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Na despedida da Avenida Tiradentes, o adeus ao Carnaval do povo

Desfile na Avenida Tiradentes 1988. Foto: José Monteiro

Odirley Isidoro publica mais um texto em sua coluna no portal SRzd.

Natural de São Paulo, nasceu no bairro do Parque Peruche, na Zona Norte da cidade. Poeta, escritor, pesquisador e sambista. Ao longo de sua trajetória, foi ritmista das escolas de samba Unidos do Peruche e Morro da Casa Verde, além de ser um dos fundadores da Acadêmicos de São Paulo.

As publicações são semanais, sempre às terças-feiras, na página principal da editoria do Carnaval de São Paulo. Leia, comente e compartilhe!

Na despedida da Avenida Tiradentes, o adeus ao Carnaval do povo

Em 26 de fevereiro de 1990 as cores explodiam em nossos olhos com a luz do sol matinal.

Nas bancas de jornal “pipocavam” as matérias sobre as noites de folia. Entre as propagandas da época e os problemas da cidade, o Carnaval era a capa das principais mídias e vinha recheado com tudo que se pode imaginar de convite para curtir os Bailes no Palace e demais clubes, além da ressaca pós noites de folia na Avenida Tiradentes.

Dias antes dos desfiles de momo, Joãozinho Trinta disse: “São Paulo está a caminho de ter um excelente Carnaval. Afinal, a cidade se transformou em um verdadeiro país e tem tudo para fazer um espetáculo”.

Todas as escolas se preparavam para trazer inovações, o perfume do Carnaval ganhava requintes de lembrança como aquele aroma de alfazema que nossas avós usavam e ficavam no ar.

Nós teríamos naquelas noites a certeza de evolução desde a Avenida São João, mas com a mensagem que o evento trazia: “Carnaval do povo para o povo”.

Sem percebermos, ali nascerá um ritual de adeus ao negro piso da Tiradentes e suas infinitas arquibancadas de madeira, as famosas aglomerações e cordões policiais na cabeceira da pista para as escolas poderem desfilar, o trânsito maluco de pessoas e carros alegóricos no centro da maior cidade do país e aquele rastro de espelhos, lantejoulas, paetês! Saudade!

Quando a massa alvinegra dos Gaviões da Fiel pisou na Avenida às 21h com o sempre jovem Ernesto Teixeira, que na época era “Ernesto dos Gaviões”, eles não imaginavam que estavam contando não apenas a história baseada em Ícaro, sobre o homem e o desejo de voar, eles estavam abrindo as asas para um momento de modernização de nosso Carnaval.

Todos os conceitos que foram usados desde a oficialização em 1968 se encerrariam ali, abrindo precedentes para um formato mais luxuoso, mais artístico, mais teatralizado, mais visual.

Ao passar de cada escola naquela chuvosa noite se via a comunhão entre as pessoas, seja para dividir um guarda-chuva, tomar um copo de café ou comer um frango assado.

Era o momento de confraternizar, afinal, os ingressos já tinham um preço “salgado” e as pessoas suavam muito para estar ali.

Entre tanto luxo e tanta riqueza que a Avenida apresentava, o destaque principal fora a rigorosa chuva que estragou os planos das escolas em mostrarem toda a evolução.

Os 20 mil foliões, que encharcados encaravam aquela madrugada, tentavam animar a arquibancada daqueles mais de mil metros de Avenida, e a plateia cantava para ajudar.

Mas o tempo fora cruel demais naquela noite…

Graças à Santa Cecilia, a Deusa da Música, os compositores nos abençoaram com um dos melhores LP´s de samba-enredo do final dos anos 80, com letras ricas em poesia e refrões de fácil assimilação. O público cantava a plenos pulmões, mesmo com tanta adversidade, afinal, isto faz parte do DNA do sambista: adversidade.

O relógio se arrastava pela madrugada e o sol começava a despontar após o “fuzuê” mostrado pelo Vai-Vai e a celebração ao Deus Baco e os antigos Carnavais que a Unidos do Peruche trouxe. Mesmo com a motivação da Mocidade Alegre, restou ao Camisa Verde Branco fechar com glamour e “cheiro de café” aquele que seria um ano mágico, mas São Pedro não quis.

Porém, o que ninguém reparou, foi que a cada bye bye ecoado por Agnaldo Amaral ao final do desfile do “Trevo da Barra Funda”, nós nos despedíamos da simplicidade e harmonia do povo nas arquibancadas, da cadência das baterias, do talento primoroso dos carnavalescos na concepção de seus enredos criativos e, principalmente, dos poéticos sambas-enredos.

Bye bye 1990, bye bye Avenida Tiradentes!

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