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Imperiais do Samba divulga sinopse de ‘Anansi – Um novo Itã para a humanidade’

A tradicional agremiação Imperiais do Samba já tem enredo e sinopse para o Carnaval Virtual 2018. A escola apresentará “Anansi – Um novo Itã para a humanidade” na passarela virtual. Veja o texto:

Sinopse

SETOR I – A GRANDE NOITE DOS TAMBORES SILENCIADOS

Um dia eles chegaram trazendo nas mãos suas bíblias e na boca “as palavras do senhor”. Ensinaram muitos a rezarem segundo suas interpretações. Estabeleceu-se então, rapidamente, uma cegueira capaz de emburrecer e alimentar todo tipo de ignorância. Os falsos apóstolos, pastores e profetas adoravam um novilho dourado que era capaz de bestificar a multidão e arrancar dela cada vez mais o vil metal.

Quando os infiéis – aqueles que não adoravam nem seguiam os mercadores da fé – deram por si, já era tarde. Um exército de pessoas intolerantes havia se formado e se unido a toda uma falange de criminosos. Era o tempo de Crime e Castigo. O crime era não seguir a crença que estava imposta e o castigo seria ter a fé contrária perseguida e destruída.

Em pouco tempo uma fúria intolerante correu o asfalto, tocou as trilhas do mato, escorreu por ladeiras e vielas e tingiu os morros com a cor escura do preconceito. Cada terreiro, cada templo de matriz africana passou a ser atacado e destruído. Daquele olhar bondoso das velhas iyás, as mães de santo, não se irradiava mais a luz da esperança. Daquele olhar agora vertiam lágrimas ao verem tudo, em que mais acreditavam, sendo reduzido a poeira e destroços.

A cada terreiro destruído, a cada chão sagrado violentado pela cega ignorância dos que professam a única verdade aceita, a memória dos antigos cultos africanos foram se perdendo. As histórias foram rasgadas e os itãs, preciosos mitos, passaram a desaparecer da mente das pessoas.

A grande noite dos tambores silenciados havia chegado. Noite grande de intolerância e ignorância. Os Homens estavam emudecidos, carbonizados, partidos, covardes, miseráveis, pulverizados, doentes, injustos, perdidos e, claramente, devastados. Sem os itãs, cada ser humano tornou-se uma casca sem essência e sem conhecimento.

E os tambores…. enfim silenciados!

SETOR II – ANANSI E O BAÚ DAS HISTÓRIAS

De todos os grandiosos encantados do panteão iorubá, nenhum foi mais violado pela onda insana da intolerância do que Exu. Os cegos intolerantes imaginavam assim estarem exorcizando o terrível capeta. Feliz engano, não se engana e nem se prende Exu. Dono de um axé efervescente e extremamente agitado, o mensageiro de dois mundos escapou pelas garras de seu opressor. Enquanto mais estilhaçavam seus fundamentos, mais ele gargalhava, escarniava de toda dedicação inútil e fanática.

Exu bem sabia que sem os itãs dos orixás a vida humana desapareceria em questão de tempo. Sem humanos não haveria função para aquele que interligava o céu à terra. Sem humanidade não haveria motivo para existir Exu. Era chegado o tempo de partir em missão atrás do único capaz de colocar ordem no caos que se estabelecera.

Não havia Orixá apto a reverter o quadro, mas havia um ser, esquecido por entre os mitos ganenses, oriundo do oeste africano, que possuía o conhecimento necessário para reconduzir o equilíbrio às coisas do céu e da terra. Exu deveria encontrar Anansi, o homem-aranha.

Ainda que soubesse cruzar de um plano ao outro, mesmo tendo total sabedoria dos caminhos do mundo físico e etérico, o mensageiro sabia que seria difícil, por ser um mito tão antigo, mas imaginava ao menos ter a trilha que o conduziria até o homem-aranha das terras de Gana. Sem se curvar a essa dificuldade, Exu balançou seu ogó e foi transportado então para o oposto das histórias de tudo que há; chegava ao final de uma das várias passagens que contam sobre Anansi.

Muito além de onde os pés e as mãos podem tocar, por sobre as mais altas nuvens, em outra dimensão e frequência, o mensageiro dos orixás se colocava agora diante dos olhos faiscantes de uma divindade: Nyame, o próprio céu. Exu se encantou com os tesouros celestes, mas sabia que não poderia perder mais tempo. Diante da aflição do mensageiro, o céu apontou o caminho…ali também seria caminho de Exu.

Na rapidez de um pensamento, Exu tocou as terras de Gana e foi na cobiçada floresta de Atiwa que se deparou com o mito que tanto procurava. Das alturas, uma densa sombra cobriu a tudo. Era algo de uma extensão sobre-humana, aterrorizante, mas que não parecia assustar Exu. Este, aliás, lançou, em um primeiro momento, um sorriso entredentes para depois gargalhar amplamente. O alvo havia sido encontrado. Envergando as enormes árvores com suas patas e fazendo muitas copas buscarem o chão com o peso de seu corpo, o deus aracnídeo chegara e repousara diante de Exu.

