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Carnaval 2023: análises do primeiro dia de desfiles do Grupo Especial

Seis escolas desfilaram na Marquês de Sapucaí neste primeiro dia de apresentações do Grupo Especial: Império Serrano, Grande Rio, Mocidade Independente, Unidos da Tijuca, Salgueiro e Mangueira. Os comentaristas do SRzd acompanharam os desfiles e analisaram o desenvolvimento das agremiações. Veja abaixo:

Império Serrano

Célia Souto: “Primeira escola e abrindo o desfile do Grupo Especial, veio apresentando um canto forte, vibrante e cadenciado. Os componentes se empenham para cantar o samba com concentração e desenvoltura. A evolução se desenvolve com regularidade e leveza entre as alas A escola vai desfilando pela Avenida dominando o canto e a evolução com leveza e alegria dominando a sincronia entre ritmo e melodia”.

Jaime Cezário: “O primeiro a pisar na Sapucaí foi o glorioso Império Serrano, com o enredo ‘Lugares de Arlindo’. Um momento de pura emoção foi causado em poder ver a Serrinha entrando imponente com um Carnaval rico, bem resolvido e sinalizando a todos que deseja permanecer no Grupo Especial. Um enredo muito bem resolvido, mostrando de forma clara a trajetória do cantor e compositor Arlindo Cruz. Começa com a imponência do seu abre-alas, homenageando seu santo padroeiro: São Jorge, matando inúmeros dragões, quase uma mensagem aos componentes e sua torcida que os tempos difíceis ficaram para trás. Ela chegou lembrando a todos que estava ali uma Escola de Samba, nove vezes campeã do Grupo Especial. Suas alegorias estavam grandiosas e com aquele toque artístico do seu carnavalesco, que lembra o estilo art-deco. Acabamentos perfeitos, belos efeitos e iluminação. As suas fantasias estavam requintadas, ricas e informando exatamente aquilo que o seu roteiro informava. Colocou a expectativa do desfile desse domingo lá em cima. Parabéns Serrinha… é muito bom te ver de volta, dessa forma esplendorosa. O momento de maior emoção ficou para a última alegoria, onde veio o homenageado com sua família e amigos, arrepiou”.

Cadu Zugliani: “O samba do Império se apresentou muito melhor do que se esperava no pré-carnaval. Destaque especial para o refrão de baixo que ajudou a levantar a escola. Mas, com algumas notas muito altas, o samba deu uma cansada no decorrer do desfile, mesmo com todo o esforço de Ito Melodia, talvez, um dos três maiores intérpretes do nosso Carnaval. O andamento usado no desfile ajudou demais a recuperar a força deste samba. Apesar de não ter sido brilhante, ajudou o Império”.

Bruno Moraes: “A bateria do Império Serrano fez um desfile colocando o pé na porta em sua volta ao Especial. Mestre Vitinho é um talento e impressionou em sua primeira apresentação aos julgadores, muita segurança e tudo saiu perfeito, foi realmente emocionante e muito feliz na bossa que apresentou ao julgador. O tamborim e o agogô estavam super encaixados e tiveram performance de alto nível. As bossas eram complexas e muito bem executadas, com destaque para a bossa do hino nacional e o pagode. Incrível abertura do Carnaval do Grupo Especial. Serrinha tá feliz”.

Junior Schall: “O Império Serrano, como primeira escola a desfilar, fez muito bem o uso das dimensões da Avenida. Ocupando com um volume equilibrado os espaços, tanto para alegorias, quanto para os contingentes físicos na pista. Um Carnaval projetado e realizado, com olhar apurado para a estética e a técnica. O que é sempre muito útil para a Harmonia e a Evolução da Agremiação. A posição dos segmentos no desfile e, por exemplo, a largura acertada das alegorias são referências deste trabalho. Desfile com fluidez e tempo correto no relógio. A última alegoria passou na frente do segundo recuo de bateria aos 58 minutos de apresentação”.

Eliane Souza: “Foi possível observar a porta-bandeira Daniele Nascimento realizando o famoso patinete, movimento nomeado por Vilma Nascimento. E esse momento sempre é encantador, pois Daniele realiza com propriedade esse movimento obrigatório da coreografia da porta-bandeira! O mestre-sala, sempre atencioso e galante cumpriu sua função de louvar o pavilhão e conduzir a sua dama, ação que executa com galhardia. Ele dançou para seu pavilhão e sua dama. E isso é sempre lindo de apreciar! Destaque para o segundo casal Matheus Machado e Maura Luíza, pela alegria na execução do bailado e, realce para essa dama que desfilou grávida, trazendo Laurinha para a Avenida”.

