Para driblar a crise, Daniel Collete cria projeto que leva surpresa e alegria na casa das pessoas

Daniel Collete. Foto SRzd – Bruno Giannelli

Desde o início da pandemia da Covid-19, a grande preocupação dos sambistas é como encontrar fontes de renda para sobreviver. Com o cancelamento definitivo do Carnaval na cidade de São Paulo em 2021, em virtude do agravamento da doença, a apreensão só aumentou.

Considerado pelos amantes da folia como uma das principais vozes da Avenida, o intérprete da Pérola Negra, Almir Daniel Pimentel, conhecido como Daniel Collete, achou uma forma de alcançar um ganho: levar a felicidade do samba para a porta das casas das pessoas, através do #SurpresasFamiliaCollete.

O cantor declarou que a ideia de fazer surpresas nas residências nasceu após o aniversário de sua esposa, a professora Renata Collete.

“No dia 10 de março foi aniversário da minha esposa e ela dá aula há cerca de um quilômetro daqui de casa. Aí um dos meus filhos me disse: ‘poxa pai, vamos levar umas rosas para ela? Vamos esperar a mamãe na porta da escola’. Eu concordei e fomos comprar. Logo depois eu disse para pegarmos o tantã e o pandeiro e irmos cantar umas músicas pra ela na frente da escola. E aconteceu! Eu e meu filho maior tocando e o outro mais novo cantando e filmando. Foi emocionante. A diretora da escola também adorou a ação. Chegando em casa eu pensei: isso é uma ideia boa”, disse o sambista de 58 anos.

O intérprete que já liderou as alas musicais da Mocidade Alegre, Flor de Vila Dalila, X-9 Paulistana, Leandro de Itaquera e Unidos da Ponte, informou que a música surgiu no aniversário de uma das filhas de Renato Remondini, o Tomate, presidente da Dragões da Real, escola que Collete também defendeu.

“Eu tenho mania de fazer música, eu sempre fui assim. Essa musiquinha surgiu no aniversário da filha do Tomate, a Júlia.”

“Daí essa música já virou hino das apresentações que a gente faz. Por incrível que pareça, o primeiro que a gente vendeu foi para um pessoal da ala ‘Pirituba Genival’, da Dragões da Real. Genival nos contratou para o aniversário da sobrinha dele, que também é padrinho dela, a Mariana. Foi muito legal, porque é um pessoal antigo da escola. Foi muita satisfação reencontrá-los”, completou.

Daniel, que também é palestrante e faz diversos eventos, relatou que quando começou a pandemia, imaginou que ela duraria três meses no máximo, mas, com o prolongamento da doença, foi obrigado a partir para o “plano B”. “Foi essa a saída que eu encontrei”, disse.

“Eu eu não canso de dizer que da melhor forma possível a Pérola Negra não me abandonou, mas também não está ganhando dinheiro, não está se fazendo nada, agora que nós vamos fazer uma feijoada [prevista para o próximo sábado] que é mais para movimentar a escola”, explicou o cantor, que defende as cores da “Jóia Rara” desde 2018.

Daniel Collete. Foto SRzd – Bruno Giannelli

Sobre a possível realização dos desfiles das escolas de samba em fevereiro de 2022, o intérprete disse acreditar na possibilidade, mas que o momento político do país atrapalha a ampliação da vacinação da população há tempo hábil.

“Eu sou um cara que acredita sempre. Óbvio que não depende só de mim, e sim dos homens que precisam ser de boa vontade. Acredito que se não tivéssemos essa briga política no Brasil, as coisas poderiam estar muito melhores, porque cada um quer puxar pro seu lado. Acho que os políticos do Brasil perderam a maior oportunidade que eles já tiveram de todos deixarem seus partidos de lado, suas ideologias de lado e se unirem em prol de salvar a população do Brasil”, manifestou.

“Acredito que até setembro estejamos com um número chegando a mais de cinquenta por cento da população brasileira vacinada. Se Deus quiser, as coisas vão melhorar cada vez mais. Eu ainda tenho fé no Carnaval, vamos ver daqui por diante, né? Que a gente não tem bola de cristal”, concluiu o sambista.

Daniel Collete. Foto: SRzd – Cesar Augusto

Carioca de Nilópolis, Daniel Collete começou no mundo do samba na Beija-Flor de Nilópolis, em 1977. Lá foi passista, mestre-sala e ritmista, chegando a fazer parte da direção de bateria. Paralelamente aos desfiles, sempre realizou shows e trabalhos musicais, inclusive com turnê internacional com sua banda em Israel e na Turquia.

Seu primeiro contato com o Carnaval paulistano foi em 1996, quando recebeu o convite do mestre Odilon para participar da gravação do CD com os sambas de enredo de 1997.

No final de 1996, foi convidado por mestre Adamastor para integrar a bateria da X-9 Paulistana, permanecendo na agremiação da Parada Inglesa por três desfiles consecutivos.

Após o Carnaval de 1999, Collete foi convidado pela Mocidade Alegre para ocupar o cargo de diretor de harmonia. A convite da ex-presidente Elaine Cristina Cruz Bichara, que morreu em 2003, integrou o carro de som da escola, iniciando uma trajetória de títulos, prêmios e momentos inesquecíveis, entre 2001 e 2007.

Em 2008, mudou-se para a X-9 Paulistana, onde ocupou o posto de intérprete oficial, por três temporadas. No ano seguinte, assumiu o microfone principal da Dragões da Real, escola onde permaneceu até 2016. Em 2017, defendeu o clássico “Babalotim”, pela Leandro de Itaquera, e no ano seguinte foi contratado pela Pérola Negra.

Importante destacar que em meados de 2015, Daniel, que é um dos intérpretes mais requisitados para concurso de samba-enredo, lançou o disco “Sambalansso”, seu primeiro trabalho musical solo.

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