Ernesto Teixeira recorda início na Gaviões, cita momentos marcantes e conta desejo de aniversário

Ernesto Teixeira. Foto: SRzd – Bruno Giannelli

A história da Gaviões da Fiel se confunde com o intérprete Ernesto Teixeira. No Carnaval de 2022, o cantor vai completar 37 anos à frente do carro de som da “Torcida que Samba”.

Nesta quarta-feira (1º), dia em que o Sport Club Corinthians Paulista completa 111 anos, o sambista faz 57 anos de idade. Confira a primeira das três partes da entrevista especial que o cantor concedeu ao SRzd.

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Ernesto chegou na agremiação pela Torcida Organizada, no final dos anos 70. Muito jovem, com idade entre 15 e 16 anos, passava os sábados na sede, jogando bola, mas ao anoitecer voltava pra casa. Nos primeiros anos, não conseguia frequentar as atividades do bloco, que normalmente ocorriam aos sábados, sempre a partir das 22h.

Em 1981, conseguiu a “independência” e passou a ir aos jogos do Timão fora de São Paulo e também a frequentar os eventos do Bloco.

Ernesto Teixeira. Foto: Divulgação

“Desfilei pela primeira vez neste ano de 1981 na ala do Ari, responsável pela minha ida aos Gaviões, uma vez que morávamos perto, na região da Vila Brasilina, e sempre nos encontrávamos no fundo da linha de ônibus Vila Moraes/Estação Saúde do Metrô”, disse.

Teixeira revelou que no ano seguinte repetiu que para desfilar era necessário vender convites da festa do Chopp, que tradicionalmente acontecia a uma semana do desfile.

“Nesse período já passei a me interessar pelo ritmo e acabei aprendendo a tocar nas aulas que os Gaviões mais velhos ministravam aos sábados à tarde na quadra. Meus professores foram o Nelsinho da Velha Guarda (repinique), o Branca e o Eli (tamborim), Luiz Carlos e Jogador (caixa), Paulinho Arapirica e Clay (surdo), entre outros”, recordou.

“Ao mesmo tempo em que aprendia a tocar, já desfilando pela ‘Ritimão’ em 1983 e 1984, também arriscava soltar a voz junto com a ala musical, na época tendo como professor o saudoso Armando da Mangueira e. em seguida, o Thobias, a quem sucedi, quando ele se definiu pela Vai-Vai. De supetão, fui lançado pela diretoria, composta por Angelo Fazanela, Luiz Antonio Achoa Mezher (Magrão), Luiz Carlos Caldarone (Fiscal), Avelino Leonardo Gomes (Bigode), Carlos Tadeu Gomes (Miranda) e José Lucas Amaral da Silva (Lucas), como o intérprete oficial”, relembrou.

Luiz Antônio Achoa Mezher (ex-presidente da Gaviões) e Ernesto Teixeira. Foto: Arquivo pessoal

O sambista fez questão de destacar que ouvir a voz do saudoso intérprete Armando da Mangueira (1937 – 2000), na época de bloco da agremiação, foi “uma escola que não tem preço” e que até hoje busca inspiração no cantor.

Sobre a sua chegada à liderança do carro de som, a “voz da Fiel” disse que o fato aconteceu num desfile de bairro de 1984.

“Falaram para pegar o cara que canta no fundo dos ônibus das caravanas dos jogos. O Avelino foi me buscar na bateria pra que eu puxasse o samba no desfile de rua na Penha. Mas, além de cantar, o Avelino disse que o puxador tinha que estar de paletó e então ele me emprestou o dele, que era alguns números maior que o meu tamanho. E assim lá eu fui dando aquele grito: ‘Alô, povão da Penha-Lapa!’. Pode rir, Penha-Lapa mesmo. O motivo é que no calor da emoção, me esqueci onde estávamos e pra não deixar ninguém desagradado, logo convoquei quem estava na Penha e quem estava na Lapa! Tudo pertinho (risos)”, relatou.

“Assim, os anos foram se sucedendo e muita coisa aprendi nesse importante ofício de conduzir na voz a Fiel Torcida no Carnaval paulistano”, continuou.

Ernesto Teixeira. Foto: SRzd – Fausto D’Império

Em tantos anos de Carnaval, o cantor diz que não se arrepende de nada em sua trajetória: “Acredito que todas as decisões, todos os caminhos escolhidos foram os melhores em cada momento. Até mesmo quando choramos”.

Em 40 anos de agremiação, ele também listou alguns dos momentos especiais: “As primeiras vezes, na ala, na bateria, na ala musical, depois como compositor, como administrador. Os títulos como bloco e como escola de samba. Os revezes como a quebra do carro alegórico em 2004, que nos tirou o tricampeonato. Mas acredito que o principal ainda está por vir! Pois é assim que me vejo nos Gaviões, sempre pensando em um dia melhor que o outro”.

Questionado sobre que o Carnaval lhe ensinou, o sambista ressaltou a “importância de respeitar as diferenças e a entender que nem todos pensam da mesma forma sobre o mesmo assunto”.

“Saber ouvir é o melhor caminho para as conquistas! Não diria o Carnaval, mas os Gaviões, de forma geral, foram a minha grande escola de vida. Aqui encontrei pessoas de todas as formações, intelectuais, gente rica, gente pobre, financeiramente falando”, disse.

Por fim, Ernesto destacou qual presente gostaria de ganhar neste dia 1º.

“Individualmente, uma oração, um pensamento positivo, pra que eu possa seguir na mesma linha, sempre pensando no bem do todo antes do próprio. Para o mundo, mesmo que seja utópico, o presente que desejo é a paz, a cura das enfermidades, o acolhimento para quem está em situação de vulnerabilidade pelas ruas. Que as pessoas se conscientizem que o bem material sem a fé não tem valor! Que todos tenham um grande Carnaval, com belos enredos, sambas e fantasias!”, finalizou.

Ernesto Teixeira no Carnaval 2002. Foto: Arquivo pessoal

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