Ana Carolina Garcia. Foto: SRzd

Ana Carolina Garcia

Jornalista formada pela Universidade Estácio de Sá, onde também concluiu sua pós-graduação em Jornalismo Cultural. Em 2011, lançou seu primeiro livro, "A Fantástica Fábrica de Filmes - Como Hollywood se Tornou a Capital Mundial do Cinema", da Editora Senac Rio.

Festival do Rio 2017: “Pequena Grande Vida”

“Pequena Grande Vida” foi exibido durante a última edição do Festival do Rio (Foto: Divulgação).

Criador de um grande império de entretenimento, Walt Disney sonhava em criar uma cidade planejada no complexo da Flórida que abrigaria cerca de 12 mil pessoas numa comunidade modelo em constante evolução por meio de testes e demonstrações de novos sistemas, sobretudo tecnológicos. Chamada de “Protótipo Experimental Comunidade do Amanhã” (Experimental Prototype Community of Tomorrow), a comunidade não saiu do papel, mas foi transformada num dos maiores parques da Walt Disney World, o Epcot Center, que manteve a proposta de inovações científicas e tecnológicas na área conhecida como Future World – a outra área do parque é a World Showcase, o pavilhão dos países.

 

A ideia de comunidades modelo existe há tempos e é retratada no novo filme de Alexander Payne, mas sem o viés tecnológico sonhado por Walt Disney. Em “Pequena Grande Vida” (Downsizing – 2017), o objetivo de criar tais comunidades é salvar o planeta por meio do encolhimento humano. Medindo aproximadamente 12 centímetros de altura, o indivíduo produz menos lixo e, portanto, diminui o impacto sobre o meio ambiente. Com isso, várias comunidades são criadas ao redor do globo, sendo a Leisureland (Lazerlândia) a mais procurada dos Estados Unidos devido a tudo o que oferece aos seus moradores.

 

Lugar onde os sonhos da classe média americana se realizam, principalmente o da vida perfeita imposta pelo “american way of life”, a Leisureland é a comunidade escolhida pelo casal Paul (Matt Damon) e Audrey (Kristen Wiig), que deseja uma vida luxuosa e confortável, mas incompatível com sua realidade econômica. Com o passar dos anos, o procedimento irreversível chamado de Encolhimento, criado pelo Instituto Edvardsen na Noruega, gera impactos econômicos e sociais, facilitando até mesmo a ação de ditadores e imigrantes ilegais.

 

A vida em Leisureland é vendida como um sonho a concretização do sonho americano (Foto: Divulgação).

 

É exatamente nos contras que a trama ganha contornos realmente interessantes, pois a preocupação com o meio ambiente funciona como cortina de fumaça no roteiro escrito por Payne e Jim Taylor. Por trás da cortina, há um filme crítico sob todos os aspectos, sobretudo em relação ao sacrifício da classe média em prol do sonho americano, desconhecendo as engrenagens da comunidade na qual pretende residir. Dessa forma, os roteiristas conseguem levar às telas temas como desigualdade social, imigração e o efeito de grupos que se organizam como seitas, seguindo seus líderes sem nenhum questionamento.

 

Selecionado para a Mostra Panorama do Cinema Mundial da 19a edição do Festival do Rio, “Pequena Grande Vida” tem como um de seus alicerces a química de seu elenco. Contudo, o maior destaque dentre os atores é a tailandesa Hong Chau (Ngoc Lan Tran), que compõe uma personagem forte que não se deixa abater pelas adversidades, explorando seu drama pessoal por meio do humor. Filha de vietnamitas, a atriz ofusca a todos em cena, inclusive o protagonista Matt Damon, que trabalha as inquietações de Paul com a sensibilidade e a discrição utilizadas em Benjamin Mee, seu personagem em “Compramos um Zoológico” (We Bought a Zoo – 2011).

 

Dono de fotografia, direção de arte e efeitos visuais primorosos, “Pequena Grande Vida” perde parte de sua força em seu último ato por optar pela previsibilidade de um final convencional. Mesmo assim, é uma produção interessante que se desenvolve de forma ágil e agradável, conquistando a simpatia da plateia.

 

* O Festival do Rio acontece até o próximo dia 15.

 

Assista ao trailer oficial:

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