O mensageiro dos Orixás encontrava um adversário à altura na arte da esperteza. Apenas quando usou da sabedoria que conhecia pela convivência com Oxalá que foi possível estabelecer uma reviravolta no adverso curso da humanidade.

SETOR III – UM NOVO ITÃ PARA A HUMANIDADE

Exu recebeu de Anansi o baú de histórias que continha todo o histórico dos seres humanos, suas culturas e, claro, suas crenças. O baú havia sido aberto e Exu pegara o que tanto queria. Os seres humanos enfim iriam relembrar do ponto fundamental de tudo que lhes rege a existência: serem humanos!

A retomada do estado humano dos mortais se dava junto do culto aos outros encantados do candomblé. Os itãs dos Orixás relembravam os homens de valores tipicamente humanos.

As manchas de sangue cravadas nas vestes brancas e louças de Oxalá durante a grande noite dos tambores silenciados enfim desintegraram e a humanidade lembrou do valor da paz, da serenidade e da ponderação, pois há um tempo certo para tudo. Chegara o tempo de Oxalá!

As conchas quebradas de Iemanjá foram calcificadas. Os barcos incendiados voltaram a singrar os mares e a mãe de todas as cabeças recolocou em cada uma das cabeças humanas o valor da generosidade que só as grandes mães conhecem.

Os campos voltaram a florir, os caminhos voltaram a se tornarem livres e com os itãs de Ogum retomando seu lugar na memória dos homens, estes recobravam o espírito inventivo e guerreiro para vencerem a eterna batalha entre a luz e a escuridão que habitam a alma humana.

As matas voltaram a verdejar. O espírito humano voltou a florescer. Com os itãs de Oxóssi, os mortais retomaram a obstinação e obstinadamente caçaram seus monstros interiores que queriam devorar os iguais entendidos como desiguais e errados.

A fertilidade retornou ao corpo e à mente de cada um dos filhos da mãe Terra. Os ibás de Oxum voltaram a luzir em ouro. Os abebês – espelhos – quebrados se reconstituíram e a humanidade pode refletir sobre suas atitudes intolerantes. Só as histórias sobre Oxum devolviam a riqueza maior e única: ser magnificamente humano.

O cruzeiro entrou em paz. As almas errantes foram encaminhadas pelo retorno de Obaluaye. As palhas queimadas ressurgiram, as pipocas cobreadas no dendê voltaram a pular dos tachos e o ser humano, ao recordar dos itãs do filho de Nanã, pode curar as suas chagas, suas feridas mortais e espirituais que foram abertas pela ignorância e intolerância brutais.

Trovões voltaram a rugir nos céus. Os agerês de Xangô novamente se incendiaram. Os oxés do Alafin de Oyó por uma vez mais bramiram desencadeando na memória humana a ressignificação da justiça, igual para todos e não apenas para alguns. Afinal “quem deve, paga e quem merece, recebe!”.

“O tempo virou lá no fim do horizonte…”. As ventarolas varreram a Terra. Os dendês novamente se aqueceram assim como o coração dos Homens que reconheceram os itãs de Iansã. Ao girar o tempo com suas abanas, Iansã reconduzia a humanidade à sua transformação.

A vida e morte retomaram seu ciclo natural e nos pântanos e lamaçais, Nanã de Buruke voltou a dançar seu lento ijexá. Com os itãs da senhora dos Orixás reflorescendo na mente dos seres humanos, retomaram a capacidade de destruírem a história que haviam realizado até aquele momento e criarem um novo momento de igualdade entre os desiguais.

As florestas voltaram a verdejar. Os itãs de Ossain refloresceram nas mentes humanas. Assim como o senhor das folhas, a Humanidade passava a aprender como extrair o melhor de si mesma: sua generosidade, sua caridade, seu perdão, sua aceitação e sua gratidão.

Exu gargalhava… tudo havia voltado ao seu lugar. Os itãs foram reconstruídos, os Orixás retomaram seu lugar e a ordem natural das coisas do céu e da Terra foi retomada. O mensageiro entre o órun e o ayé não perderia sua razão de existir.

Cumprindo sua parte do acordo com Anansí, os seres humanos passaram a ter na mente, de forma inexplicável na visão deles, a memória das peripécias do homem-deus aracnídeo. Com seus braços múltiplos, Anansí sustentava a ordem da criação. A teia da vida foi finalmente compreendida e a humanidade passou a entender que o bem e o mal devem existir, pois “não há luz sem que haja escuridão”. A cada mortal há a difícil missão de harmonizar essa dualidade. Houve então entendimento, pois….

“Exu, são as costas de Oxalá!”.

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Tags: Carnaval Virtual 2018Imperiais do Samba

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