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Funcionários da EBC relatam censura na cobertura da pandemia

A deputada federal Sâmia Bomfim, do PSOL-SP, protocolou, na última quarta-feira (3), um requerimento para que o ministro das Comunicações, Fábio Faria, seja convocado a prestar explicações na Câmara sobre as denúncias de censura e blindagem ao governo na Empresa Brasil de Comunicação (EBC).

A parlamentar quer que Farias responda, especificamente, sobre as denúncias de negligência e direcionamento editorial enviesado no sentido de proteger o governo na cobertura da pandemia de Covid-19 nos veículos da empresa, que é vinculada ao Ministério.

A EBC, que mantém, por exemplo, a Agência Brasil, a TV Brasil e a Rádio Agência Nacional, é uma empresa pública que, por lei, deve ser educativa, informativa e científica.

Um relatório apresentado por jornalistas da casa no dia 12 de fevereiro, entretanto, aponta uma série de orientações que configurariam censura. Eles denunciam, por exemplo, que os veículos da EBC não deram destaque ao evento que marcou a vacinação contra a Covid-19 da primeira brasileira ou ao colapso de saúde e à falta de oxigênio em Manaus.

“A empresa negligencia, ainda, a cobertura da pandemia de Covid-19, dando dados descontextualizados e não acompanhando a evolução da doença no Brasil”, diz um trecho do relatório dos funcionários, que foi encaminhado ao Ministério das Comunicações.

Trabalhadores da empresa relataram situações que soam ainda mais graves no ponto de vista da independência jornalística. Esses relatos dão conta, por exemplo, de que já existiram situações em que pesquisas que mostrariam a evolução da Covid-19 no Brasil chegaram a ser vetadas. Isso teria acontecido com um estudo da Imperial College, da Inglaterra, sobre a transmissibilidade da Covid-19. “A gente chegou a dar quando estava em queda, quando começou a subir paramos de dar”, revelou um jornalista.

A blindagem também estaria acontecendo através da filtragem de notícias que envolvam críticas de opositores a Jair Bolsonaro e orientações para só dar destaque a um adversário político do governo se for para compor uma pauta “negativa”. “Citar o João Doria [governador de São Paulo] só se for para ter matéria negativa sobre ele”, exemplificou um funcionário.

Para Sâmia Bomfim, as explicações de Fábio Faria são necessárias pois, “pelas denúncias, parece não existir planejamento na cobertura jornalística sobre a crise sanitária que vivemos”.

“Uma empresa pública de comunicação não pode dar destaque sempre à agenda do governo, negligenciando o fato jornalístico mais importante do Brasil desde março de 2020”, completa a parlamentar.

Um outro jornalista da EBC ouvido pela reportagem da Fórum confirma que a empresa pública direciona sua cobertura à agenda oficial de Jair Bolsonaro e seus ministros e encampa seus discursos, os blindando das críticas e diluindo a cobertura da pandemia em anúncios institucionais e números frios que, segundo ele, “criam uma narrativa de que a situação não é tão problemática”.

“Existe um governismo instaurado que protege a ineficiência do combate ao Covid-19. É uma cobertura propositalmente desumana”, pontuou, exemplificando que nesta cobertura não há, por exemplo, a presença de rostos, nomes e histórias dos infectados e vítimas da doença.

“Num cenário de aumento dos casos de contaminação, onde a vacinação caminha a passos lentos – seja pelo atraso na compra de insumos, seja por tropeços grotescos de logística -, todos os veículos de comunicação de relevância assumem papel estratégico no combate à disseminação do novo Coronavírus, notadamente por meio do compartilhamento à população de informações e métodos de prevenção ao contágio”, destaca Sâmia ao justificar o requerimento para que o ministro das Comunicações seja convocado a se explicar.

No requerimento, a deputada do PSOL faz dez perguntas ao ministro sobre as denúncias de governismo e censura na EBC. A convocação ainda precisa ser aprovada pela Mesa Diretora da Câmara.

“Comprovada veiculação de informações em prejuízo do combate ao novo Coronavírus pela EBC permite supor a existência de um sinistro pacto negacionista em desfavor da população”, escreve a congressista.

Até a publicação desta reportagem, o Ministério das Comunicações não havia se posicionado sobre as denúncias.







Redação SRzd

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