‘A Outra Face da Guerra’: ‘guerra não é para meninos’

Pouco explorada pelo cinema, a Primeira Guerra Mundial invadiu as telas de cinema em duas produções distintas em 2019: “1917” (1917 – 2019) e “A Outra Face da Guerra” (Dveselu putenis – 2019, Letônia), que chegou ao Brasil em VoD há poucos dias. Representante da Letônia na corrida por uma vaga entre os finalistas da categoria de melhor filme internacional do Oscar deste ano, o longa é baseado no livro de memórias “Blizzard of Souls” (1934), de Aleksandrs Grins, que foi proibido na ex-União das Repúblicas Socialistas Soviéticas (URSS).

Na trama, Aleksandrs Grins é apresentado como Arturs Valang (Oto Brantevics), adolescente de 16 anos que decide lutar contra os alemães após o assassinato da mãe. Sonhando se tornar um herói da Primeira Guerra Mundial, Arturs é confrontado pela dura realidade do front no qual perdeu pai e irmão. Com isso, o jovem passa a questionar as ações e ordens de seus superiores, sendo considerado traidor por lutar pela retomada e controle da Letônia após a Batalha de Cesis, em 1919.

“A Outra Face da Guerra” aposta no roteiro coeso e bem desenvolvido de Boris Frumin, que não economiza na violência gráfica para retratar o horror do conflito que tirou a vida de mais de um milhão de letões. Com isso, o público é transportado para as trincheiras e, também, para outros pontos que serviram de palco para batalhas, bem como para execuções de soldados que contrariaram seus superiores de alguma forma.

Contudo, ” A Outra Face da Guerra ” chama a atenção por não ser apenas um filme de guerra, optando por trabalhar o lado emocional do protagonista por meio da transformação imposta pelo front, partindo do princípio de que a “guerra não é para meninos”, abordando o amadurecimento de um jovem cujo mundo desmoronou. Neste ponto, a construção de Arturs por Oto Brantevics se torna elemento imprescindível para conceder veracidade à trama de difícil digestão, conduzida com esmero por Dzintars Dreibergs, estreante na direção de longas de ficção.