Wallace Safra: “O coreógrafo Júnior Scapin trouxe para Avenida muito Axé e muita religiosidade. O cenário era um banjo onde aconteceu um grande ritual de cura. Com bailarinos bem atuantes e uma dança enérgica, a comissão apresentou movimentos oriundos do candomblé com a aparição de orixás que regiam e entrelaçavam com a coreografia proposta. A comissão atuou majoritariamente no elemento coreográfico, o que eu sempre acho que é uma perda visual para o público. Por fim e para coroar esse grande ritual o filho de Arlindo, Arlindinho, surge para comemorar e celebrar a vida. Comissão bem construída, com delicadeza e sensibilidade. A ala de passistas fez uma referência a ‘fezinha’ que quase todo mundo faz. Com muita energia a ala passou entregando simpatia e muito samba no pé. O figurino comprometeu um pouco dos movimentos de alguns passistas, mas eles conseguiram contornar e fizeram uma boa apresentação. Destaque para o trabalho do diretor na construção visual da ala”.

Império Serrano. Foto: Leandro Milton – SRzd

Grande Rio

Eliane Souza: “Eu me alegrei com a performance do casal Daniel Werneck e Taciana Couto que, de forma atualizada trouxe o bailado para a avenida, permeando-o com passos referentes ao enredo e ao samba enredo, sem prejuízo para movimentação inicial. Houve graciosidade na apresentação, característica do estilo já impresso pelo par, onde pude observar a gentileza do mestre-sala ao executar suas ações direcionadas ao pavilhão e a sua bela dama. Taciana realizou com destreza seus giros no abano, sempre cortejada por seu cavalheiro. Leveza, habilidade e sintonia perfeita do casal! Destaque para a ala de Mestre-Sala e Porta-Bandeira que bailou alegremente na Avenida”.

Célia Souto: “A escola apresentou um desfile impecável musicalmente, harmonia sincronizada entre ritmo e melodia, componentes dominam e interpretam o samba com vibração e empolgação. A evolução da escola flui com regularidade e leveza entre as alas. A escola passa pela Avenida com canto e samba forte empolgando a Sapucaí”.

Cláudio Francioni: “A bateria da Grande Rio deu um show. Bem afinada, com um andamento maravilhoso e econômica nas bossas. Em uma delas, a madrinha Paolla Oliveira subia em um pequeno palco e convidava o público a levantar o copo com o homenageado. Destaque para a frente da bateria. Chocalhos e tamborins em uma perfeita execução dos toques”.

Jaime Cezário: “A nossa carioquice suburbana, inspirada na vida de um grande homenageado, Zeca Pagodinho. Acredito que todos que assistiram essa bela apresentação e conhecem esse universo, devem ter ficado com aquela lágrima contida de emoção e felicidade! Parabéns Grande Rio! Ah, como seria bom ver mais enredos com essa exploração linda do nosso jeito carioca de ser, que os Deuses do Carnaval façam o universo carnavalesco se inspirar nessas duas primeiras escolas de samba, que se apresentaram, abrindo com chave de ouro, este domingo de Carnaval. Mostrou que uma segunda escola a desfilar pode sonhar em levar o bicampeonato para Caxias. Torcer para que o jurado da primeira cabine não tenha visto o probleminha causado pela terceira alegoria que deu uma empacada no setor 1. Quem sabe? Quanto ao enredo, posso dizer que foi excelente, as fantasias e alegorias acompanharam essa qualidade. Eles juntaram beleza, originalidade e bom gosto, tudo isso temperado com muita emoção”.

Junior Schall: “O universo estético e a identidade visual, com uma assinatura formidável, de Haddad e Bora, faz (uma vez mais) um casamento riquíssimo com todo o corpo da Grande Rio. A narrativa das cenas cria uma conexão, que é um combustível poderoso, para a proposta do enredo e a sua realização ao longo de todo o desfile. Construíndo, deste modo, toda uma mecânica valiosa para os quesitos de chão. A pluralidade do conteúdo, em sua concepção e execução, aponta a harmonia e o equilíbrio da técnica e da estética na Escola de Caxias”.

