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Na vanguarda, com sabor e calor; leia a entrevista de Leandro Vieira ao SRzd

Por Rodrigo Di Mase
Colaboração: Igor Peres (assessoria de imprensa da Imperatriz Leopoldinense)
Entrevista com Leandro Vieira – abril/2024

Rio. Não, não trago novidades. Relato o óbvio já reconhecido: Sim, temos um grande artista. A primeira, e única vez em que estive pessoalmente com Leandro Vieira, foi na quadra da campeoníssima Mocidade Alegre, no já distante 2017. Naquela noite, ele dividia atenções com Paulo Brasil, Carlinhos e Neide Lopes. Junto desse trio, Vieira assinou o enredo da escola inspirado no bordão de sua vitoriosa e icônica presidente, Solange Cruz; ‘A vitória vem da luta, a luta vem da força, e a força, da união’. Mesmo novato, já era um nome de impacto no meio carnavalesco, afinal, tinha sido campeão pela Estação Primeira no ano anterior (relembre a entrevista de 2017):

Não sei se ele estava tão confortável na ocasião, afinal, o ambiente era novo. Embora a Mocidade tenha raízes cariocas no seu nascedouro, a Morada do Samba, sempre de braços abertos e de laços profundos com sambistas de toda a parte, tem muito da disciplina e do jeitão paulistano de ser.

Esse cenário, no entanto, não foi decisivo para essa rápida e única passagem dele por São Paulo. A nata carioquisse saborosa que ele comunica; no olhar, na fala, nos tuítes que fazem pensar e no estilo que se reflete no produto da sua arte, somariam profundamente ao caldo cultural produzido pelos grêmios da folia paulista. E ele mesmo explicou como foi essa experiência, ao conceder entrevista, em 2022, ao Roda Viva, da TV Cultura, onde dá pistas de sua ausência sentida na ponte aérea partindo do Rio (assista ao vídeo):

Leandro furou a bolha, essa sempre citada bolha do Carnaval, no Rio, em São Paulo, no país todo. Que venham outras oportunidades para podermos perguntar e refletir com o carnavalesco da Imperatriz e da emergente Maricá. Afinal, ele tem muito a dizer. Não se furta. E já mostrou isso. Mas nessa entrevista de hoje, tratamos apenas do mundo Leandro na Rainha de Ramos, passando um pouco pelas sementes de um enredo promissor e na sua visão sobre aspectos que envolvem o espetáculo, onde ele é um referencial deslumbrante e complexo. Referencial por fazer pensar, conduzindo, criando tendências. Deslumbrante pela beleza original de sua arte. Um artista que diante de perguntas pueris de um repórter, naturalmente escapa genialidade ao responder; ‘Gosto do que é ordinário. De servir as coisas mais finas e os sabores de um país super sofisticado em embalagens acessíveis’. Degustem Leandro Vieira!

+ O momento da criação:

“Estou em processo de pesquisa (enredo 2025 da Imperatriz), aprofundando visões distintas e colhendo informações distintas a partir da rica possibilidade de contato e diálogo com ialorixás, ogãs, ekedis e babalorixás, já que o enredo proposto se debruça num mito iorubá que serve de base para ritos, preceitos e atividades de inúmeras casas de candomblé espalhadas pelo Brasil: a cerimônia das Águas de Oxalá. Além das casas de santo consultadas no Rio, para a ampliação da pesquisa de um tema que tem na oralidade sua maior fonte de pesquisa qualificada, recentemente estive com a presidência da escola na Bahia para visitar casas de candomblés nagôs que possuem em seus calendários sagrados a cerimônia das águas de Oxalá. A medida em que a pesquisa avança, a visualidade também avança. Quando isto ocorre, o discurso se organiza e começa a ser traduzido em desenhos de fantasias e alegorias. Hoje, resumidamente, posso dizer que avanço com textos que justificam as minhas escolhas visuais enquanto o conjunto de fantasias de ala é transposto para o papel como figurino”.

