Leia a sinopse do enredo da Acadêmicos do Tucuruvi para o Carnaval 2024

Logotipo do enredo 2024 da Acadêmicos do Tucuruvi. Foto: Divulgação/Tucuruvi

Logotipo do enredo 2024 da Acadêmicos do Tucuruvi. Foto: Divulgação/Tucuruvi

No Carnaval de 2024, a Acadêmicos do Tucuruvi levará para Avenida, no encerramento da segunda noite de desfiles do Grupo Especial, no sábado, dia 10 de fevereiro, o enredo “Ifá”. O desenvolvimento ficará por conta dos carnavalescos Dione Leite e Yago Duarte e pelos pesquisadores Vinícius Natal e Renato Carvalho.

Dione assinará seu quinto trabalho consecutivo na agremiação da Cantareira. Já Yago, segue para seu segundo Carnaval. Antes disso, ele já operava há quatro anos como projetista de alegorias e assistente dos carnavalescos.

Na noite desta segunda-feira (22), a escola realizou a explanação do enredo aos compositores interessados em participar do concurso de samba-enredo.

 

Concurso 

Diferente dos dois anos anteriores, quando a diretoria optou por encomendar a trilha sonora para o desfile, a escola da Cantareira voltará a realizar eliminatórias, que serão divididas em três fases: audições internas, semifinal e final.

Confira o calendário:

* 22/5 – Explanação do enredo na Fábrica do Samba às 20h30;

* 20/6 – Tira-dúvidas com compositores na Fábrica do Sambaàs 20h ou através do e-mail ([email protected]);

* 11/7 – Entrega dos sambas concorrentes Fábrica do Samba das 19h às 22h;

* 30/7 – Semifinal

* 6/8 – Final


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Leia a sinopse

I

Sou a boca que tudo come, esplendor da criação. Comunico! Provoco! Transbordo e teço encruzilhadas – do bem e do mal, a depender de quem vê e caminha. Contarei a vocês a história de Ifá. Ẹnugbárijọ, sigo deglutindo e despejando ìtán, vazios, pedaços, laços no espaço. Hoje, o Anhembi é minha estrada. Reverberem meus passos, minha voz. Rasguem o verbo pois eu sou vocês! Sou humano, sou Èṣù!

II

O nada, avesso de tudo! Espelho do universo infindo, escuridão profunda. Um dia, ali, Olódùmarè despertou. Agito, borbulhas. Fagulhas! De um punhado de estrelas e do brilho dos planetas um espasmo se fez. Estrondo! Tremor! A Terra se fez cabaça – Igbádù, existência – e a natureza se criou. E de minha amizade sincera com Orunmilá, nascia a resposta de todo o sempre: Ifá! É ele quem reina sobre a terra. É ele quem sabe de todas as respostas.

III

O sol despontava em Ilé Ifẹ̀, morada criadora dos Òrìṣà. Foi na poeira do deserto que Ọ̀rúnmìlà ensinou aos seus filhos a filosofia do bom caráter, a arte da adivinhação, a paz de todos os caminhos. Na verdade dos Ikin – Dendê que embrasa! – Odú revelavam o futuro e conectavam ao Ọ̀run, habitar sagrado dos deuses. A ancestralidade, nas melodias do Ìrofá, mostrava que o caminho da felicidade é de todos. Segredos revelados, fundamentos plantados. Do berço YorùbáIfá partiu para espalhar sua magia sobre todo o planeta Terra, pois era hora da humanidade conhecer a verdade.

IV

Se a travessia se deu pela dor a redenção se deu pela fé. Com Ifá reinventado em terras distantes, Bàbáláwo e Ìyápẹ̀tẹ̀bí , homens e mulheres sabedores dos segredos, assentaram o àṣẹ nos muitos cantos das Américas. Lucumís, Vodus, Candomblés e Encantarias transformaram um oceano de incertezas no renascimento de memórias adormecidas nas águas do atlântico. Gira a gira Salvador, e corações inundados de saudade espalharam o espírito por muitos diferentes lugares. E foram, esses, os primeiros passos para que o Ilé-Brasil se tornasse a morada de Ifá para toda o sempre.

V

Água, terra, fogo e ar! A ligação de Ifá com os quatro elementos naturais fez com que sua essência não morresse e suas raízes se mantivessem de pé, em terras brasileiras, até hoje. Pelos olhos do Ọpọ́n Ifá – que é divido em quatro, um para cada elemento – é possível enxergar vidas e caminhos onde os Odú ensinam sobre a dor e a delícia que é o Ser Humano. A partir da correnteza das águas, é possível entender que, apesar das dificuldades, é necessário seguir a vida como o fluxo de um rio que nunca cessa, sempre avança. O arder do fogo ensina que é preciso ter calor pela vida, mas com enorme cuidado para que as labaredas não se voltem contra o próprio humano. O ar, livre e exuberante, mostra que a liberdade de ir e vir é um direito supremo. E a terra, que dá alimento e sustenta, faz parte da energia vital que conecta os homens às suas profundezas. A partir de oferendas aos Òrìṣà e dos mandamentos de Ifá, interpretados com base na filosofia da natureza, a humanidade aprende como a vida deve ser harmônica e respeitosa entre todos os seres – lição, essa, ainda não compreendida por muitos.

