Ana Carolina Garcia. Foto: SRzd

Ana Carolina Garcia

Jornalista formada pela Universidade Estácio de Sá, onde também concluiu sua pós-graduação em Jornalismo Cultural. Em 2011, lançou seu primeiro livro, "A Fantástica Fábrica de Filmes - Como Hollywood se Tornou a Capital Mundial do Cinema", da Editora Senac Rio.

HBO Max retira ‘…E O Vento Levou’ do catálogo americano

“…E O Vento Levou” é um dos maiores clássicos do cinema mundial (Foto: Divulgação).

Com lançamento previsto para o próximo ano no mercado brasileiro, a plataforma de streaming da HBO, HBO Max, retirou temporariamente de seu catálogo o clássico “…E O Vento Levou” (Gone With the Wind – 1939), de Victor Fleming. Anunciada na última terça-feira, dia 09, a retirada, de acordo com a Variety, foi motivada pelas inúmeras manifestações contra o racismo, que tomaram conta dos Estados Unidos, mesmo em meio à pandemia de Covid-19, desde o assassinato de George Floyd.

 

“’…E o Vento Levou’ é produto de seu tempo e retrata questões étnicas e raciais que, infelizmente, eram o senso comum na sociedade americana. Estes retratos racistas eram errados na época e são errados hoje, acreditamos que manter este filme em nosso catálogo sem a denúncia e explicações de tais questões seria irresponsável. Tais representações são contra os valores pregados pela Warner Media, logo, quando o filme retornar ao HBO Max será com uma discussão sobre seu contexto histórico e a denúncia de tais representações, mas o filme será apresentado da forma como foi concebido. De outra forma, seria o mesmo que dizer que tais questões jamais existiram. Se queremos criar um futuro mais justo, inclusivo e igualitário, precisamos primeiro reconhecer e compreender nossa história”, afirma a HBO Max em comunicado oficial.

 

Produzido por David O. Selznick para a MGM, “…E O Vento Levou” voltou ao noticiário americano nesta quarta-feira, dia 10, pois o roteirista de “12 Anos de Escravidão” (12 Years a Slave – 2013), John Ridley, assinou um artigo, publicado pelo Los Angeles Times, criticando o conteúdo do longa, um dos maiores clássicos da História do cinema. Para Ridley, o problema do filme não se restringe à questão da representatividade, pois, segundo ele, há a glorificação sulista, perpetuando estereótipos negros e ignorando a barbárie da escravidão.

 

A decisão da HBO Max em retirar o clássico temporariamente de seu catálogo dividiu a opinião do público – segundo a Variety, a procura por “…E O Vento Levou” cresceu nas últimas 24 horas, colocando-o entre os best-sellers da Amazon e do iTunes. As produções cinematográficas, assim como as televisivas, refletem, em sua maioria, os acontecimentos de seu tempo. No caso do clássico de Fleming, uma parte da História americana, a Guerra Civil, que não deve ser desprezada, mesmo que tenha chegado às telas romantizada. Não se pode mudar o passado, mas é imprescindível aprender com ele para não repetir os mesmos erros no presente nem no futuro. Por isso, o acesso a produções de conteúdo histórico, como “…E O Vento Levou” e “12 Anos de Escravidão”, por exemplo, é importante para o espectador.

 

Hattie McDaniel e Vivien Leigh em cena de “…E O Vento Levou” (Foto: Divulgação).

 

Neste ponto, é válido lembrar que “…E O Vento Levou” representa um capítulo importante da História de Hollywood numa época difícil marcada pela segregação racial que impediu um de seus destaques, Hattie McDaniel, de participar da première em Atlanta, Geórgia, uma das cidades retratadas. Filha de escravos, McDaniel se tornou a primeira negra a vencer o Oscar, levando a estatueta de melhor atriz coadjuvante por seu desempenho inesquecível como Mammy. Na ocasião, a atriz também sofreu com a ignorância de parte da indústria, que a impediu de se sentar à mesa com os outros integrantes, brancos, da equipe durante a cerimônia.

 

Baseado na obra de Margaret Mitchell, o longa mostra como o sul dos Estados Unidos foi totalmente devastado durante a Guerra Civil Americana, através da trajetória de duas famílias ricas e tradicionais da Geórgia: O’Hara e Wilkes, respectivas proprietárias das fazendas Tara e Twelve Oaks. Neste contexto, foca em Scarlett O’Hara (Vivien Leigh), jovem impetuosa e transgressora, cobiçada por todos os homens da região, exceto por seu grande amor, Ashley Wilkes (Leslie Howard), que está de casamento marcado com Melanie Hamilton (Olivia de Havilland). Com os homens nos campos de batalhas, as mulheres fazem o possível para sobreviver em meio ao caos, violência e fome. Na volta à Tara, após uma perigosa fuga de Atlanta, Scarlett se depara com a decadência do local, sendo amparada por Mammy, sua fiel e dedicada escrava. Com o tempo, Scarlett cede às investidas de um de seus antigos admiradores, Rhett Butler (Clark Gable), homem de reputação tão questionável quanto a sua, com quem se casa apesar de ainda nutrir um amor obsessivo por Ashley. Mesmo sem perder sua arrogância, Scarlett segue tentando superar episódios difíceis, o que a leva a redescobrir Tara e a força de sua terra, algo que seu pai sempre lhe ensinou.

 

Agraciado com dois Oscars honorários, o Technical Achievement Award para R.D. Musgrave, pelo pioneirismo técnico, e o Honorary Award para William Cameron Menzies, pelo uso da cor, “…E O Vento Levou” recebeu oito estatuetas douradas na disputa de 1940. São elas: melhor filme, direção para Fleming, atriz para Leigh, atriz coadjuvante para McDaniel, fotografia colorida, direção de arte, roteiro e montagem.

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