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Artigo: Quando o sambista se cala, o rufar dos tamborins não é ouvido, por Luiz Fernando Reis

Sambódromo da Marquês de Sapucaí iluminado para o Carnaval 2021. Foto: Henrique Matos

Desde o cancelamento do Carnaval 2021 tenho alertado, timidamente confesso, mas nunca me calando contra a covarde e preconceituosa campanha contra o nosso Carnaval, especialmente contra os desfiles das escolas de samba.

Sabíamos com exatidão da batalha que teríamos que enfrentar. Os negacionistas nunca nos deram trégua, nunca deixaram de nos perseguir. Mas o mundo do samba se calou, se acovardou, se omitiu. Nós nos omitimos e deixamos que eles crescessem, deixamos que eles cooptassem uma parcela da sociedade que sempre nos foi alheia, que sempre nos ignorou e desprezou.

A nossa voz silenciada permitiu que nossos rufares e batuques se calassem. Fomos ingênuos, infantis, românticos, talvez acreditando que nossos algozes nos tinham esquecidos, afinal, eles nos calaram por um ano, na verdade, quem nos calou foi uma pandemia que assolou toda a humanidade.

Respeitamos a ciência, acatamos as orientações sanitárias que nos foram sugeridas. Seguimos regras e protocolos corretamente a nós direcionados. Guardamos sambas, enredos e fantasias. Fechamos nossas quadras, esquecemos nossos ensaios, deixamos de fazer nossas tradicionais finais de sambas enredos, afinal, nosso cantar poderia aguardar mais um ano até que a poeira da endemia baixasse e felizmente, ela passou, ou quase, passou.

Nos preservamos, nos vacinamos, a maioria de nós com três doses. Evitamos aglomerações, nos lambuzamos de álcool em gel, fizemos, enfim, o dever de casa para que em 2022 pudéssemos apresentar o maior Carnaval de nossas vidas, mas os negacionistas, ante os preparativos antecipados que precisam ser feitos, acordaram, na verdade eles nunca adormecem e nunca nos esqueceram e passaram a valorizar Ômicrons, cepas e inventarão novas variantes, se assim se fizer necessário.

E criaram o terrorismo, o pânico, apavoraram toda uma população sedenta e saudosa de nossos desfiles, mas se calaram perante os show de rock, festivais sertanejos, cultos e marchas religiosas, templos e igrejas lotadas, nem perceberam ônibus, trens e metros apinhados de trabalhadores que nunca perceberam o isolamento social que muito de nós pudemos usufruir.

Vocês ficaram cegos ante tudo isso, vocês nos obrigaram, alunos e professores, a abandonarmos o ensino remota para uma volta apressada e atabalhoada, com precários protocolos sendo obedecidos, às aulas presenciais.

E quando a normalidade começa a bater em nossas vidas, lá vem os canalhas, hipócritas e demagogos a nos propor que não podemos ter o nosso almejado, sonhado mesmo, desfiles de escolas de samba.

Tudo deve voltar a existir desde que não seja o Carnaval e o desfile de escolas de samba. Quem sabe se desfilássemos num templo religioso ou num palco de rock ou em um festival sertanejo ou de forró nos fosse permitido apresentar nossa arte.

É inaceitável que um evento que vai acontecer daqui a 40 dias seja discutido tão antecipadamente, de forma tão preconceituoso, raivosa e até promiscua. Nós queremos, nós podemos, nós sabemos e nós vamos fazer nossos desfiles de escolas de samba 2022 queiram os senhores negacionistas ou não. Vocês não vão nos calar nunca mais e se o nosso batucar os incomoda tanto, voltem para seus mundinhos medíocres e nos deixem em paz.

Me desculpem o breve desabafo, mas o fiz para deixar claro o meu repudio pelo artigo publicado neste veículo que tanto respeito e admiro e colaboro sempre que possível – o portal SRzd.

O texto assinado pelo Senhor Wagner Victer em nada reflete a minha posição pessoal e acredito que nem seja a posição de grande parte da editoria de Carnaval desse conceituado veículo de informação.

Tomei as dores de toda uma equipe que por anos tem levado com seriedade e responsabilidade a missão de levar os desfiles das escolas de samba para os lares brasileiros.

Faço minhas despedidas lembrando uma valorosa companheira e amiga do SRzd. Assim me disse Rachel Valença: “Na nossa idade, Luiz, nós não temos o direito de abandonar essa nossa paixão, o querido e indispensável Carnaval Carioca”.

Um Beijo no coração de cada um de vocês…

Feliz desfiles para todos nós!

* Artigo de autoria de Luiz Fernando Reis – comentarista de Carnaval da Super Radio Tupi e do SRzd, ex-carnavalesco e ex-diretor de Carnaval e ainda em atividade como homenageado em enredo e membro da Comissão de Carnaval da Caprichosos de Pilares para o Carnaval de 2022.

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