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Copa do Brasil terá decisão inédita entre dois dos integrantes da Liga dos Sete

Copa do Brasil. Foto: Reprodução

Nesta quarta-feira, dia 10 de outubro, e na próxima, dia 17, a Copa do Brasil terá uma decisão inédita desde sua edição inaugural, em 1989. Pela primeira vez, Corinthians e Cruzeiro vão duelar por esta taça e consequentemente, pelo direito de disputar a Copa Libertadores de 2019. Ambos os clubes já colecionam conquistas nesta competição do sistema de mata-mata, isto é, eliminatório, que vem ganhando importância a cada temporada e já caiu mesmo no gosto do torcedor e despertou o interesse de patrocinadores. Tanto assim que somente nessas duas partidas finais serão pagos R$ 20 milhões para o perdedor e R$ 50 milhões para o campeão.

Corintianos e cruzeirenses somam, juntos, oito títulos da Copa do Brasil, sendo cinco do time mineiro, recordista de troféus na competição, junto com o Grêmio. Os alvinegros paulistas têm três taças. Além disso, os dois clubes fazem parte da Liga dos Sete na nova divisão de forças que pode ser percebida no futebol brasileiro. Nos anos 80, considerava-se que havia 13 grandes equipes neste esporte no país, o que deu origem ao Clube dos 13, que participaram (com Coritiba, Goiás e Santa Cruz, trio que foi convidado para formar um grupo de 16 participantes do campeonato) da Copa União de 1987. Esse torneio foi realizado em confronto com a CBF. Aquele foi um marco na história do marketing esportivo no país, porque a competição tinha partidas transmitidas ao vivo pela TV e também pelo fato de patrocinadores expressivos terem se juntado à iniciativa. Na sequência, o Clube dos 13 funcionou, de certa forma, como uma liga, principalmente pela negociação conjunta com a TV Globo, responsável pelas transmissões ao vivo, o que implicava – e implica ainda – no pagamento de cotas anuais a essas equipes.

Em 2011, o Clube dos 13 implodiu, devido a uma série de disputas e rivalidades internas. Com isso, a TV passou a negociar as cotas em separado, além de redividir os valores dessas mesmas cotas. Na primeira vez em que tal sistema foi adotado, havia uma espécie de elite, reunindo os cinco com maiores torcidas: Flamengo, Corinthians, São Paulo, Palmeiras e Vasco. Os demais eram divididos em faixas até se completarem 20 equipes. Atualmente, pós-Clube dos 13, apenas Flamengo e Corinthians recebem as maiores cotas, de R$ 170 milhões/ano, no primeiro bloco da divisão. São seguidos, no segundo, pelo São Paulo, que recebe R$ 110 milhões/ano. Já o terceiro bloco é composto por Palmeiras e Vasco, recebendo R$ 100 milhões/ano, cada. Sozinho, o Santos representa o quarto bloco, recebendo R$ 80 milhões. O quinto é composto por Grêmio, Inter, Fluminense, Cruzeiro, Atlético-MG e Botafogo, com R$ 60 milhões, cada. No sexto, se encontram Bahia, Atlético-PR, Sport e Vitória, cada qual com R$ 35 milhões. Já a Chapecoense está sozinha no sétimo, com R$ 32 milhões. O último bloco é o dos que ascenderam da Série B: América-MG, Ceará e Paraná, cada qual R$ 23 milhões.

Entretanto, quando se fala de Liga dos Sete, o critério não é o financeiro, apenas. Desde meados dos anos 2000, com as próprias mudanças no regulamento do Campeonato Brasileiro, que passou a ser disputado por pontos corridos em 2003, e pelo fato de alguns grandes terem sido rebaixados – o Vasco, por três vezes; Botafogo; Palmeiras, Corinthians, Grêmio, Inter, Atlético Mineiro, Bahia, entre outros -, a gangorra do futebol mudou. Hoje, claramente não há mais 13 grandes equipes no Brasil. Mas apenas sete, levando em conta, nas temporadas recentes: títulos nacionais e internacionais; frequência nas decisões ou nas primeiras colocações dos torneios nacionais; frequência de participação na Libertadores da América e na Copa Sul-Americana; ausência das últimas colocações do Brasileirão; não ter corrido risco de rebaixamento; capacidade de conquistas e de contratações de vulto; estádios e CTs próprios; gestão empresarial e equilíbrio financeiro.

