Beija-Flor 2020: Azul e branco dá a volta por cima e mira campeonato

Reencontro nas asas de um beija-flor

Depois de um dos piores carnavais da escola, que rendeu um décimo primeiro lugar histórico em 2019, parece que a Beija-Flor de Nilópolis reencontrou suas origens. A azul e branco fez um desfile correto, com comissão de frente impactante e fantasias bem finalizadas, e mostrou estar disposta a voltar às primeiras colocadas. No entanto, problemas com evolução fizeram a agremiação correr para terminar seu desfile em exatamente 70 minutos, o máximo permitido. Última a desfilar do Grupo Especial, a escola levou o enredo “Se Essa Rua Fosse Minha”, de Alexandre Louzada e Cid Carvalho, para a Avenida.

Fala, Rachel!

“A Beija-Flor, que no ano passado amargou um péssimo resultado, sob uma chuva de críticas, fez uma correção de curso e apresentou um carnaval muito correto. A coreografia da comissão de frente era um pouco longa e acabou acarretando certa correria para cumprir o tempo máximo”.

Fala, Luiz!

“E, no encerramento do Carnaval, tivemos a Beija-Flor. Foi uma escola tentando voltar aos seus estilos de carnavais passados. Tudo muito previsível, mas bonito. É com certeza uma das favoritas e, pela força política da escola, entre um errinho aqui e outro ali, acredito que vá ganhar na quarta-feira”.

Comissão de frente

Em 2019, a comissão de frente da Beija-Flor de Nilópolis recebeu a segunda pior nota no quesito entre as agremiações do Grupo Especial. O julgamento parece ter gerado um trauma necessário para a escola, que mostrou na Avenida em 2020 uma comissão impactante. O grupo, coreografado por Marcelo Misalidis, levou o “Dono da rua” para pedir passagem a Exu, o verdadeiro dono das ruas.

Muito teatralizada, a comissão começa com duas gangues rivais disputando o domínio das ruas. Com um tripé grande que lembra um ferro-velho, os componentes dançam e, em um momento, surgem duas motos criativas feitas com o corpo de um dos componentes apoiado em uma estrutura. O movimento, no entanto, não é a parte principal da apresentação.

Durante a performance, enquanto as duas gangues brigam, aparece Exu debaixo de um pano. O orixá surge junto de pombagiras, que saem de dentro de carros que se movem sozinho e se levantam para exibir a surpresa: os componentes debaixo deles. O movimento é muito bem recebido pelo público que ovaciona a performance. A comissão entrega a proposta de pedir passagem ao orixá para falar sobre as ruas e abre o desfile da escola nilopolitana.

Casal de mestre-sala e porta-bandeira

O primeiro casal de mestre-sala e porta-bandeira, Claudinho e Selminha Sorriso, são sempre um dos grandes destaques da Beija-Flor de Nilópolis. Completando 25 anos juntos, o casal mostrou mais uma vez a experiência de uma dança harmoniosa e com sincronia de sobra.

Vestidos de “O Sol – Iluminador de Caminhos”, a dupla passou pela Avenida com fantasia em tons de amarelo brilhante para representar o grande sol que derreteria as geleiras do abre-alas para formar os primeiros caminhos abertos, que posteriormente seriam as ruas. O casal pode esperar bons resultados na quarta, se é que ainda se surpreendem com notas 10 no quesito.

Para comentarista do SRzd Eliane Souza, o bailado do casal foi mais uma vez um show na Sapucaí:

“A cumplicidade do par e a relação de parceria estabelecida em mais de vinte e cinco anos de dança, aliados ao conhecimento da coreografia do casal fazem do momento de execução do bailado por Claudinho e Selminha Sorriso uma verdadeira festa, na qual, seus movimentos coordenados, realizados com espontaneidade e alegria se efetivem numa poética dançante. Amplos, em diversas orientações e direções, naturalmente praticados, os movimentos conduzem a uma imediata interação com o público. Os aplausos foram muitos durante o percurso. O impacto da realização do bailado se confunde com o carisma do par. A coreografia, atendendo ao refrão do samba enredo, foi acrescida de passo e gesto da dança afro religiosa, em movimentos potentes, todavia, harmoniosos a movimentação do bailado. Observando a performance do par, evidencia-se a grande habilidade da dupla, a forma faceira como a porta-bandeira exibe suas nuances e a agilidade do mestre-sala ao realizar suas fugas, contra-fugas e giros, sem perder a suavidade da ação. Tal sua estabilidade e mobilidade, que muitas vezes, parece que muito bem equilibrado, ele flutua”.

Alegorias e adereços

A agremiação nilopolitana levou para a Sapucaí um conjunto de seis carros alegóricos luxuosos, grandes e com uma leitura fácil para o público. As obras passaram bem pela Avenida e ajudaram a contar a história das ruas no desfile da azul e branco. No entanto, além do abre-alas cheio de requinte, as alegorias apresentaram diversos problemas de acabamento. Partes soltas ou mal finalizadas chamaram a atenção dos olhares mais atentos. Um destaque foi quando a última alegoria passou com diversos beija-flores motorizados que passaram pela Avenida voando e produziram um efeito impressionante e aplaudido na Sapucaí.

