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Laíla crítico: ‘Nós temos que fazer mais samba e menos espetáculo’

A espetacularização dos desfiles das escolas de samba é um processo que foi intensificado em 2010, com a comissão de frente da Unidos da Tijuca que usava truques de ilusionismo. A partir de então, o que mais se vê são agremiações investindo em efeitos especiais em busca do espetáculo. Para Laíla, com mais de 50 anos de Carnaval, o caminho não é esse. Nesta terceira – e última –  reportagem da série, o diretor da Beija-Flor defende o samba, fala de Paulo Barros, valoriza o trabalho coletivo e aborda o questionamento que sofre quando suas ideias não dão certo.

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“Antigamente, a gente pegava coisa da rua, juntava e fazia grandes espetáculos sambísticos. E hoje? Não tá rolando. É muito comum agora você pegar uma escola e entupir de pluma de ponta a ponta, aí o cara balança a cabeça e não evolui”, criticou Laíla. Questionado a respeito da própria Beija-Flor utilizar muitas plumas em fantasias, o diretor respondeu: “A gente usa, mas bem colocadas”.

O que Laíla deixou claro na conversa com o SRzd foi que o samba precisa estar acima dos espetáculos que as escolas buscam promover com tecnologia e efeitos especiais. O diretor reivindicou a evolução das agremiações na Avenida e defendeu a valorização do samba no pé e canto da comunidade.

“Você tem que valorizar o samba no pé, o canto da comunidade, que é o principal. Evolução é você ter uma dança compatível com o que canta. Vê se tem hoje? Não. Algumas escolas até têm, outras não”, disse Laíla.

Paulo Barros durante desfila da Portela em 2016. Foto: Reprodução/Internet.

LAÍLA SOBRE PAULO BARROS: “Não me incomoda não”

Famoso por efeitos e truques, Paulo Barros quase se tornou carnavalesco da Beija-Flor para o Carnaval 2018. Perguntado sobre como seria o trabalho com o carnavalesco e se o estilo dele incomodava o diretor, Laíla afirmou que não há problema no que Paulo faz, desde que não achate o samba.

“Não, não me incomoda não, desde o momento que ele não achate o samba. Deu pra entender? O projeto alegórico, pra mim, é indiferente. Mas você tem que ter o conteúdo que te proporcionou o assunto daquela alegoria”.

VAIDADE E TRABALHO COLETIVO: “Eu não deixo de dividir nunca”

O diretor falou sobre a importância de se trabalhar em equipe e lembrou quando criou a comissão de Carnaval em 1998, modelo que deu certo na Beija-Flor e rendeu oito títulos para a agremiação. “Quando eu criei a comissão, falaram que eu tava maluco. Mas pra mim é melhor ouvir o pensamento de 15 que de um”.

Laíla também revelou ter trabalhado com vaidosos que não gostam de dividir o trabalho: “Pra mim, a vaidade pessoal numa festa coletiva é uma das coisas que mais prejudica a escola de samba. Eu já trabalhei com muitos (vaidosos) e ainda têm muitos por aí”.

Eu tô com a minha cabeça sempre na frente. O modelo é meu, mas trabalho coletivamente.

Apesar da fama de mandão, o diretor disse nunca ter deixado de dividir e ouvir a opinião de todos. “Eu não sou uma pessoa que pensa o samba única e exclusivamente em mim, porque eu peguei o samba lá atrás. Eu tô com a minha cabeça sempre na frente. O modelo é meu, mas eu trabalho coletivamente. Por todos os lugares que eu passei, eu não deixei de dividir nunca. Eu sou diretor de Carnaval por isso”.

LAÍLA VELHO? “Eu posso estar cansado, mas tenho cabeça jovem”

Já no fim da conversa com o SRzd, o diretor abriu o coração e disse sofrer muitos questionamentos até na própria Beija-Flor. “Têm rumores até dentro da escola que eu estou velho e velho tem que ficar em casa. A única coisa que eu posso falar é o seguinte: eu posso estar cansado, mas tenho cabeça jovem, porque trabalho com jovens”.

Outra grande crítica que Laíla sofreu foi após o Carnaval 2017, quando sua inovação de substituir alas por tribos e atos não foi aprovada pelos jurados. O diretor não fugiu da responsabilidade e assumiu a culpa: “Eu fui muito questionado em relação ao Carnaval desse ano aqui na casa. Falaram que não deveria ter sido feito. Quando eu falei da ideia, todo mundo achou do caramba. Quando deu errado, caiu pra cima de quem? Mas eu assumo”.

João Carlos Martins e Sidney Rezende

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João Carlos Martins e Sidney Rezende
Tags: Beija-FlorCarnaval 2018destaque4-carnaval-rjLaílaPaulo Barros

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