Cadu Zugliani: “O samba da Grande Rio encontrou o Zeca e se encontrou na Sapucaí. Se existia um medo de uma Avenida fria por ser tão no início da noite do primeiro dia, esse medo foi desfeito. Que passagem senhoras e senhores. Samba com cara de Carnaval e a reação das arquibancadas mostrou isso. Ali, onde o povo ainda curte o verdadeiro Carnaval. A obra conseguiu fazer uma viagem pelo Rio do subúrbio muito bem contada. Samba com cara de 10”.

Wallace Safra: “A comissão de frente apresentou um grande elemento coreográfico que tinha como proposta um encontro de malandros e cabrochas que procuravam o homenageado entre o bar e a capela. Os coreógrafos Hélio Bejani e Beth Bejani, trouxeram uma dança divertida e leve, mas ao mesmo tempo enérgica e bem direcionada a temática do enredo. Com uma plástica de fácil leitura, o ambiente foi criado para receber São Jorge como simbologia religiosa maior do homenageado pela agremiação. Destaque para a harmonia do conjunto de bailarinos e para a linguagem apresentada. A ala de passistas representava os boêmios de Irajá e com muita energia e um samba no pé plural a ala foi uma grata surpresa, por que conseguiu mostrar através do samba e uma boa comunicação com o público que o trabalho realizado funcionou e tudo isso com um sorriso de felicidade estampado no rosto e pra melhorar, cantando o samba. Destaque para o trabalho como um todo que culminou em um ambiente harmonioso que através das belíssimas fantasias , elevou a auto estima dos componentes e que foi lindo de ver”.

Grande Rio. Foto: Juliana Dias – SRzd

Mocidade Independente

Célia Souto: “Os componentes estão cantando o samba com cadência, mas não demonstram vibração, empolgação e canto forte. A melodia não está fluente. No que se refere a evolução, escola sustenta o chão e a regularidade entre as alas, porém, não empolgam”.

Cadu Zugliani: “O samba da Mocidade Independente de Padre Miguel é um samba-enredo na concepção da palavra. Conta muito bem a história. É bem melodioso é bonito, mas acho pesado, a comunidade canta muito, mas o samba deixou o desfile morno. Claro que a proposta, até pelo enredo sobre mestre Vitalino, é dolente mesmo. Mas, especialmente desfilando após a Grande Rio, fez diferença”.

Eliane Souza: “Diogo Jesus e Bruna Santos – o lindo casal da escola – com leveza e alegria, atravessaram a Avenida! Dominando suas coreografias, apresentaram uma performance na qual se aprecia a forma atualizada de bailar, com a preservação dos movimentos obrigatórios que edificam o bailado do mestre-sala e porta-bandeira, deixando ‘assinado’ o estilo personalíssimo do mestre-sala e a postura de uma rainha da bela porta-bandeira. Salve o casal da Mocidade”.

Wallace Safra: “A comissão de frente revelou o nascimento de Severino Vitalino, filho de Vitalino Pereira dos Santos através de um presépio nordestino. O corpo de bailarinos entrou muito forte, com expressões marcantes e movimentos precisos, mas ao decorrer do envolvimento com o elemento coreográfico alguns se perderam em alguns momentos, comprometendo a coreografia. Além do elemento também causar algumas instabilidades também. Na parte de cima a encenação foi o destaque, apesar de acreditar faltar movimentos marcantes na cultura nordestina junto a coreografia. Bom trabalho plástico e harmonia do conjunto de bailarinos. A ala de passistas representou os seres híbridos das obras de Manuel Galdino, sendo eles Reis e rainhas do jogo de xadrez. Com muita energia e samba no pé a ala apresentou um trabalho de corpo excelente, entrelaçado a movimentos da dança do samba de múltiplas maneiras e em vários momentos, tudo isso com com um bom desenvolvimento e uma boa evolução na Avenida. Destaque para a performance em conjunto da ala e do trabalho integralizado do diretor e coordenadores. Parabéns”.

