Ana Carolina Garcia. Foto: SRzd

Ana Carolina Garcia

Jornalista formada pela Universidade Estácio de Sá, onde também concluiu sua pós-graduação em Jornalismo Cultural. Em 2011, lançou seu primeiro livro, "A Fantástica Fábrica de Filmes - Como Hollywood se Tornou a Capital Mundial do Cinema", da Editora Senac Rio.

‘Mavka: Aventura na Floresta’: resiliência ucraniana

“Mavka: Aventura na Floresta” é inspirado na peça “The Forest Song” (Foto: Divulgação).

Distribuída pela A2 Filmes, a animação ucraniana “Mavka: Aventura na Floresta” (Mavka: Lisova pisnya – 2023, Ucrânia / EUA) chega ao circuito comercial brasileiro nesta quinta-feira, dia 26, prometendo uma experiência diferente ao espectador. Inspirado na peça “The Forest Song” (Lisova pisnya), escrita por Lesya Ukrainka em 1911 e encenada pela primeira vez sete anos mais tarde, em 1918, o longa leva às telas uma história sobre resiliência e respeito capaz de traçar um paralelo com a atual situação da Ucrânia, invadida pela Rússia em 2022.

 

Com direção de Oleh Malamuzh, Oleksandra Ruban e Yevheniy Yermak, “Mavka: Aventura na Floresta” apresenta um pouco do folclore ucraniano por meio de Mavka (voz de Nataliya Denisenko), Alma da Floresta que é escolhida como guardiã quando nova ameaça humana se torna iminente. Mas entre o despertar da floresta após longo inverno e o ataque propriamente dito, Mavka se apaixona pelo jovem Lucas (voz de Nazar Zadneprovskiy), que explora uma parte do local, proibida para humanos, a mando de Kylina (voz de Elena Kravets), mulher que não aceita o próprio envelhecimento e deseja encontrar uma fonte de juventude eterna.

 

“Mavka: Aventura na Floresta” é dirigido por Oleh Malamuzh, Oleksandra Ruban e Yevheniy Yermak (Foto: Divulgação).

 

Mesmo baseado na peça clássica, repleta de elementos da cultura ucraniana, “Mavka: Aventura na Floresta” bebe da fonte da animação Disney, algo que pode ser observado em diversos momentos. Impossível negar que desde o lançamento de “O Vapor Willie” (Steamboat Willie – 1928, EUA), de Walt Disney e Ub Iwerks, a Casa do Mickey estabeleceu um padrão de qualidade técnica que revolucionou a vertente animada da sétima-arte de maneira a colocar não apenas seus concorrentes, como também o público, aos seus pés. Quando o primeiro longa animado da Disney, “Branca de Neve e os Sete Anões” (Snow White and the Seven Dwarfs – 1937, EUA), de William Cottrell, David Hand e Wilfred Jackson, chegou aos cinemas, o padrão se fortaleceu de maneira a ser invejado ainda hoje. Nas décadas seguintes, mesmo nos momentos difíceis, que não foram poucos, a empresa fundada pelos irmãos Walt e Roy O. Disney continuou sendo a grande referência desse mercado, principalmente após a aquisição da Pixar, colocando-a na dianteira da animação computadorizada. E há muita influência da Casa do Mickey em “Mavka: Aventura na Floresta”.

 

Referenciando visualmente a sequência do pesadelo de Branca de Neve na floresta encantada, “Mavka: Aventura da Floresta” também contém elementos de animações recentes do estúdio, especialmente ao colocar sua protagonista como uma jovem determinada e destemida, subvertendo o conceito de fragilidade e dependência, pois, nesse filme, Mavka tem de salvar tanto a floresta quanto o rapaz por quem se apaixonou. E, para isso, precisa enfrentar uma inimiga obcecada pela juventude eterna, assim como a Rainha Má que amedrontou plateias em 1937.

 

No entanto, “Mavka: Aventura na Floresta” não consegue criar estilo visual próprio, algo importante para animações sobretudo no momento no qual a animação computadorizada pasteurizou a estética, nem manter o padrão de qualidade, principalmente no que tange ao som, que oscila bastante. Além disso, a história proposta carece de lapidação para melhor compreensão por parte da fatia infantil do público, acostumada com as produções Disney, que há tempos tentam dialogar com pessoas de todas as idades, tendo diversos recursos visuais e narrativos como facilitadores.

 

Transmitindo a mensagem de respeito às diferenças e à natureza, “Mavka: Aventura na Floresta” é uma produção que tenta driblar obstáculos enquanto apresenta cultura pouco conhecida pelo grande público, que consegue traçar um paralelo entre a invasão da floresta pelos humanos e a da Ucrânia pelas tropas russas, colocando as criaturas da floresta com a resiliência observada nos ucranianos, lutando para defender sua própria terra da destruição.

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