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Sucesso em Paris leva delegação do Brasil a pensar em liga para os Gay Games

Ana Luiza Animal. Foto: Divulgação

Ana Luiza Animal. Foto: Divulgação

As 24 medalhas – sendo 9 ouros, 11 pratas e 4 bronzes – conquistadas pela delegação Espírito Brasil na décima edição dos Gay Games, encerrada no sábado, dia 11, em Paris, deverão servir como semente para a criação, em nosso país de uma liga para a promoção da diversidade e contra o preconceito no esporte. A revelação foi feita por Camille Despagne dirigente da delegação verde e amarela, presente à capital francesa.

A futura liga esportiva ficaria encarregada de formar as delegações brasileiras não apenas para futuras edições dos Jogos do Arco-Íris, a partir da próxima, em Hong Kong-2022. Mas também promoveria um calendário nacional de eventos abertos não só a atletas gays como a heterossexuais, portadores de deficiências, idosos e outras categorias muitas vezes discriminadas no esporte convencional.

“Seria uma liga ou uma ONG, para continuar a agregar todos os representantes da diversidade e ver como organizar e planejar a presença de um número maior de participantes nos eventos com Gay Games, Out Games, Euro Games e outros. Já conversei sobre isso com atletas brasileiros, e para vários deles, esta delegação foi uma super iniciativa. Eles querem que nós continuemos. Vou preparar uma pesquisa com eles para ver qual será o melhor caminho”, antecipou Camille, francesa radicada no Rio. “Os resultados técnicos foram excelentes. Com pouco mais de 50 atletas, ganhamos medalhas em oito dos dez esportes em que participamos.”

Esta foi a maior delegação brasileira na história dos Gay Games, já que em edições anteriores das Olimpíadas da Diversidade o país não havia levado sequer 20 competidores. Sem quaisquer apoios das confederações, federações ou clubes brasileiros, a Espírito Brasil levou 50 atletas, a maioria custeando suas próprias viagens e hospedagens, graças às tradicionais vaquinhas, festas, eventos e gastos no cartão de crédito. Mesmo assim, ficaram de fora, por exemplo, as meninas do Estrela Nova, time de futebol do Rio, formado por atletas de baixa renda. Apesar de uma série de campanhas, elas não conseguiram viabilizar a viagem.

Para o futuro, as esperanças de Camille e dos atletas da delegação é de que, com a maior visibilidade conquistada agora, patrocinadores e também entidades do esporte convencional superem preconceitos e passem a apoiar o esporte-diverso, o de gays, lésbicas, comunidade LGBT+, idosos e paralímpicos, mesmo perfil de quem participou do evento em Paris. E se a capital francesa promoveu a festa, por quê não o Brasil, e talvez o Rio?

Ver o Brasil sediando os Gay Games é algo que já passa pela cabeça de Camille. Depois de Hong-Kong-2022, a próxima celebração esportiva será em 2026, em sede a ser escolhida em 2021. Até lá, caberia a essa futura liga elaborar um projeto de candidatura e obter os necessários apoios de governos e da iniciativa privada, para talvez realizar os Jogos no Rio, até para comemorar os 10 anos da Olimpíada e Paralimpíada Rio-2016, cujas instalações poderiam ser utilizadas.

“No momento é um sonho, mas espero que esse sonho se transforme num projeto”, enfatizou Camille.

Ana Luiza Animal. Foto: Divulgação
Ana Luiza Animal. Foto: Divulgação

A atleta símbolo da delegação e aquela com melhores resultados foi a corredora de rua Ana Luiza Garcez, a Animal, de 55 anos. Analfabeta funcional e ex-menina de rua, ela ganhou três ouros em sua classe de idade, nos 10km, 5km e meia-maratona.

“O tempo estava fresquinho (no ultimo sábado), corri tranquila e fiz minha prova em 1h332min07s. Já estou meio tristinha porque está acabando minha alegria”, declarou ela, se referindo ao encerramento oficial do evento, na noite deste sábado. “Agradeço a todo mundo que me ajudou a vir até aqui.”

Dono de um ouro, cinco pratas e 1 bronze, Jerry da Costa espera que com essa competição de nível mundial, que reuniu 10.300 atletas de 91 países, o povo brasileiro delete o preconceito.

“Peço a todas as famílias que não discriminem suas famílias, que os tratem bem, e entendam que essa é uma condição (homossexualidade), algo que temos de aceitar”, declarou, em entrevista ao Sportv.

