Ana Carolina Garcia. Foto: SRzd

Ana Carolina Garcia

Jornalista formada pela Universidade Estácio de Sá, onde também concluiu sua pós-graduação em Jornalismo Cultural. Em 2011, lançou seu primeiro livro, "A Fantástica Fábrica de Filmes - Como Hollywood se Tornou a Capital Mundial do Cinema", da Editora Senac Rio.

‘Alien: Covenant’: criador e criatura

A tripulação da nave Covenant (Foto: Divulgação).

Há cinco anos, “Prometheus” (Idem – 2012) invadiu as salas de cinema com a pretensão de se tornar uma prequel à altura de “Alien – O Oitavo Passageiro” (Alien – 1979), um dos grandes clássicos de ficção-científica da história do cinema. Rico visualmente e pobre em conteúdo, o longa que iniciou a trilogia que conta o surgimento do monstro apresentou uma trama cansativa e mal desenvolvida, recebendo uma série de críticas negativas ao redor do globo. Por esta razão, “Alien: Covenant” (Idem – 2017) é aguardado pelos fãs com uma mistura de ansiedade e desconfiança. Dirigido e produzido por Ridley Scott, o longa é a principal estreia desta quinta-feira, dia 11, nos cinemas brasileiros.

 

“Alien: Covenant” começa mostrando o androide David (Michael Fassbender) numa confortável sala ao lado de seu criador, Peter Weyland (Guy Pearce), dialogando sobre a origem de ambos e sendo tratado como serviçal. Em seguida, passa para o ano 2104, quando a tripulação da nave Covenant ruma ao planeta Origae-6 numa missão colonizadora. Mas durante a viagem, um problema técnico na nave obriga a equipe a sair das câmaras por segurança. Com a morte do comandante, todos ficam temerosos em retornar ao sono criogênico por mais sete anos e quatro meses, tempo restante da viagem espacial, decidindo inspecionar o Planeta 4, fonte do áudio captado por eles. Assim, parte da equipe explora o planeta, desconhecendo o perigo do local e as reais intenções de David, que vive sozinho desde a queda da Prometheus, 10 anos antes.

 

Katherine Waterston vive Daniels, a heroína da trama (Foto: Divulgação).

 

Numa tentativa de evitar o mesmo resultado obtido por “Prometheus”, “Alien: Covenant” apara algumas arestas e resgata alguns elementos do clássico, mas isso não é suficiente para torna-lo memorável. Apesar da qualidade superior a de seu predecessor, o novo filme é o que pode ser chamado de mais do mesmo. E isto se deve ao fato de seu roteiro preguiçoso não apresentar nenhum elemento original ou minimamente interessante, além de conter diversas pontas soltas e tramas paralelas sem nenhum desenvolvimento satisfatório.

 

Com isso, a responsabilidade de sustentar este longa coube ao elenco, que faz o que pode diante de um material carente de conteúdo, principalmente os coadjuvantes cujas histórias são ignoradas pelo roteiro porque eles estão ali somente para se tornarem vítimas dos aliens – como Oram (Blilly Crudup), que volta e meia diz que é um homem de fé, mas fé em quê? Ou em quem? Nada é explicado, pois tudo é jogado de qualquer maneira. Dentre todos os atores, os destaques são Katherine Waterston (Daniels) e Michael Fassbender, mas por razões distintas.

 

Guy Pearce e Michael Fassbender: criador e criatura (Foto: Divulgação).

 

Esforçando-se para fazer de Daniels uma personagem com a mesma força que a Tenente Ripley (Sigourney Weaver) nos filmes originais, Katherine Waterston cumpre seu papel direitinho, mas seu esforço é em vão devido ao já citado roteiro preguiçoso de John Logan e Dante Harper, que não explora a complexidade da heroína que perde o marido na Covenant. Enquanto Fassbender oferece mais um trabalho excepcional, explorando com muita competência as características dos androides Walter e David, os únicos personagens desenvolvidos com afinco. O ator consegue conquistar o público com a bondade e lealdade de Walter, ao mesmo tempo em que o amedronta com a obstinação de David em criar o organismo perfeito, desde os primeiros minutos, quando pergunta a Weyland: “Se você me criou, quem criou você?”. E esta busca pela perfeição objetiva levar a plateia à reflexão através do poder de David, que deseja deixar a condição de criatura tornando-se criador.

 

Visualmente espetacular e com sequências de ação frenéticas no terceiro ato, “Alien: Covenant” perde no quesito suspense ao apostar em situações previsíveis na maior parte do tempo, inclusive em seu final, funcionando apenas para atiçar a curiosidade dos fãs em torno do próximo longa que será o responsável por ligar esta nova trilogia a “Alien – O Oitavo Passageiro”. É entretenimento descompromissado que visa o lucro desmedido aproveitando-se de um grande sucesso de outrora, algo cada vez mais comum na indústria hollywoodiana.

 

Assista ao trailer oficial (legendado):

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