Ana Carolina Garcia. Foto: SRzd

Ana Carolina Garcia

Jornalista formada pela Universidade Estácio de Sá, onde também concluiu sua pós-graduação em Jornalismo Cultural. Em 2011, lançou seu primeiro livro, "A Fantástica Fábrica de Filmes - Como Hollywood se Tornou a Capital Mundial do Cinema", da Editora Senac Rio.

‘A Qualquer Custo’: faroeste moderno

Ben Foster e Chris Pine são os protagonistas deste faroeste moderno (Foto: Divulgação).

Há muito esquecido, o faroeste tem reconquistado gradativamente seu espaço nas salas de exibição. No ano passado, “Sete Homens e um Destino” (The Magnificent Seven – 2016), remake do clássico homônimo de 1960, surpreendeu por manter a atmosfera deste que foi um dos gêneros mais populares do cinema clássico. E nesta quinta-feira, dia 02, o western invade as salas com “A Qualquer Custo” (Hell or High Water – 2016), de David Mackenzie.

 

Ambientado nos dias atuais, o filme conta a história de Toby Howard (Chris Pine), homem de luto pela morte da mãe e cheio de dívidas com o banco. Para quitá-las, recorre ao irmão Tanner Howard (Ben Foster), solto há um ano após ter cumprido pena de 10 anos. Juntos, começam a assaltar bancos na região, levando apenas o dinheiro trocado dos caixas. Mas suas ações chamam a atenção de Marcus Hamilton (Jeff Bridges), policial prestes a se aposentar que inicia uma caçada com o parceiro Alberto Parker (Gil Birmingham).

 

Mais do que um faroeste moderno, “A Qualquer Custo” é uma produção crítica ao apresentar o preconceito como prática antiga e ainda aceita pela sociedade. A trama se passa no interior do Texas, estado com muitos imigrantes mexicanos e descendentes de índios, alvos constantes de preconceito e humilhações. Piadas e ofensas contra índios surgem implacáveis na persona de Bridges, proferidas contra o personagem de Birmingham, apesar da relação de amizade dos dois. Já em relação aos mexicanos, a citação mais contundente surge durante um assalto, quando um idoso se surpreende ao constatar que os assaltantes são homens brancos americanos: “que loucura! Vocês nem são mexicanos!”, como se a origem fosse sinônimo de formação de caráter.

 

Jeff Bridges e Gil Birmingham interpretam os Texas Rangers que caçam os irmãos Howard (Foto: Divulgação).
Jeff Bridges e Gil Birmingham interpretam os Texas Rangers que caçam os irmãos Howard (Foto: Divulgação).

 

Com um roteiro interessante e conciso, assinado por Taylor Sheridan, “A Qualquer Custo” tem na direção firme de David Mackenzie e na interação de todo o elenco seus principais alicerces. Chris Pine e Ben Foster funcionam bem em cena, assim como a dupla formada por Jeff Bridges e Gil Birmingham. No entanto, o que realmente chama a atenção neste elenco é o amadurecimento profissional de Pine, que interpreta um homem simples que vê a pobreza como uma doença hereditária e faz o possível para que seus filhos tenham um futuro diferente, mesmo sendo um pai ausente. O condensa toda a dor e complexidade de seu personagem apenas no olhar, deixando para trás o rostinho bonitinho que o tornou popular em produções mais leves e/ou blockbusters, como os da franquia “Star Trek”.

 

Com uma fotografia que explora cada locação com maestria, “A Qualquer Custo” é um faroeste moderno e intenso que ultrapassa os limites da ação para permitir que o espectador reflita sobre tempos tão conturbados e em como todos pagam a conta de alguma maneira. Isso pode ser resumido pelo raciocínio do personagem de Birmingham: os brancos roubaram as terras dos índios no passado e, agora, os banqueiros estão roubando-as dos brancos. É a lei do retorno enraizada no ditado popular “um dia da caça, outro do caçador”.

 

*Indicado a quatro estatuetas do Oscar: melhor filme, ator coadjuvante para Jeff Bridges, roteiro original e montagem.

 

Assista ao trailer oficial:

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