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‘Não vamos alterar o projeto’, diz Sidnei França sobre o próximo Carnaval da Águia de Ouro

Um dos maiores campeões da “era Sambódromo”, com cinco títulos no Grupo Especial de São Paulo, o carnavalesco Sidnei França concedeu entrevista ao SRzd durante as “12 Horas de Carnaval”. Ao longo do bate-papo, o artista falou sobre os desafios para a montagem do próximo Carnaval da Águia de Ouro, que, em 2020, conquistou sua primeira taça na divisão de elite do samba paulistano.

Sidnei afirmou que o projeto imaginado inicialmente para fevereiro de 2021, depois postergado para o meio do ano, e agora adiado novamente para 2022, em razão da pandemia da Covid-19, não sofrerá alterações.

“Cada escola tem um projeto e um modelo de desfile que pode ou não ser alterado de acordo com essa extensão de mais um ano de preparativos, porém eu vou falar aqui da minha realidade, na Águia de Ouro.”

Nós não vamos alterar o projeto

“Quando a gente escolheu este enredo e quando eu fiz todo o processo criativo, nós já estávamos na pandemia, porque foi em abril, então nós já concebemos um desfile dentro de uma realidade em que a Liga Independente das Escolas de Samba de São Paulo já havia definido que seria um carro a menos. Nós desfilaremos com 4 alegorias, já tinha diminuído o número mínimo de componentes de 2.000 para 1.500. O desfile foi todo concebido para uma situação de exceção e agora com essa alteração que o Carnaval não acontece em 2021, nem no meio do ano, mas sim para 2022, dentro dessa perspectiva, nós não vamos alterar o projeto, a escola vai desfilar da mesma maneira, na mesma estrutura.”

“Acredito que a única diferença é que nós vamos ter mais tempo para ter mais esmero na confecção das fantasias e na decoração das alegorias, porém a estrutura de desfile já foi cristalizada. É um desfile que foi pensado sob medida para a escola na busca de um bicampeonato, então não importa quando ele vai acontecer, mas ele vai ter a mesma estrutura, a mesma proposta narrativa e a mesma materialidade no sentido estético da palavra”, disse.

Desfile 2020 do Águia de Ouro. Foto: SRzd – Ana Moura

O carnavalesco, que no próximo ano vai assinar o enredo “Afoxé de Oxalá – No ‘Cortejo de Babá’, Um Canto de Luz em Tempo de Trevas”, explicou como funciona a criação do desenvolvimento do enredo na Avenida e afirmou que se for para ter um aumento de componentes no próximo Carnaval, será dentro das próprias alas.

Se chegar ao extremo de falar para aumentar componentes, será dentro da ala

“Para quem não conhece como funciona a esse processo, esse ‘start’ de um Carnaval, quando nós escolhemos um enredo, passamos por um processo criativo, então você vai fazer as acomodações estéticas de acordo com a narrativa, e se a narrativa foi modelada para quatro alegorias. Depois para você fazer uma alteração na linha discursiva do enredo; poder apresentar mais alegorias, mais alas, você começa a desencadear uma série de desdobramentos que envolvem a pesquisa, envolve o próprio processo criativo e isso pode gerar até inconstância entre o que o samba canta e o que a escola apresenta de uma maneira estética visual. Se chegar ao extremo de falar para aumentar componentes, será dentro da ala. Se for uma ala de 80 pessoas, passa a ser de 100; uma de 70 pessoas passa a ser de 90, porém sem quebrar a estrutura da narrativa, da quantidade de alas e de alegorias”, explicou.

Desfile 2020 do Águia de Ouro. Foto: SRzd – Ana Moura

França, que contabiliza passagens por Mocidade Alegre, Unidos de Vila Maria e Gaviões da Fiel, explanou a situação em que se encontrava o barracão da escola da Pompeia no mês de fevereiro.