VI

Ọ̀rúnmìlà, divindade da sabedoria, oferece a paciência enquanto virtude que permite compreender as diferenças e respeitá-las…Respeitar é lei! É hora do povo de axé vestir seu branco, manifestar sua fé e lutar contra a intolerância religiosa. Baianas, em memória das eternas Ìyá, giram e movimentam o vento dos antepassados para lembrar da força do matriarcado afro-brasileiro em defesa da livre expressão. Mo júbá! Respeitos à Velha Guarda, detentora da sabedoria moldada pelos percalços da vida! Saudamos os que pavimentaram o caminho até aqui e a sabedoria que o tempo ensina! Às nossas crianças, pequenos Ikin, acreditamos na continuidade da luta, na manutenção das histórias e do legado dos que vieram antes. Há de amanhecer um novo dia! Os sonhos não sucumbirão!

E é por minha amizade com Ọ̀rúnmìlà que seguimos resistindo e ensinado que a vida pode ser bela, apesar de tanta intolerância. É caminhando e marchando que se encontra uma direção que libertará, de vez, os nossos sagrados. Cantemos Ifá e o respeito a todas as religiões de matriz africana pois “O futuro é ancestral”. E nunca se esqueçam de uma coisa: Eu sou o caminho! Sou Èṣù, aquele que, em cada encruzilhada, celebra o Brasil como seu filho.

ÀṣẹMo júbá. Avante, Tucuruvi! Que o sacrifício seja feito, aceito e manifestado.

Carnavalescos: Dione Leite e Yago Duarte

Texto: Vinícius Natal e Renato Carvalho

Pesquisa: Dione Leite, Renato Carvalho, Yago Duarte e Vinícius Natal

Agradecimentos: Chief Aro Awo Àgbayé Ajala Akanni, Chief Awolowo Akanni Amore Awo Àgbayé, Admula Ilê Asé Esú Oya – Palacio de Esú, Eminência Àràbà Àgbayé e Okitasé, Luiz Antônio Simas e Luiz Rufino.

GLOSSÁRIO DE PALAVRAS EM YORUBÁ

(Por ordem de aparição)

Ẹnugbárijọ (Enuguibarijó) = Qualidade de Exu que representa “a boca que tudo come”.

Ìtán (Itãn)Histórias contadas e vividas pelos Orixás. Sempre passam uma mensagem final ao expectador.   

Igbádù (Iguibadú) = Elemento do culto de ifá, assemelhando-se a uma cabaça, em que mora o princípio gerador de Ifá e do mundo. Lá moram os segredos mais profundos de Ifá.

Ilé Ifẹ̀  (Ilê Ifé) = Cidade sagrada para os Yorubás que ficav localizada na atual Nigéria. Considera-se que nela surgiram a humanidade e os orixás.

Ọ̀rúnmìlà (Orunmilá) = Divindade que se confunde com o próprio Ifá, pois é quem comanda os destinos dos homens e do mundo.

Ikin  = Caroço seco do dendezeiro usado nos assentamentos de Ifá

Odú = Significa destino e é a base do sistema de Ifá. É através dos odus que se lê, no Ifá, os caminhos dos seres humanos pelos quais ele passa e está predestinado.

Ọ̀run (Orun) = Define o “céu” na cosmogonia Yorubá, o paraíso espiritual. Se dá em contraposição ao Àiiê (plano terreno).

Ìrofá (Irofá) = Sineta em formato cônico utilizada pelo olhador para invocar as divindades

Bàbáláwo (Babalaô) = É o líder espiritual no culto de Ifá.

Ìyápẹ̀tẹ̀bí (Yapetebí) = A esposa do Bàbáláwo, também conhece os segredos de Ifá. Porém, não pode iniciar e nem consultar o oráculo de Ifá.

Ilé (Ilê)= Casa, morada.

Ọpọ́n Ifá (Oponifá) = Bandeja de madeira na qual são desenhados os símbolos dos Odú que aparecem no Oráculo conforme a caída do Ọ̀pẹ̀lẹ̀.

Ọ̀pẹ̀lẹ̀ (Opelê ou Opelé) = Espécie de rosário no qual são atadas sementes do dendezeiro

OUTRAS PALAVRAS EM YORUBÁ

Irùkẹ̀rẹ = Espécie de rabo de cavalo que representa Ọ̀rúnmìlà

Ìlẹ̀kẹ̀ Ifá =Fio usado no pescoço

Idẹ Ifá = Pulseira usado por iniciados

Òkété = Ratazana, Rato grande. Mesmo que ewú. Tipo de roedor selvagem utilizado em certas prescrições de ẹbọ de Ifá.

Fìlà = Chapéu usado por homens

Ìbó =Instrumento usado no jogo de Ifá para fazer perguntas.

 BIBLIOGRAFIA

BENISTE, José. Dicionário yorubá-português. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 2011.

JAGUN, Márcio de. Orí: a cabeça como divindade. Rio de Janeiro: Litteris, 2015.

_________________ Yorùbá: vocabulário temático do candomblé. Rio de Janeiro: Litteris, 2017.

________________ Ewé: a chave do portal. Rio de Janeiro:  Litteris, 2019.

LOPES, Nei. Enciclopédia Brasileira da Diáspora Africana. 4 ed. São Paulo: Selo Negro, 2011.

LOPES, Nei. Ifá Lucumi: o resgate da tradição. 1 ed. Rio de Janeiro: Pallas, 2020.

SIMAS, Luiz Antonio; RUFINO, Luiz. Fogo no mato: a ciência encantada das macumbas. Rio de Janeiro: Mórula, 2018.

ARTIGOS

“O Futuro é Ancestral” – Katiúscia Ribeiro, 19 de novembro de 2020; https://diplomatique.org.br/o-futuro-e-ancestral/

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