Jaime Cezário: “A Mocidade trouxe um enredo que explora a temática nordestina, homenageando os artesões do Alto do Moura da cidade de Caruaru em Pernanbuco. A temática nordestina já foi vista muita vezes nos desfiles de Carnaval e, para fazer diferença, teria de ter uma proposta muito diferenciada e arrojada. No seu desfile, vimos uma história que seguiu pelo roteiro já esperado em nossas cabeças, sendo assim, não causou surpresa alguma. Percebemos que a escola atravessa problemas de contenção financeira, pois vimos a utilização de muitos materiais alternativos. O conjunto do abre alas tinha, mostrou ferros aparecendo e uma das esculturas da procissão do agreste, quando mexia, aparecia sua ferragem, como estava na parte alta da alegoria, era facilmente visível, algo que deve ser penalizado. As fantasias estavam bem estruturadas e não percebi problemas de acabamento. O detalhe do conjunto das indumentárias seguiu pelo caminho seguro e previsível. A Mocidade é a escola que ama abraçar novos conceitos, mas não acredito que a temática nordestina seja o caminho de se reencontrar com o seu brilho de outrora”.

Junior Schall: “O desfile da Mocidade apresentou uma narrativa visual pautada na emoção de uma história bem contada pelo viés do Carnaval. Na obra musical, na costura estética e em todo o desenvolvimento do desfile a Escola a propôs, enlaçada com a sensibilidade e o talento do artista, Marcus Ferreira, um cenário que criasse uma evolução eficiente, não só para o corpo da Escola na passarela, mas também para o melhor do trabalho e retorno dos quesitos técnicos”.

Cláudio Francioni: “A bateria da Mocidade fez um ótimo desfile e ajudou a sustentar um samba pesado que não brilhou na Avenida. Com seu andamento confortável e sua boa afinação invertida, como de costume, Mestre Dudu executou as bossas com exatidão em frente às cabines. Destaque para a fileira de agogôs com duas bocas no fim da bateria, trazendo um suingue a mais em uma região que normalmente é mais pesada”.

Mocidade. Foto: Leandro Milton – SRzd

Unidos da Tijuca

Célia Souto: “A escola veio preenchendo a Avenida cantando o samba-enredo com musicalidade, demonstrando segurança; canto harmonioso e forte. O chão da escola demonstra regularidade entre as alas que evoluem com movimento bem definido facilitando o desenvolvimento e o entrosamento da evolução. A escola apresenta um bonito desfile, bastante sincronizado entre canto, ritmo e evolução”.

Eliane Souza: “Tive a oportunidade de apreciar o lindíssimo gestual, no qual a mão esquerda, ora desenhava sua alegria por dançar no ar, ora se apoiava com delicadeza na cintura, ao assistir a experiente Denadir Garcia bailar e encantar, sempre cortejada por Matheus André, que dançou para louvar seu pavilhão e conduzir sua dama! O bailado foi apresentado de forma atualizada, em nuances delicadas e movimentos obrigatórios preservados. O casal ocupou com sabedoria o espaço destinado a sua apresentação aos julgadores, tendo o mestre-sala realizado movimentos com destreza, aproveitando para, no momento da realização do cruzado, rodear com passos miúdos e rápidos, e com segurança, sua porta-bandeira que executava seus giros no abano. Lindo momento”.

Junior Schall: “A Unidos da Tijuca apresentou as suas credenciais com autoridade. O trabalho do corpo técnico da Escola, é desenvolvido há tempos. A assinatura, sempre marcante, de Jack Vasconcelos e, pela via da fina sintonia entre os dois, o fruto da construção e realização da Comissão de Frente de Sérgio Lobato numa conexão interativa, inédita, com a nova iluminação da Avenida. Carnavalesco, coreógrafo e a base técnica da agremiação proporcionaram um momento diferenciado no desfile ao trazer para a cena aberta, diante das cabines de julgamento, uma nova perspectiva para o quesito e o espetáculo.

Cadu Zugliani: “Existe o samba bonito, existe o samba funcional, existe o samba popular e existe a obra prima que junta tudo. Calma gente! O samba da Tijuca está na categoria funcional. Sustentado pela maravilhosa bateria do mestre Casagrande e com andamento perfeito, a obra conduziu com competência o correto desfile da escola. Lindo? Não! Funcional”.