“Aqui a gente passou a trabalhar no barracão no mês de novembro, foi quando a Prefeitura de São Paulo deu uma previsão de Carnaval no meio do ano, e totalmente já na realidade da pandemia. Com base na perspectiva, começamos com pouquíssimas pessoas e até hoje estamos trabalhando nas esculturas, na estruturação de ferragens do carro abre-alas. Ainda está num processo vagaroso, mas estamos trabalhando, já estamos reproduzindo as alas”, contou.

Desfile 2020 do Águia de Ouro. Foto: SRzd – Bruno Giannelli

Questionado se o próximo Carnaval será mais “luxuoso”, o sambista destacou que a pandemia da Covid-19 ainda terá um forte impacto nas contas das agremiações. Ele acredita também que os desfiles vão ter um acabamento maior por causa do tempo a mais que as escolas terão em seus cronogramas.

“Eu diria que tende a ser um Carnaval mais bem acabado, porque você consegue ‘namorar’ as alegorias e fantasias, consegue tomar cuidado com detalhes. ‘Luxuoso’ significa investimento financeiro, e em época de recessão, de pandemia, não necessariamente você ‘ter tempo’ quer dizer que ‘você tem luxo’. Você consegue fazer um trabalho requintado no sentido do esmero com acabamento, agora luxuoso significa que vai ter dinheiro dentro das escolas para comprar o material nobre e caro e aí você começa ir na contramão, porque pode não ter patrocínio. Quando a gente fala ‘patrocínio’, a pessoa já imagina milhões, então vamos levar para o campo do apoio cultural: uma pequena empresa, um apoiador que ajuda a escola pode também não ter [dinheiro] devido à pandemia, porque a crise chega para todos, então nós já projetamos um Carnaval mais escasso. Nesse sentido de verba, vai ser tudo muito mais difícil”.

O sambista ansioso tem que segurar um pouco essa palavra ‘luxo’

“Além disso, vai ter que diminuir o número na mão de obra. Primeiro, por segurança, e segundo, por custo também. As equipes vão ser mais enxutas em todas as escolas, então não dá para falar que vai ser um Carnaval mais ‘luxuoso’. Provavelmente vai ser um Carnaval mais bem acabado. Até porque nós já estamos com dificuldade para encontrar material importado. O sambista ansioso tem que segurar um pouco essa palavra ‘luxo’, porque luxo significa investimento e ‘tempo’ não significa dinheiro”, afirmou.

Desfile 2020 do Águia de Ouro. Foto: SRzd – Cesar R. Santos

Por fim, o artista ilustrou como funciona a precificação dos materiais utilizados no mercado: “Existe uma questão chamada de ‘demanda de mercado’. Conforme começa a ficar escasso determinado material, o preço sobe, pois existem mais pessoas querendo aquele material e, às vezes, até dispostas a pagar um pouco mais para ter esse privilégio de ter aquele determinado material. Então as lojas começam a subir o preço vendo que a oferta e a demanda estão desequilibradas. Paga mais quem tem mais cacife. É uma série de questões que a gente tem que observar. Nem todas as escolas de samba têm uma saúde financeira razoável para poder antecipar compra de material, depende de crédito, depende do famoso ‘fiado’, essa é a grande verdade. Então a gente tem que tomar muito cuidado com a relação tempo versus grana para poder montar esse próximo Carnaval”.

A trilha sonora do desfile da azul e branca para 2022 leva a assinatura de Dominguinhos do Estácio, Jorginho Moreira, João Perigo, Lico Monteiro, Leandro Thomaz, Telmo Augusto, Lucas Valentin, JotaPê, Lanza RafaBerê, Araken Kaoma, Solano Laranjo, Serginho Rocco, Rosali Ahumada Carvalho, Lequinho, Júnior Fionda, Dedé, Rafael Santos, Chocolate, W. Corrêa, Vieira e Rafa Machado. Clique aqui para ouvir.







Redação SRzd

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