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Curral das Éguas canta Luiz Carlos da Vila em seu enredo para o Carnaval Virtual 2020

O GRESV Curral das Éguas em busca de seu primeiro título do Grupo de Acesso do Carnaval Virtual apresenta seu enredo em homenagem a Luiz Carlos da Vila com o título: “Luiz Carlos de todas as Vilas” de autoria do carnavalesco Caio Cidrini e do presidente Charlles Mendes.

FICHA TÉCNICA:
Presidente: Charlles Mendes
Carnavalesco: Caio Cidrini
Intérprete: Rafael Faustino
ENREDO:

Luiz Carlos de todas as Vilas

Autores: Caio Cidrini e Charlles Mendes

A voz mansa e o sorriso tímido por vezes tornam turva a grandeza de Luiz Carlos da Vila. “Seria mesmo esse baixinho um bamba?” perguntam-se os mais desavisados. Não só bamba como Poeta. Assim mesmo, com P maiúsculo. Beth, Arlindo, Zeca, Sombrinha, Ubirany e tantos outros deuses do Olimpo do samba só se referem a ele por tal alcunha. Se poeta é aquele que vê o que os outros não enxergam, que sonha a mais linda realidade e realiza os mais lindos sonhos, Luiz Carlos da Vila foi um Camões suburbano, um Maiakóvski sob a sombra da tamarineira, um Neruda fincado entre as rochas da Vila da Penha. Para quem julgar tais afirmações exageradas, o Curral das Éguas avisa logo que exagero seria não usar a hipérbole para tratar de Luiz. Capaz de inventar uma oitava cor no arco-íris e de fazer de um vulgar um rei, o Poeta é lembrado pela facilidade em traduzir os mais complexos sentimentos em simples tintas. É a estética do exagero sem ser exagerado.

Originalmente, o apelido artístico diz respeito ao bairro onde cresceu e morou até o fim de sua vida. Vila da Penha que era palco dos Caldos e Canjas organizados por Jane, esposa de Luiz Carlos, na Travessa da Amizade. Contudo, não seria confusão nenhuma ser da Vila por causa de Vila Isabel, agremiação na qual o Poeta ganhou dois sambas como membro da ala dos compositores. O primeiro, “Os Anos Dourados de Carlos Machado”, levou a escola de volta ao desfile principal em 1979. O segundo, convidado por Martinho para as eliminatórias, deu o primeiro campeonato à escola da terra de Noel com Kizomba em 1988. Entre uma e outra conquista ainda foi ganhador na Cabuçu que homenageou a Madrinha do Samba. A verdade é que certo está Nei Lopes que designa Luiz Carlos como de todas as vilas, vielas e ruas.

Isso, porque é impossível falar de Luiz Carlos da Vila sem falar do subúrbio. O compositor representa uma fatia da população que foge às dicotomias morro/asfalto, cultura popular/erudita, arte autodidata/acadêmica. É uma classe média periférica que estudou em escolas particulares, concluiu o ensino médio e conseguiu alcançar a universidade. De acordo com Luiz Antônio Simas, “pessoas que têm, de um lado, ambições culturais, intelectuais e de consumo, e, de outro, a vivência suburbana, a experiência da rua, de encontros permeados por outro tipo de sociabilidade”. E o Poeta sabia disso. Não por acaso, encabeçou com Dorina e Mauro Diniz o bloco Os suburbanistas, celeiro de novos sambistas para as bandas de Irajá, Oswaldo Cruz, Vista Alegre, Colégio, Vila da Penha, Brás de Pina e tantos outros que cantam com muito orgulho e vivem felizes as herança dos quintais.

Nas voltas da vida, depois de nascido no bairro, o curumim de Ramos retornou ao lar do Cacique para escrever suas obras-primas. Voltando do trabalho de ônibus pela Rua Uranos, Luiz Carlos se deparou com um fuzuê que o fez descer e mudar sua história. Em 1977, um grupo de peladeiros que jogava às quartas-feiras na quadra do bloco resolveu fazer um barulho após o futebol. Ali, começava uma revolução cultural. Com novos instrumentos entrando na roda, muita cerveja e muito improviso, vieram sambistas de todos os cantos. Inclusive Beth Carvalho que abraçou e promoveu o grupo que nascia: Fundo de Quintal. Tanto Beth quanto o Fundo de Quintal foram os maiores impulsionadores da obra do Poeta do Samba. Eles gravaram canções como Além da Razão, Arco-íris, Romance dos Astros, O Show Tem Que Continuar e um dos hinos do Cacique: Doce refúgio. Ubirany conta que essa obra-prima nasceu no próprio quintal do bloco. Ambos tomavam uma gelada quando uma folha da árvore caiu dentro de um dos copos. Desafiando Luiz Carlos da Vila, ele disparou: “Você não é poeta? Faz uma música sobre isso.”. O Poeta retrucou: “Sim, é o Cacique de Ramos, planta onde todos os ramos cantam os passarinhos nas manhãs…”.

Em dias de folia, ainda moleque, Luiz Carlos da Vila descia rumo ao Centro da cidade para o que definiu como sua maior escola: as concentrações das escolas de samba do Rio. Na Candelária, quando os desfiles ainda eram na Presidente Vargas, ele ouvia baluartes do Império Serrano, da Mangueira, do Salgueiro e da Portela cantando e tocando sambas de terreiro e de quadra que faziam durante o ano. Lá viu de perto o talento de Mestre Fuleiro, Aniceto, Xangô, Anescarzinho, Zé Ketti, Manacéia e seu ídolo maior, Candeia. Com quem, aliás, teve o prazer de compor a última obra do mestre. Depois de homenagear o sambista após sua morte com O Sonho Não Acabou, ganhou do biógrafo de Candeia, João Baptista M. Vargens, uma melodia do compositor que havia encontrado nos arquivos da Funarte para que ele pusesse letra. Assim nasceu Luz do Vencedor.

Candeia não o iluminou apenas na música, mas, também a consciência negra de Luiz Carlos da Vila. O Poeta vai viver eternamente o seu dia de graça em uma manhã feliz por na sua curta passagem por essa vida ter compreendido tanto as veias do Brasil. Sortudos seríamos nós de contar com mais algum par de anos na presença de Luiz Carlos da Vila. No entanto, sua obra é mais que atual. Em tempos de intolerância, ódio e medo, Por um dia de graça ainda é uma oração de esperança. Samba derrotado no G.R.A.N.E.S Quilombo, fundado por Candeia no final dos anos 70, ganhou o Brasil na voz de Simone em 1984 ao se tornar hino das Diretas Já no processo de redemocratização do país. Mais de três décadas depois, ainda tropeçamos na busca pelo raiar da liberdade, porém, é certo que Luiz Carlos da Vila ainda saudaria e se despediria de todos que cruzassem seu caminho com um caloroso e habitual “Feliz Natal”, revelando a sabedoria de quem é ciente de independente do dia e do momento é preciso comemorar os encontros.

1º SETOR: O CANTAR À VONTADE

2º SETOR: O SAMBISTA FOLIÃO

3º SETOR: A SENSIBILIDADE DO POETA

4º SETOR: A CONSCIÊNCIA NEGRA

 

PARA INSPIRAR

Playlist do enredo: https://spoti.fi/33uhN94

 

INFORMAÇÕES DA DISPUTA DE SAMBA:

Os compositores interessados em participarem das eliminatórias de samba devem enviar letra do samba e arquivo em MP3 para caiocidrini@gmail.com ou pelo Whatsapp para o (21) 99893-1960 até dia 15/05. O vencedor será definido no dia 18/05/2020.

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