Wallace Safra: “A comissão do coreógrafo Sérgio Lobato ressaltou o legado africano para a formação da cultura afro-brasileira na Baía de todos os Santos. Com uma coreografia enérgica e repleta de surpresas, trouxe um banho de axé para avenida. Movimentos coreográficos inteligentes com tranquilidade no desenvolvimento e na execução final, mas tudo aplicado de maneira dinâmica e com uma plástica de muito bom gosto. O conjunto de bailarinos entrelaçaram sua dança e esferas cênicas harmoniosamente a coreografia, agregando um extremo valor ao uso do elemento coreográfico que foi essencial para o bom resultado da comissão. Destaque para a atriz Juliana Alves que representou Iemanjá brilhantemente na comissão e para a aparição dos bailarinos durante a coreografia. Com uma homenagem a pesca e a mariscagem, a ala de passistas da Unidos da Tijuca se mostrou atuante e animada na avenida. Com uma fantasia leve e um bom samba no pé, os passistas desenvolveram de maneira tranquila na avenida. Destaque para o conjunto plural de componentes e para o trabalho desenvolvido pelo diretor”.

Jaime Cezário: “A Tijuca trouxe seu enredo homenageando a Baía de Todos os Santos. Outro enredo inspirado na temática nordestina, só que agora, baseado na cultura baiana. O mesmo pensamento com relação ao desenvolvimento, pois fica muito complexo tentar surpreender com um tema já vistos tantas vezes na Sapucaí. Não houve surpresa, e a sequência seguiu o esperado em alas e alegorias. Nas fantasias, vimos muito uma das características do carnavalesco da escola; usar saias em profusão, somando isso a temática da Bahia. Muitas fantasias confundiam, pois pareciam uma profusão de ala de baianas. É notório que os recursos não foram grandes e vimos o exercício da criatividade, com o uso de materiais alternativos. As alegorias seguiram pelo mesmo caminho, inclusive tendo uma que parecia ter sido toda em pintura de arte direto na marcenaria, recurso muito utilizado quando a verba é curta. A última alegoria parece que bateu em algum obstáculo, pois o farol e o sol do fundo do carro estavam danificados e mostrando suas ferragens”.

Cláudio Francioni: “Mais um show tijucano. A bateria do Mestre Casagrande se destaca por diversos motivos, mas duas palavras merecem destaque: regularidade e segurança. Trata-se de uma bateria que pode tocar por horas seguidas que parece que não haverá um problema que a abale. À frente da bateria, com um delicioso volume e suingue das cuícas, e tamborins e chocalhos beirando a perfeição. Na parte de trás, o costumeiro molho das caixas sustentando um bom andamento, que entrou um pouco mais pra frente, porém encontrou uma região confortável pra dar prosseguimento ao desfile”.

Unidos da Tijuca. Foto: Juliana Dias – SRzd

Salgueiro

Eliane Souza: “O que apreciei desfilando pela Avenida? Um casal bailando, envolvido pela emoção de dançar, uma emoção que teve as técnicas da dança e a preparação corporal a seu serviço, auxiliando a execução da performance do par! A apresentação do bailado do mestre-sala e porta-bandeira em sua forma atualizada, com realces aos movimentos obrigatórios de cada dançarino. As nuances da porta-bandeira e os gestos do mestre-sala evidenciados pela maneira particular e personalíssima de executá-los, um estilo confirmado do casal pela parceria de dez anos dançados. Giros do abano realizados com destreza, balanço sem apoio para ‘dengar’ a bandeira! Cruzado, carrapeta e meio sapateado sincronizados, permitindo a escritura de uma frase coreográfica plena para louvar o pavilhão e dançar para a porta-bandeira. O que apreciei? A exibição de um bailado dinâmico, potente e alegre, todavia fluído e encantador. Lindo, esse casal salgueirense”.

Cadu Zugliani: “Existem dois Salgueiros; um é a super escola, a Academia, a agremiação gigante que coloca um Carnaval como este de 2023. O outro Salgueiro precisa se achar, se reencontrar. É o Salgueiro de sambas históricos, antológicos. Não é de hoje que a escola, salvo exceções, vem deixando a desejar neste quesito. Este samba apesar de ‘casar com a bateria’, ‘de ser funcional’ e ‘a comunidade cantou’, não representa o significado desta escola tão grande. O trabalho da direção musical foi impecável pra deixar o samba funcional. Culpa dos compositores? Do enredo? Não! Vai muito além. A escola precisa e merece se reencontrar nesse quesito. Essa Academia é monstruosa e vai buscar esse caminho”.

