Rola ou não rola? Carnavalescos opinam sobre desfiles no meio do ano

Desfile da Beija-Flor 2020. Foto: Riotur

É certo que a Liesa anunciará o cancelamento dos desfiles de fevereiro na plenária desta quinta-feira (24). A questão maior é quando acontecerá o Carnaval 2021 – e se de fato ele acontecerá mesmo ano que vem. Para o presidente da liga, Jorge Castanheira, adiar os desfiles para o meio do ano é problemático, pois esbarra em outros eventos, como São João e Parintins, e atrasaria o preparo para 2022. O SRzd foi conversar com quem faz a festa e ouviu a opinião de alguns carnavalescos sobre o assunto.

Não seria confortável fazer um Carnaval em quatro meses

Atual campeão do Carnaval, Marcus Ferreira, que assina a Viradouro ao lado de Tarcisio Zanon, concorda que seria difícil projetar um desfile para o meio do ano. Além do tempo curto de trabalho, o carnavalesco ressaltou a questão com os artistas do Festival de Parintins, que de março a junho estarão ocupados nos galpões de Garantido e Caprichoso.

“O planejamento se os desfiles serão em julho ou 2022 vai vir dessa reunião. A liga tem se posicionado muito bem: só pode ter Carnaval havendo vacina. Mas podemos projetar um Carnaval pensando nos profissionais que precisam dele para sobreviver. Pensando numa vacinação em janeiro/fevereiro e iniciando os trabalhos em março, não seria confortável fazer um Carnaval em quatro meses, mas se a liga bater o martelo para julho, é claro que faremos.”

Marcus Ferreira, Marcelinho Calil e Tarcisio Zanon na comemoração do título da Viradouro em 2020. Foto: Divulgação

Alexandre Louzada, da Beija-Flor, não vê problemas em emendar dois carnavais num período de oito meses e ainda disse acreditar que todos os carnavalescos embarcariam na aventura com prazer. Louzada, por sinal, já desenhou fantasias e alegorias para o próximo desfile da azul e branca, independente de quando acontecerá.

“Se existe a questão de que não é possível fazer um Carnaval em cima do outro, supondo que adiasse o de 2021, para o carnavalesco não é problema nenhum. É questão de se organizar. Esse tempo elástico que estamos tendo de criação uma hora vai acabar, mas nossa mente não para. Toda vez que um artista acaba sua criação, ele automaticamente já está pensando em outra”, afirmou.

Por que um escritório de contabilidade pode voltar a funcionar e um barracão não?

Quem também acredita que o tempo entre um desfile no meio do ano e outro em fevereiro é suficiente para preparar um Carnaval é Lucas Milato, da Inocentes de Belford Roxo. Ele falou das dificuldades que os profissionais do setor têm passado. Vale lembrar que várias escolas precisaram dispensar funcionários e reduzir salários durante a pandemia.

“Por que um escritório de contabilidade pode voltar a funcionar respeitando os critérios de higiene e um barracão de escola de samba não? Se a gente conseguir condições de fazer desfiles em junho, sou a favor. Espaço para adaptação nos barracões a gente tem. Estamos falando de ferreiros, costureiros, desenhistas, pintores, aderecistas, escultores, carnavalescos, intérpretes, diretores, uma infinidade de pessoas que dependem disso pra viver.”

Alexandre Louzada vai para seu segundo ano à frente da Beija-Flor desde que voltou em 2019. Foto: Eduardo Hollanda/Beija-Flor

Carnavalesco do Império da Tijuca, Guilherme Estevão sabe que a situação financeira na Série A é duas vezes pior que no Especial. Mesmo assim, torce para que os desfiles aconteçam em 2021, desde que haja segurança sanitária. Para ele, é uma questão de afirmação da festa como motor cultural e econômico.

Não ter Carnaval significa não ter R$ 3 bilhões injetados na economia do estado

“Tendo previsão de vacina para janeiro/fevereiro, sou a favor, sim, de ter Carnaval no meio do ano. Não ter Carnaval significa não ter R$ 3 bilhões injetados na economia do estado. Quantos trabalhadores estão sem ganhar recursos para pagar suas contas? Ter Carnaval no meio do ano e depois em fevereiro é uma questão de ajuste. Não necessariamente os desfiles precisam ter a mesma quantidade de itens do ano passado”, disse o artista.

Gabriel Haddad, vice-campeão pela Grande Rio ao lado de Leonardo Bora, foi outro que ressaltou a importância das escolas de samba empunharem seus pavilhões em 2021, mesmo que no meio do ano. O carnavalesco também levantou possibilidades de live e desfiles com enredos reeditados.

“A gente precisa demarcar o espaço do Carnaval e da cultura popular, porque que vivemos um asfixiamento dessas manifestações, tanto no setor municipal, quanto federal. Não sei se em fevereiro teremos condições disso, por questões de saúde pública, mas vejo uma grande possibilidade das escolas se reinventarem e de repente fazerem uma live em fevereiro e um Carnaval fora de época, talvez até com reedições.”

Leonardo Bora e Gabriel Haddad são os carnavalescos da Grande Rio. Foto: Mario Grave










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