Quem disse que o confronto político partidário não pode ser feito com dignidade?

Tarcísio Motta, Marcelo Trindade, Paulo Parente e Sidney Rezende. Foto: Divulgação

Tarcísio Motta, Marcelo Trindade, Paulo Parente e Sidney Rezende. Foto: Divulgação

Fui convidado para moderar um evento organizado pelo escritório Di Blasi Parente & Associados e o Instituto de Relações Governamentais (seção Rio de Janeiro) no auditório do Novotel, na Avenida Marechal Câmara. A boa surpresa foi o altíssimo nível  das discussões travadas entre Marcelo Trindade (Novo) e Tarcísio Motta (Psol).

Os eleitores dos dois candidatos presentes no encontro concordaram que há muito tempo não tinham exposições de ideias e diagnósticos sobre o estado do Rio de Janeiro tão lúcidas. A assessoria de imprensa do Novo chegou a publicar um texto que vai ao encontro desta constatação, inclusive por parte dos organizadores:

“Em tempos de radicalização política e intolerância, o debate entre um candidato liberal e um socialista tinha tudo para terminar em confronto. Não foi o que se viu na apresentação de propostas de Marcelo Trindade (Novo) e Tarcísio Motta (Psol) no evento “O Rio que você quer”. As visões diferentes, em muitos pontos até opostas, não impediram a realização de uma discussão civilizada e repleta de propostas. Elas foram apresentadas e debatidas a partir de um discurso em comum de valorização da ética e de críticas ao toma-lá-dá-cá nas relações entre os poderes Executivo e Legislativo no Estado do Rio de Janeiro. Outros candidatos convidados não compareceram ao debate, promovido hoje de manhã pelo escritório Di Blasi Parente e o Instituto de Relações Governamentais (seção Rio de Janeiro) no auditório do Novotel, na Avenida Marechal Câmara.

Trindade e Tarcísio debatem em alto nível confrontando ideias liberais e socialistas

Trindade reiterou sua postura de ser o único candidato favorável à venda da Cedae, prevista no Acordo de Recuperação Fiscal firmado entre o Estado e a União. Assim como Tarcísio, os três candidatos que lideram as pesquisas – Eduardo Paes, Romário e Anthony Garotinho – já se posicionaram contra a privatização, o que ameaça o acordo e pode deixar o Rio mais uma vez sem recursos para o pagamento do funcionalismo.

Outro ponto que deixou os dois debatedores em posições contrárias foi em relação à atuação da polícia nos territórios dominados pelo tráfico. Ambos concordaram que investir mais na investigação e tecnologia é importante para cortar o fornecimento de drogas e armas ao crime organizado e reduzir os confrontos armados, mas Trindade disse que “não é possível abrir mão dos enfrentamentos” porque a polícia precisa circular por todo território do estado e encontra bandidos fortemente armados em áreas que estão sob seu domínio.

Ao contrário do psolista, para quem a intervenção federal na segurança do Rio “ainda não tem resultados”, Trindade elogiou a iniciativa. “Acho que estão fazendo um bom trabalho. Fizeram compras muito importantes, e o próximo governador vai receber muitos equipamentos”.

Tarcísio Motta, Marcelo Trindade, Sidney Rezende. Foto: Divulgação
Tarcísio Motta, Marcelo Trindade, Sidney Rezende. Foto: Divulgação

Não houve convergência, naturalmente, em relação ao tamanho do Estado. Trindade disse que é preciso superar uma contradição: querer um estado enorme e ao mesmo tempo recursos para administrá-lo, o que é impossível. É preciso, segundo ele, “reduzir o tamanho do Estado para focar a atividade em Segurança, Saúde, Educação e em qualidade de serviços públicos prestados pela iniciativa privada”.

– O caso da Segurança é exemplo clássico. Gastamos quase tudo em pessoal e não investimos em coisa nenhuma. Os próprios policiais militares hoje têm ciência de que precisam reformar sua previdência, seu plano de carreira. As promoções automáticas geraram o caos na administração das polícias no Rio. Aumentamos muito o gasto com pessoal, não temos dinheiro para fazer o resto e acabamos chegando na situação em que estamos.

Tarcísio ressaltou as diferenças entre as propostas, concordou que a promoção automática gerou um problema, mas esse foi “agravado pela ausência de concursos públicos” para a área de segurança. “A crise do estado é, sobretudo, de receita, e a lógica da austeridade só piorou a crise.” O caminho, segundo ele, é aumentar a receita com o aquecimento da economia.

Trindade disse que, para melhorar a polícia, o exemplo precisa vir de cima. “Se você tem um governador bandido, um secretário bandido, instabilidade no comando das polícias, não tem como fazer com que o planejamento funcione porque a tentação de fazer a coisa errada se impõe facilmente. Trindade disse que o plano de recuperação fiscal do Estado não proíbe contratações e que o Partido Novo nunca defendeu a redução das despesas públicas com Educação, Saúde e Segurança. Ao contrário, são essas áreas que precisam da atuação do estado.

– É para isso que queremos vender a Cedae, parar de fazer coisas que o Estado não sabe fazer. Esse dinheiro, retido pela burocracia, precisa chegar à população e permitir a contratação de policiais e o aumento do salário dos professores – concluiu Trindade”.

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