Diante de tais critérios, há sete gigantes no Brasil. Do estado de São Paulo, são Corinthians, Palmeiras e São Paulo. Do Rio de Janeiro, o Flamengo; e de Minas Gerais, o Cruzeiro. Do Rio Grande do Sul, Grêmio e Internacional. Caíram do patamar de gigantes: Bahia, Vasco, Botafogo, Fluminense, Santos e Atlético Mineiro.

Não é difícil entender o porque dessa nova divisão de forças. Na Liga dos Sete, Flamengo e Corinthians são óbvios, não apenas pelo tamanho de suas torcidas e pelas cotas de TV e patrocínios expressivos. E, o mais importante, frequentemente ganham ou disputam troféus importantes. O rubro-negro vem sendo apontado como modelo de gestão, “sobrando” em relação a seus tradicionais rivais cariocas. Já em Belo Horizonte, o Cruzeiro se desgarrou do rival Atlético Mineiro, embora este também tenha troféu da Libertadores. Os cruzeirenses são recordistas em Copas do Brasil colecionam troféus, finais ou pelo menos boas campanhas nos principais torneios nacionais e internacionais.

Palmeiras e São Paulo, por sua vez, tem perfis semelhantes, com presença frequente em decisões nacionais; quotas expressivas de TV; CTs e arenas próprias. Em Porto Alegre, há um fenômeno curioso.

Dada a enorme rivalidade, considerada a maior do Brasil por revistas estrangeiras de futebol, Grêmio e Inter puxam um pelo outro. Os patrocínios de empresas privadas e públicas são divididos com 50% para cada um. Além disso, ada qual conta com moderníssima arenas E os dois tem títulos mundiais, de Libertadores, Sul-Americana, entre outros.

Os patrocínios de empresas privadas e públicas são divididos com 50% para cada um. Além disso, ada qual conta com moderníssimas arenas. E os dois tem títulos mundiais, de Libertadores, Sul-americana, entre outros. Em Belo Horizonte, o Cruzeiro se desgarrou do rival Atletico, embora este também tenha trofeu da Libertadores. Os cruzeirenses são recordistas em Copas do Brasil colecionam troféus, finais ou pelo menos boas campanhas nos principais torneios nacionais e internacionais. São ou não são gigantes?

Mas o que dizer dos outros seis fundadores do Clube dos Treze? No Nordeste, o Bahia sofre pela distancia em relação ao Eixo Rio-Sao Paulo, Minas Gerais e Rio Grande do Sul. As quotas e os patrocínio à são menos vultuosos, o que reduz sua capacidade de investimentos.

No estado de São Paulo, o Santos, apesar de ter sido o time de Pelé, de toda sua história e de também ter estádio e CTs próprios, sofre com o fato de sua torcida não ser tão grande em âmbito nacional. Em Minas Gerais, o Atlético Mineiro conta com uma torcida apaixonada. Verdade. Mas seu contingente de admiradores no Brasil não é um dos maiores, o que pesa contra essa equipe. No Rio de Janeiro, Fluminense e Botafogo também não contam com grandes torcidas em âmbito nacional. Embora tenham a seu favor um CT próprio, no caso tricolor, e um estádio que se não é próprio, está sob sua administração graças a um contrato a Prefeitura do Rio (caso do alvinegro).

Por fim, o Vasco. Um dos clubes históricos do futebol brasileiro, por seus títulos e por sua trajetória de luta contra preconceitos sociais e raciais no começo do século 20, a equipe de São Januário não se adaptou ao novo jeito de fazer e gerir o futebol. Já sofreu três quedas para a Segunda Divisão desde 2008 e provavelmente irá amargar a quarta este ano. Mergulhado em dívidas, sem CT próprio e sem conseguir modernizar seu tradicional estádio, inaugurado em 1927, é o clube que corre o maior risco de despencar, deixando de ser visto mesmo como um grande. Isso se conseguir sobreviver diante da avalanche de novas exigências administrativas impostas pelo futebol business. Este esporte é exatamente isso, um business, isto é, um negócio. E para lidar com negócio, é imprescindível uma gestão moderna, o que o Vasco – definitivamente – não tem.

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