No canto da comunidade, Ilha fecha bem a primeira noite de ensaios
Por Luiz Thiago
Última escola a pisar na Avenida na primeira noite de ensaios técnicos, a União da Ilha provou estar disposta a alçar voos para além da penúltima colocação obtida no Carnaval passado. Com um canto muito forte e uma bateria que não teve medo de ousar nas paradinhas, a tricolor insulana empolgou o público, que compareceu em número razoável ao sambódromo.
Antes mesmo de iniciar o desfile, os espectadores do setor 1 já se esbaldavam com a performance da Baterilha e, principalmente, com o show de carisma do intérprete, Ito Melodia, que prometeu “incorporar”, fazendo referência ao enredo da escola: “Nzara Ndembu – Glória ao Senhor do Tempo”. A temática afro, que não chega a ser frequente nos carnavais da escola, deixou uma boa impressão. A letra do samba, com muitas palavras derivadas de dialetos africanos, não foi problema para os cerca de três mil componentes, que cantaram com garra do começo ao fim.
Um dos compositores da obra, Marcelão da Ilha sabia que não haveria contratempos em virtude das palavras poucos usuais: “Desde que começamos a escrever a obra, não tivemos medo de que isso pudesse prejudicar o canto. Fomos fiéis à sinopse e a comunidade abraçou o samba”, afirmou Marcelão, que foi criado na religião Banto, retratada no enredo.
A escola levou uma alegoria para abrir o desfile. As demais foram representadas por cartazes, que demarcavam a posição entre as alas. A comissão de frente, comandada por Carlinhos de Jesus, também arrancou aplausos. Formada por 15 homens negros, que coreografaram uma dança afro cerimonial.
O diretor da escola, Wilsinho, ficou satisfeito com o resultado: “Daqui da frente, de onde eu acompanhei, foi tudo certo, nota 10. Os recuos foram perfeitos e não tivemos problemas de evolução. Vou assistir aos vídeos que pedimos pra gravar e ajustar o que talvez não tenha ficado perfeito”, afirmou.
Percepção semelhante teve o mestre de bateria, Ciça. Um dos mais experientes do Carnaval, ele falou sobre a responsabilidade de fazer um ensaio impecável.
“O ensaio virou uma competição à parte. Somos muito cobrados, mas acho que fomos bem. Viemos com uma batida forte, mas com swingada. Vamos ver o que dá pra melhorar”, disse Ciça, que testou 6 paradinhas – com direito a uma mais ousada, com os ritmistas se agachando – mas não sabe se levará todas para o desfile oficial. “Vou conversar com o Ito e saber se ele ficou confortável com o que fizemos. Mas o povo gostou”, afirmou.
Quem também aprovou o desempenho dos comandados de Ciça foi a Rainha da Bateria da escola, Tânia Oliveira. Em seu primeiro ano à frente da Baterilha, ela estava extasiada ao término do ensaio. Apesar de ter anos de reinado no Carnaval de São Paulo, ela não escondeu a emoção após percorrer a Marquês de Sapucaí.
“Sou fã da União da Ilha há muito tempo. É uma escola muitos simpática e eu já sabia o samba muito antes de sonhar em ser convidada para ser rainha. Estar ao lado do Ciça, um profissional que eu sempre admirei pela televisão, é incrível.”
Na dispersão, Ito Melodia, apesar do cansaço oriundo de uma exibição fantástica, foi mais um integrante a comemorar o bom ensaio. “Hoje foi ensaio, mas foi um jogo pra gente. E jogamos bem”, finalizou.
A Ilha repetiu o seu estilo de humor, alegria e canto forte.
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