+ A motivação para ‘Ómi Tútú ao Olúfon – Água fresca para o senhor de Ifón’:

“Gosto de pensar as vocações da Imperatriz a partir do time que joga junto comigo quando a escola ‘entra em campo’. Um enredo como este é um prato cheio para a qualidade musical do Mestre Lolo e do Pitty. Gosto de ser um carnavalesco que pensa a escola como um todo. Pensar a Imperatriz de hoje é pensar suas vocações a partir dos talentos que formam o seu time. Sem contar que um enredo de matrizes africanas é um antigo desejo da comunidade da escola. Escolher este enredo é seguir avançando no namoro da Imperatriz com a própria Imperatriz. É como se a escola como um todo estivesse sendo ouvida. Ele é o desejo de muitos, atendido para que a coletividade encontre sucesso”.

+ Desfiles para o povo entender:

“Quase 10 anos depois do meu primeiro desfile, consigo olhar melhor aquilo que as pessoas entendem como uma espécie de vocação do meu trabalho. Sou um carioca do subúrbio que teve a oportunidade de viver num ambiente rico de cultura popular. O subúrbio é este balaio onde se encontram vários brasis em ebulição e exuberância. O subúrbio faz esquina com o nordeste, celebra santo e orixá, come e bebe o que há de mais diverso na culinária popular e ancestral. O subúrbio é uma esquina de um território preto, ao tempo em que é também um braço que se alonga para alcançar múltiplas experiências sociais, visuais, sonoras e políticas. É macumbeiro, católico e neopentecostal. Malandro, conservador, bandido e milico. Sou fruto dessa mistura e o meu trabalho reflete isso. Sobre conceber desfiles de fácil compreensão, creio que isto também seja reflexo desse diálogo que o subúrbio e a cultura suburbana estabelecem com o meu modo de criar e comunicar aquilo que resulta da minha criação. Gosto da ideia de popularizar. Gosto do que é ordinário. De servir as coisas mais finas e os sabores de um país super sofisticado em ‘embalagens’ acessíveis”.

+ ‘Tentar, acertar e errar’:

“Com sinceridade, não vejo impactos ou limitações em função do sambódromo ser da maneira como ele se apresenta hoje. Esta questão de gigantismo, ampliação de tamanhos, montagens complicadíssimas ou de difícil realização não são uma preocupação recorrente no meu trabalho. Sobre a iluminação cênica, acredito que é um recurso que se bem utilizado pode agregar valor para os que acreditam na iluminação como um recurso artístico que vá contribuir para a atividade carnavalesca. Tenho ressalvas, mas acho que tentar, acertar e errar, levará a utilização do recurso a um patamar mais elaborado no futuro”.

+ Que Imperatriz é essa, Leandro?

“Acredito que os desfiles do Lampião e da cigana tenham mostrado que a Imperatriz, além dos bons resultados com o campeonato de 2023 e seu vice-campeonato de 2024, também aponta para uma escola que quer se apresentar de uma forma diferente. Esta diferença é fruto de uma presidência que quer popularizar a escola, aproximar-se de seu território e da possibilidade de pensar a Imperatriz Leopoldinense para além de questões visuais ou estrutura financeira. Poder participar disso e contribuir com isso tá sendo a maior das minhas alegrias e o mais potente dos combustíveis para a minha criação. Isso resulta numa experiência social e artística que quer a Imperatriz ‘quente’, com enredos ‘quentes’, se apresentando ‘quente’ e possibilidades de comunicação com o público de maneira mais orgânica. Hoje penso a Imperatriz com uma certa distância daquela tal escola chamada de ‘certinha’. Isto tem sido um desejo meu. Desejo que é alimentado pelas fantasias que penso para os componentes, pelo enredo que penso apresentar, e pelas alegorias que proponho a partir do respaldo da minha presidência e do apoio dos meus colegas de trabalho que pensam a musicalidade do desfile e o canto da escola na pista. Pra 2025 seguimos crendo nisso. Queremos sabor e calor”.

Redação SRzd

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