Jaime Cezário: “A Academia do Samba trouxe como enredo ‘Delírios de um Paraíso Vermelho’. Uma história fantástica que tentou nos transmitir muitas coisas, a principal delas, é que esse paraíso é demoníaco, comandado pelo ‘vermelhudo’. Vimos isso na ostentação do seu abre-alas, onde a grande serpente nos mandava um recado claro, vamos fazer uma ode ao Leviatã. E assim vimos, em todos os setores, figuras demoníacas, a começar com a comissão de frente, onde podíamos ver a figura da Morte. E dessa forma transcorreu todo o desfile em alas e alegorias. Dava a entender que nessa loucura da festa máxima do Carnaval, o demônio foi cultuado. Descobrimos até que nesse paraíso vermelho, o nosso tradicional Zé Pereira é santo! Não sei como os julgadores vão entender o que foi mostrado aqui na Avenida. Com relação às fantasias de alas e alegorias, estavam impecáveis, muito luxo e requinte, não sendo observado nenhuma falha de acabamento. O detalhe chato, foi o problema com a entrada das alegorias, muito grandes. Isso fez a escola abrir um buraco bem visível a visão da primeira cabine dos julgadores logo com o seu abre-alas”.

Wallace Safra: “Com seus mortos reprimidos, julgados e apodrecidos, acordados pelo louco João, o Acadêmicos do Salgueiro trouxe uma comissão divertida, irreverente e recheada de surpresas e efeitos visuais que impressionaram a todos. O coreógrafo Patrick Carvalho inovou mais uma vez e também agregou na apresentação uma dança forte, intensa, com movimentos ágeis e potentes na avenida. Os bailarinos conseguiram trazer expressões potentes e ao mesmo tempo suáveis, encantando o público. O elemento coreográfico somou muita força no conjunto apresentado e destacou ainda mais o corpulento desenvolvimento do coreógrafo. Destaque para o resultado final que ficou incrível. Parabéns. Representando a infantaria dos mortais, a ala de passistas apresentou um desenvolvimento coerente, forte e harmonioso. Muito samba no pé e um trabalho artístico muito bem executado. Com uma fantasia leve o conjunto de passistas é intenso e emocionou ao público com um samba orgânico e extremamente plural. Destaque para o potente e rico conjunto de passistas da agremiação”.

Junior Schall: “O Salgueiro trouxe para o seu desfile alegorias muito grandes, como, por exemplo, o abre alas, que unia 3 chassis, toda a apresentação teve dimensões generosas. Suntuosa e muito bem vestida, a Academia fez um Carnaval de requinte e muito luxo em comemoração aos seus 70 anos. A proporção do cortejo trouxe para o trabalho da harmonia e da espinha dorsal da entidade uma ação e atenção em dobro no exercício do chão da Avenida, com realinhamentos no plano original de desfile sendo vitais para a condução da escola. As equipes salgueirenses fizeram valer a experiência e a boa conexão conjunta que possuem para a aplicação dessas estratégias”.

Bruno Moraes: “A bateria Furiosa do Salgueiro fez um bom desfile. A famosa pressão de sua bateria pode ser notada logo quando o ritmo subiu. O ‘peso’ de suas marcações se somou às afinações mais graves, terceiras mais centradas e caixas e taróis dando um molho especial na parte de trás da bateria. As alas de tamborim, cuíca e chocalho estão super entrosadas. As bossas são complexas, mas saíram perfeitas nos módulos de julgamento. Os Mestres Guilherme e Gustavo estão cada vez mais a vontade na frente da bateria, muitos seguros”.

Desfile do Salgueiro 2023. Foto: Alex Ferro/Riotur

Mangueira

Célia Souto: “Os componentes entraram na Avenida dominando o canto, o mesmo soou forte e vibrante. A sincronia entre ritmo e melodia, merece destaque. Em relação a evolução, apresentou irregularidade no andamento, não fluiu com espontaneidade devido a muitas paradas das alas, o que interferiu na dinâmica do desfile”.

Junior Schall: “A Estação Primeira de Mangueira encerrou a primeira noite com o DNA da Escola na pele. Numa apresentação em que a entidade se reconheceu muito na proposta estética e musical. Ofertando um evento audiovisual com a alma da verde e rosa. ‘Fechadinha’ a Mangueira manifestou com vigor a percepção da sua identidade, matéria-prima de altíssimo valor para uma agremiação tão ligada as suas raízes como ela. Se valer de seus fundamentos e multiplicar esses pontos fortes na plástica, na técnica e no seu corpo de desfile é Carnaval de fato”.