Para o comentarista do SRzd Wallace Safra, o conjunto alegórico foi coerente:

“Apesar de um abre alas imponente, a alegoria deixou a desejar em alguns acabamentos. A partir da segunda alegoria, a escola apresenta um belo padrão de alegorias e adereços, construindo um padrão harmônico, assertivo e singular. Conjunto de alegorias bom e coerente”.

Fantasias

Apesar de algumas falhas no conjunto de alegorias, as fantasias da Beija-Flor foram um destaque da agremiação. Luxuoso e com um belo acabamento, o conjunto de fantasias era claro em suas propostas e dialogava bem com cada setor da escola. Um destaque ficou para vigésima primeira ala, que vinha de “Procissão – Anjo Guardião”, com um figurino bem acabado com velas e elementos religiosos. As baianas também foram um destaque em fantasia, com um tom rosa para representar a “Rota da Seda”.

Para o comentarista do SRzd Wallace Safra, as fantasias da Beija-Flor de Nilópolis formaram conjunto rico na Sapucaí:

“Com um bom conjunto de fantasias o carnavalesco usou e abusou nas penas sintéticas, junto ao acetato e a uma base de arte plumárias extremamente inteligente, propondo soluções visuais diferenciadas na avenida. Luxo, riqueza de detalhes e materiais em acabamentos foram a marca do desfile da agremiação. Com uso de pedrarias o carnavalesco só enriqueceu o conjunto. Bom uso do acetato em costeiros e cabeças. Boa plástica e bom conjunto. Destaque para a fantasia do primeiro casal de mestre sala e porta bandeira”.

Enredo

O enredo da Beija-Flor de Nilópolis para o Carnaval de 2020 foi controverso. Desenvolvido por Alexandre Louzada e Cid Carvalho, “Se Essa Rua Fosse Minha” contou a história das ruas, desde o primeiro caminho aberto com o derretimento das geleiras até a rua mais importante para a escola: a Marquês de Sapucaí.

No entanto, muitos consideraram difícil de relacionar as alegorias ao enredo. De fato, sem a ajuda de um roteiro que explicasse a forma como cada carro acompanha a evolução das ruas, fica difícil de relacionar os carros entre si e ao enredo. Porém, a concepção do enredo foi criativa e pode ser considerado bem desenvolvido na Sapucaí.

Samba-enredo

Depois de um ano ruim no quesito, o samba-enredo de 2020 da Beija-Flor figurou entre as melhores obras da temporada. Cheio de expectativa, o samba funcionou bem na Avenida e contagiou o público que acompanhava os componentes com a letra na ponta da língua. Neguinho da Beija-Flor fez uma boa performance na Sapucaí. Destaque para o bom andamento do samba que foi um grande aliado para manter o ritmo no sexto desfile da segunda (24).

Bateria

Vestidos de “Ciganos – A Estrada é Minha”, os ritmistas da Soberana deram um show na Avenida, com performance sem grandes falhas e bom desempenho. Destaque para a rainha Raíssa Oliveira, que veio de “Lua Cigana”. Vale ressaltar a beleza de ver uma rainha há tanto tempo em seu posto e, por isso, sua sincronia com a comunidade. Algo que acontece cada vez menos no mundo das escolas de samba que preterem mulheres de sua comunidade por celebridades.

Para o comentarista do SRzs Bruno Moraes, o desempenho da Soberana foi preciso:

“A bateria da Beija-Flor, do mestre Rodney, apresentou um trabalho correto em todos os módulos de julgamento. Com convenções mais complexas do que o usual, porém com muita precisão. Destaque para o swing e sentimento de batucada da galera do ritmo”.

Harmonia

Como de costume, a Beija-Flor teve em seu chão um de pontos fortes do desfile. A escola teve canto alto em todas as alas, com destaque para o refrão principal e o trecho do ‘A fé me guia’. Desempenho ótimo também de Neguinho da Beija-Flor e da bateria de mestres Plínio e Rodney, que possibilitaram o samba seguir no mesmo andamento e não cair durante o desfile.

Evolução

Excelência no quesito em carnavais passados, a Beija-Flor ainda não encontrou sua evolução ideal após a saída de Laíla. Em 2020, assim como em 2019, a azul e branca voltou a enfrentar problemas na área. Por conta do tamanho da escola e das apresentações da comissão de frente e casal, a escola acabou passando lenta no início do desfile e precisou correr no final. No entanto, a agremiação conseguiu acelerar o passo sem abrir buracos durante a apresentação, o que pode contar positivamente na apuração.

Ficha técnica

Enredo: “Se Essa Rua Fosse Minha”
Presidente: Ricardo Abraão David
Carnavalesco: Cid Carvalho e Alexandre Louzada
Intérprete: Neguinho da Beija-flor
Mestre de Bateria: Plínio e Rodney
Rainha de Bateria: Raíssa Oliveira
Comissão de Frente: Marcelo Misalidis
Casal de Mestre-Sala e Porta-Bandeira: Claudinho Souza e Selminha Sorriso

Nota da galera

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