A delegação Espírito Brasil foi bem sucedida nos décimos Gay Games, apesar de vários sacrifícios na luta por obtenção de recursos para viagens e hospedagens.

O quadro completo de medalhas do Brasil nos Jogos foi formado por:

Elvira Breda, atletismo. Foto: Divulgação
Elvira Breda, atletismo. Foto: Divulgação

Ouro – Ana Animal, nos 10km, 5km e meia-maratona, em todas na categoria 50 a 55 anos; Elvira Breda, lançamento de disco; Marina de Aguiar, mountain-bike, 40/44 anos; Vivian Camhi, mountain bike, 35/38 anos; Mariane Valêncio, 100m livre na natação; Jerry da Costa, salto triplo, no atletismo; e equipe masculina do Tiffanys, no vôlei divisão AA.

Prata – Jerry da Costa, nos 110m com barreiras, decatlo, lançamento do dardo, salto com vara e marcha atlética 5km, no atletismo, classe 45/50 anos; Mariane Valêncio, nos 100m peito, na natação; Fábio Lemes, no atletismo, revezamento 4×100 misto; time masculino do Volleyboyz, no vôlei, divisão B; Diego Ribeiro dos Santos, na maratona, classe 30 a 34 anos; time masculino do BeesCats, futebol de 7; e Márcia, pela equipe feminina do Didesex, com atletas de vários países, no futebol de 7.

Bronze – Fábio Lemes, na espada, esgrima; Elvira Breda, no arremesso de peso, atletismo; Mariane Valêncio, nos 50m costas, natação; e Jerry da Costa, no atletismo, na prova do arremesso de peso, 45/50 anos.

Time do BeesCats, prata no futebol. Foto: Divulgação
Time do BeesCats, prata no futebol. Foto: Divulgação

Individualmente, no feminino, a Animal obteve pelo Brasil, 3 ouros em igual número de provas. O destaque masculino brasileiro ficou por conta de Jerry Costa, com 1 ouro, 5 pratas e 1 bronze. O atleta Fábio Lemes obteve a façanha de conquistar medalhas em dois esportes diferentes, atletismo e esgrima. Vale lembrar que, na natação, Paulo Figueiredo, brasileiro radicado nos EUA e que competiu por seu clube de Los Angeles, ganhou dois ouros, cinco pratas e um bronze, no total de 8 medalhas.

Depois de encerrada, no último fim de semana, em Paris, a décima edição dos Gay Games, a próxima celebração do Esporte-diverso será em Hong Kong-2022. Para os primeiros Jogos do Arco-Íris na Ásia, os organizadores desejam aumentar a representatividade feminina nas delegações, modalidades e no evento, como um todo.

Vôlei, medalha de ouro. Foto: Divulgação
Vôlei, medalha de ouro. Foto: Divulgação

“Os responsáveis de Hong Kong me disseram que um dos focos de 2022 vai ser a diversidade, novamente, óbvio, mas a participação das mulheres. A gente vai trabalhar muito para que haja mais mulheres nas delegações e na delegação brasileira. Então, com a Estrela Nova e grupos de mulheres, vamos tentar incentivá-las para que possam participar daqui a quatro anos”, explicou Camille. “A ideia é que esta futura liga, ou talvez uma ONG seja melhor, faça já um planejamento, no final de 2018, com eventos de 2019, 2020, 2021, para os atletas e demais participantes poderem se preparar para ir a Hong Kong-2022”.

No caso do Brasil, a parcela feminina fez bonito. Das 24 medalhas verde e amarelas, as mulheres levaram 11. Foram 7 ouros (do total de 9), 2 pratas (dentre 11) e 2 bronzes (de 4).

Os Gay Games são realizados desde 1982, em San Francisco, pela Federação dos Gay Games (https://gaygames.org/Sports). O evento de Hong Kong será em novembro de 2022. Da programação, vão constar 36 esportes, incluindo modalidades locais, como corrida de barcos-dragão, corridas em trilhas e corrida pelo interior de um arranha-céu. São aguardados 15 mil competidores e pelo menos 25 mil espectadores. O impacto econômico previsto na região é de 1 bilhão de dólares de Hong Kong, ou cerca de R$ 496 milhões. Com 7,3 milhões de habitantes, Hong Kong é, assim como Macau, uma das regiões administrativas especiais da China, gozando de certa autonomia em relação ao governo de Pequim e dispondo inclusive de moeda própria. Até 1999 era uma colônia britânica.

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