Cadu Zugliani: “Como diz o mestre Luiz Fernando Reis isso é um desfile de escolas de samba. E a Mangueira trouxe um samba. Não precisou dos melhores carros ou mais luxuosos, mas trouxe o mais importante; musicalidade, alegria, espontaneidade e que samba! Só ver nos momentos que a bateria parou para entender a resposta do público. A resposta que se dá a um grande samba. Parabéns Mangueira”.

Wallace Safra: “A coreógrafa Cláudia Motta reuniu os símbolos dos cortejos baianos e trouxe para Avenida uma dança com elementos da cultura afro-brasileira como base da dança e da apresentação artística da comissão. O elemento coreográfico foi importante para o crescimento da comissão, mas em alguns momentos houve uma falta de sincronismo entre os componentes, mas nada que comprometa o bom resultado final. Destaque para suavidade e elegância pela qual a comissão usou para expressar seus movimentos. Bem interessante. Representando os caminhos abertos de Exú, os passistas da Estação Primeira de Mangueira surpreenderam e apresentaram um trabalho artístico bem interessante, com muita energia e samba no pé. Com movimentos únicos da ala e com uma pluralidade no conjunto de componentes, conseguimos ver uma desarmonia que torna o desenvolvimento rico e primoroso na cênica de chão da ala. Destaque para o samba e expressões potentes e para o canto forte dos passistas durante a apresentação”.

Jaime Cezário: “Mangueira trazendo o enredo em homenagem ao Carnaval de rua baiano, foi a agradável surpresa da primeira noite. Alegre e feliz, seus componentes cantaram seu samba com a alegria daqueles que entenderam que este enredo, era de pura celebração. Vestida em verde e rosa, a energia contagiou, fazendo um verdadeiro cortejo negro na Sapucaí. Mostrando, passo a passo, a história daquele que é considerado o grande Carnaval de rua do Brasil. O enredo termina com uma linda homenagem a ela mesma, afinal, o samba foi morar onde o Rio é mais baiano, e esse lugar é lá, no Morro de Mangueira. As fantasias foram bem feitas e entregaram tudo que era necessário. As alegorias seguiram o mesmo caminho, não foram suntuosas, mas mostraram tudo que deveriam”.

Eliane Souza: “Um bailado mangueirense! O casal da escola desfilou com galhardia. Mostrando uma performance atualizada, na qual o estilo e a postura da porta-bandeira deu o tom a dança, pude apreciar os movimentos obrigatórios executados com excelência, vigor e alegria. O mestre-sala dançou para o pavilhão e para sua dama que, com sua capacidade de realizar com firmeza e determinação seus passos e movimentos, embelezou o espaço reservado para a apresentação aos julgadores. Podem ser apreciados os meneios, as fugas e os requebros característicos de quem “risca o chão” escrevendo suas letras, nos passos do mestre-sala e, a poesia dançada, de quem se enamora, no bailado da porta-bandeira que, com seu estilo personalíssimo encantou a plateia. Aconteceu o sincronismo dos movimentos de cada um dos dançarinos, em sequências de frases coreográficas que evidenciaram a postura e a integração do par. Apreciei um bailado atualizado, no qual foram preservadas as características inicias da forma de dançar para portar e apresentar o pavilhão! Axé”.

Desfile da Mangueira 2023. Foto: Juliana Dias/SRzd

Análise geral do primeiro dia

Luiz Fernando Reis: “Ainda não temos a campeã. No máximo duas de hoje no Sábado das Campeãs. A campeã deve sair da segunda-feira. Mocidade fez o mais fraco desfile da noite. Nos quesitos plásticos, Salgueiro foi excepcional e impecavelmente belo. Tijuca fez um belo desfile de chão, mas pecou especialmente em Alegorias. Mocidade esteve irreconhecível, o enredo não foi contado. A mais fraca da noite. O Império foi uma agradável surpresa. Melhores desfiles: Mangueira (não na parte plástica), Grande Rio e Salgueiro. Bons desfiles: Tijuca e Império Serrano. Desfile fraco: Mocidade”.

Grande Rio. Foto: Juliana Dias – SRzd

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Tags: Carnaval 2023Estação Primeira de MangueiraGrande RioImpério SerranoMangueiraMocidade IndependenteSalgueiroUnidos da Tijuca

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