O caso George Floyd e a situação do negro aqui no Brasil

Caso George Floyd. Foto: Reprodução

Os protestos contra a morte de George Floyd avançam, nos Estados Unidos, e arrebatam um número cada vez maior de pessoas que se mobilizam no combate ao racismo. As manifestações já são consideradas as maiores registradas no país norte-americano nos últimos 50 anos. Floyd, um homem negro, foi asfixiado até a morte por um policial branco. As imagens da violenta ação correram o mundo e desencadearam uma onda de protestos em vários países. Aqui no Brasil, o acontecimento que está chacoalhando o planeta apontou holofotes para a dura, mas por vezes velada, realidade chamada Racismo Estrutural.

“Libertos” da escravidão desde 13 de maio de 1888, no Brasil, a população preta continua sendo a mais impactada pela desigualdade social que se registra por aqui. Uma das maiores do planeta.

Dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) revelam que o risco de morte causada pela Covid-19 entre a população negra é 62% maior do que o registrado entre a população de etnia branca. O estudo tomou por base a verificação da cor da pele de vítimas fatais da doença. Entre os motivos que tornam mulheres pretas e homens pretos mais suscetíveis ao novo coronavírus estão a falta de acesso a direitos básicos, como alimentação de qualidade, moradia digna e condições de trabalho adequadas. O vírus não escolhe ninguém pela cor da pele, mas os danos por ele causados, comprovadamente, podem ser mais letais em quem possui a pele preta. Trata-se de uma questão social.

George Floyd, o homem preto assassinado nos Estados Unidos, era mais um negro desempregado. Antes da pandemia, Floyd trabalhava como segurança de um supermercado. A exemplo de outros cidadãos americanos, ele também perdeu o emprego, consequência do cenário pandêmico.

Aqui no Brasil, o desemprego não é uma situação enfrentada pelos negros apenas durante um cenário de pandemia. Dados da pesquisa sobre “Desigualdade Social por Cor e Raça”, desenvolvida pelo IBGE, apontaram, no final do ano passado – portanto num período em que ainda não havia pandemia -, que 64% dos cerca de 12 milhões de desempregados no Brasil são negros ou pardos. E mesmo quando o trabalhador negro consegue romper a barreira do desemprego ele tem salário menor que o do colega de trabalho branco, não importando se ambos possuem o mesmo grau de instrução.

Nos Estados Unidos, um dos gritos que mais ecoam durante as manifestações contra a morte de George Floyd é “vidas negras importam”. A expressão está perfeitamente alinhada à situação que encontramos aqui no Brasil. Analisando os homicídios registrados no país entre os anos de 2012 e 2017, o IBGE constatou que, para os pretos, o risco de ser assassinado é quase 3 vezes maior do que para os brancos. No período de 6 anos analisado pela pesquisa, 255 mil pretos e pardos foram assassinados no Brasil.

O grito por socorro asfixiado na garganta de George Floyd, lá nos Estados Unidos, ganhou liberdade através das vozes de homens e mulheres, pretos ou brancos, de todo o planeta, que parecem ter despertado para uma dura realidade: Liberto das senzalas, o negro segue escravo de todas as mazelas produzidas pela desigualdade social e, sobretudo, pelo racismo.

* Artigo de autoria de Robson Machado – jornalista negro, que nasceu numa favela carioca. Possui na carreira dois dos mais cobiçados e respeitados prêmios do cenário jornalístico nacional, o “Prêmio Vladimir Herzog de Anistia e Direitos Humanos” e o “Prêmio Tim Lopes de Jornalismo Investigativo”, ambos conquistados no ano de 2015.










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