Batman (Ben Affleck) de que mudar o passado poderia causar danos ao presente, Barry segue com o plano e entra numa realidade paralela na qual o mundo que conhece simplesmente não existe mais. E para tentar voltar ao presente, precisa enfrentar situações inesperadas e inimigos poderosos.

 

Conduzido com muita habilidade por Muschietti, o longa surpreende os mais céticos por apresentar qualidade infinitamente superior aos lançamentos recentes da DC/Warner, equilibrando comédia e drama familiar de maneira a suplantar as sequências de ação desenfreada. Neste ponto, é imprescindível destacar que a trama roteirizada por Christina Hodson e Joby Harold trabalha com cuidado os questionamentos do protagonista, obrigado a amadurecer diante das circunstâncias, constantemente atormentado sobre as consequências de seus atos. Afinal, no mundo para o qual foi transportado, a Liga da Justiça nunca existiu, o que torna as ameaças ainda mais perigosas.

 

A Liga da Justiça não existe na realidade na qual Barry está inserido, mas Bruce Wayne / Batman, sim, só que não aquele a quem chama de amigo. Na “nova Gotham”, Bruce vive ainda mais solitário em sua mansão, desfrutando da aposentadoria numa cidade pacificada, sem imaginar vestir o uniforme do passado. E é exatamente nesse ponto que “The Flash” brinca com a memória afetiva de parcela considerável da plateia, aquela que teve a oportunidade de assistir “Batman” (Batman – 1989, EUA) e “Batman: O Retorno” (Batman Returns – 1992, EUA), ambos dirigidos por Tim Burton, nos cinemas em seus lançamentos originais, pois o Bruce Wayne / Batman da realidade paralela é Michael Keaton.

 

Ezra Miller e Michael Keaton em cena de “The Flash” (Foto: Divulgação / Crédito: Warner Bros.).

 

Com direito à trilha que embalou as ações de Batman nos filmes de Burton, Keaton retorna ao personagem em grande estilo, vestindo o uniforme pelo qual abdicou quando Joel Schumacher e os executivos da Warner suavizaram a atmosfera sombria do personagem, e de Gotham, em prol da audiência infantil a partir de “Batman Eternamente” (Batman Forever – 1995, EUA). Em “The Flash”, Keaton mostra a potência do Homem-Morcego, mas acaba por assumir um pouco da personalidade de seu antigo protetor, Alfred (Michael Gough), ao tentar ajudar Barry de maneira a se tornar uma espécie de mentor em meio ao caos.

 

Longe das críticas negativas que sucederam a sua confirmação como o herói no final dos anos 1980, antes mesmo do início das filmagens de “Batman”, Keaton cria com Miller um jogo cênico impecável, permitindo que a jornada de amadurecimento do protagonista ganhe contornos mais densos, fundamentais para o desenvolvimento da trama proposta, que tem o Homem-Morcego como grande alicerce. E é neste ponto que se pode dizer que “The Flash” é salvo pelo Batman.  Contudo, há espaço para situações cômicas, sobretudo por Miller conseguir esmiuçar as variadas emoções do jovem herói. Miller tem Barry / Flash em suas mãos, dominando o personagem como poucos, o que coloca a Warner numa situação delicada em decorrência dos escândalos pessoais do ator, que enfrenta problemas com a justiça.

 

Mantendo o ritmo narrativo da primeira à última cena, o que também é atribuído à montagem de Jason Ballantine e Paul Machliss, que costura com esmero tanto as realidades paralelas quanto a trilha sonora, “The Flash” tem como sua maior fragilidade os efeitos visuais e sonoros um tanto irregulares. No entanto, isso não prejudica o filme de uma forma geral, pois o trabalho de Muschietti e de todo o elenco (muitos nomes não devem ser citados para evitar spoilers) garante a diversão, oferecendo ao espectador uma viagem tão revigorada quanto nostálgica aos fãs do filão de super-heróis, que há anos contribui para a manutenção das engrenagens da indústria cinematográfica hollywoodiana.

 

Assista ao trailer oficial legendado:

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