“Eu fui fazer um samba em homenagem à nata da malandragem, que conheço de outros carnavais”. Pois é, te digo que, a essa altura do campeonato, depois de tanto e tanto tempo, subestimei nosso nobre alcaide, nosso querido Dudu, o “Dudu do samba”. Político é um bicho danado que dá sempre um jeito de surpreender a gente. Sabia que ele era sagaz, mas, nesse seu início de mandato, em 2021, deu um show de esperteza, pelo menos no que se refere ao cancelamento do Carnaval 2021, no Rio de Janeiro.
Ao divulgar que, oficialmente, o evento que, outrora, havia sido transferido para o mês de julho, estava cancelado, nosso prefeito, numa tacada certeira, digna de um Rui Chapéu da vida, conseguiu agradar a todos, ao povo do samba, a quem odeia Carnaval, a católicos, umbandistas e crentes; se duvidar, até mesmo ao Bozo, Salci Fufu, Vovó Mafalda e Papai Papudo. Todos curtiram, deram likes e aplaudiram a “mais sensata das decisões”. Como bem lembrou o nobre Marcelo Barros, deste mesmo SRzd, Eduardo Paes, ciente de que uma das únicas decisões apoiadas pelo povo, em geral, foi o corte da grana para as escolas, se antecipou e rapou a verba do Carnaval ainda em janeiro. A bola quicando em cima da linha e o povo que estava esperando só uma oportunidade para destilar seu ódio contra o carnaval, sambistas e escolas de samba, estufou a rede.
Acho que ele se precipitou? Sim! Ninguém, nem eu, nem você, nem pessoa alguma do mundo sabe como vai se desenrolar esse lance de vacinação. Ninguém sabe. Imunização de rebanho? Ninguém sabe. Vai que o Butantan e a Fiocruz cumprem o seu planejamento de produzir milhões de vacinas por mês. Ninguém sabe. Há 200 outras vacinas para serem aprovadas no mundo. Do jeito que as coisas caminham NO MOMENTO a tendência é que, de fato, até julho, uma parcela bem, bem reduzida da população esteja imunizada. Achismo. O prefeito de Salvador, cidade que rivaliza com o Rio pelo posto de maior Carnaval do Brasil, preferiu aguardar antes de decidir se cancelaria ou não o evento na capital baiana. E assim fizeram os gestores de outras cidades do Brasil.
Cancelou o Carnaval e, automaticamente, os desfiles; com isso, é claro, não haverá repasse algum de verba para as escolas. Nosso bravo Dudu do Samba não pensou nisso. Não pensou, ou não quis pensar, que, por trás dos desfiles, há centenas de trabalhadores, pessoas humildes ou não, que vivem para, e do, Carnaval. Não pensou: “Legal, vou cancelar o carnaval, então não vou ter que passar dinheiro público algum para as escolas, mas e as pessoas que dependem disso para viver? Melhor pensar em algo alternativo, talvez em um outro formato, para manter ativas, econômica e profissionalmente, essas pessoas”. Nada. Necas de pitibiriba. Cortei a verba e ponto final, elas que se virem. Daí você se pergunta? E a Liesa e as escolas? Por que não pensam ou pensaram em algo também? Por que elas não se preocupam com as pessoas que tornam possível que um desfile exista, trabalhando, muitas vezes, em jornadas exaustivas e em péssimas condições de trabalho? Ora, a Liesa nunca fez absolutamente nada pensando nos operários da folia, pelo contrário, basta ver o monte de gambiarras na Cidade do Samba. As escolas, muito menos, uma vez que boa parte delas dá calote nos trabalhadores, operários da folia (muitas vezes até os profissionais bem remunerados recebem calote) e lhes fecha a porta. Foi assim durante a pandemia, com centenas dessas pessoas totalmente à deriva e desamparados.
Se, da Liesa e das escolas, a tendência é que não aconteça nada, que não proponham nada, que sejamos nós, a sociedade ou quem quer que seja, para aporrinhar a mente do nosso prefeito a fim de que ele, ao menos, se mobilize, já que é o “amigo do samba”, e ele mesmo proponha algo a favor, primeiro, dos trabalhadores, depois, para as escolas. Vivemos o pior período de nossas vidas, com centenas de milhares de mortos devido à COVID mundo afora, muitas lágrimas derramadas e, nesse momento, o samba, para nós, é um sopro de alegria e esperança. Dentro do limite, façamos nós, ou quem de direito, que ele, o samba, esteja vivo e pulsante, pois, diante de tanta desgraça, como dito, consegue nos arrancar um sorriso, fazendo com que nos sintamos vivos, esquecendo, por instantes que seja, o triste cenário que nos avizinha.
Natural de Padre Miguel, Jorge Renato Ramos é pesquisador, bacharel em Letras/Francês (UFRJ/UERJ) e autor da série de livros “Apoteótico: os maiores Carnavais de todos os tempos”.
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