A Disney anunciou na última terça-feira, dia 04, o lançamento em PVOD de “Mulan” (Idem – 2020), um dos títulos mais afetados pelo fechamento das salas de exibição em decorrência da pandemia do novo coronavírus. Originalmente agendado para o circuito comercial, o longa será disponibilizado pela Disney+ em 04 de setembro pelo valor de US$ 29,99, segundo a Variety – a assinatura mensal da plataforma custa US$ 6,99.
Ainda de acordo com a Variety, o estúdio decidiu manter a versão em live-action da clássica animação nos circuitos exibidores dos países nos quais a Disney+ ainda não foi lançada, entre eles, o Brasil. No entanto, não há nenhuma data de estreia definida nos cinemas.
A decisão da Casa do Mickey de seguir os passos da concorrente Universal Pictures, que causou imensa controvérsia ao lançar “Trolls 2” (Trolls World Tour – 2020) em PVOD no mês de abril, logo no início da pandemia, não chega a ser uma surpresa. Isto se deve ao fato de o estúdio ter anunciado, há algumas semanas, seu adiamento por tempo indeterminado devido à incerteza acerca da reabertura das salas em diferentes mercados, inclusive o americano. Apesar disso, alguns exibidores reagiram negativamente à notícia.
Segundo o The Hollywood Reporter, Phil Clapp, diretor-executivo da UK Cinema Association, manifestou seu desconforto em carta aos membros da Associação. “A decisão de não dar aos cinemas a oportunidade de exibir o filme (mesmo que simultaneamente com a Disney+) é francamente desconcertante, e conversaremos com a Disney a respeito”, afirmou Clapp, que encontrou apoio em seu país. “Se os setores da indústria têm tanta certeza de que o VOD e os cinemas podem viver juntos, por que não nos divertimos exibindo ‘Mulan’ ao mesmo tempo?”, questionou Kevin Markwick, dono da Picture House, em sua conta oficial no Twitter.
Nesta quarta-feira, dia 05, a Disney enviou uma carta aos exibidores britânicos dizendo que a decisão não foi fácil de ser tomada, de acordo com o The Hollywood Reporter. “Considerando que a Covid-19 interrompeu parte significativa dos meios de exibição e que os mercados enfrentam situações muito diferentes neste momento, e depois de atrasar o lançamento mundial diversas vezes, vamos adotar uma abordagem específica para esta estreia”, afirmou o estúdio.
Na realidade, a decisão da Disney tem peso significativo num momento de crise para a indústria, que tem sofrido diretamente o impacto da pandemia, sobretudo após o acordo entre a Universal Pictures e a AMC Theatres. Anunciado em 28 de julho, o acordo prevê a diminuição da janela de exibição tradicional, cerca de 70 a 90 dias, para 17 dias, dando à rede exibidora cerca de 10% do lucro do aluguel em PVOD dos títulos da Universal, segundo o The Hollywood Reporter. De acordo com a Variety, a AMC pretende fazer negócios em termos similares com outros estúdios, mas recebendo 20% do valor do aluguel.
Apesar de certo ceticismo dentro da própria indústria, inclusive da Disney, o acordo estabelecido entre a Universal e a AMC é uma saída em tempos de pandemia. Contudo, a longo prazo, considerando o cenário de adesão de concorrentes e, principalmente, do público, a diminuição da janela tradicional colocará em risco o cinema como o conhecemos, calcado na experiência proporcionada pela sala de exibição enquanto espaço de socialização. Num efeito dominó, a indústria cinematográfica sentirá, de forma negativa, o impacto financeiro deste novo modelo porque necessita do lucro proveniente das bilheterias para se manter de pé, assim como os exibidores.
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