Facebook sob pressão política reage mal à denúncia

Facebook. Foto: Divulgação

Facebook. Foto: Divulgação

Na sexta-feira (16), o Facebook ameaçou ir à Justiça contra o diário britânico Guardian que pretendia publicar — e publicou — uma longa reportagem sobre a empresa. No sábado, além do Guardian, o New York Times também tinha a mesma história: Christopher Wylie, um cientista da computação canadense de 28 anos, revelou como descobriu o truque para extrair do Facebook os perfis detalhados de 50 milhões de pessoas. Este material foi utilizado pela consultoria em que trabalhava, a Cambridge Analytica, nas campanhas vencedoras que tiraram o Reino Unido da União Europeia — o Brexit — e levaram Donald Trump à presidência. A empresa de Mark Zuckerberg passou o fim de semana sob fogo cerrado de legisladores nos dois lados do mundo anglo-saxão.

A segurança do Facebook não foi quebrada. Trabalhando pela consultoria, Wylie criou um app de quiz no qual usuários respondiam a perguntas sobre seus hábitos para receber como resposta uma caracterização de seu perfil digital. Ao fim, cada participante dava permissão para que o aplicativo acessasse dados não só de seu perfil como também o de todos seus amigos. Sim: em 2014, um usuário poderia, inadvertidamente, permitir que alguém puxasse os dados pessoais completos de todos seus amigos. 320 pessoas fizeram o teste, com em média 160 amigos cada. Pouco mais de 51 milhões de perfis foram para os bancos de dados da Cambridge Analytica.

Christopher Wylie, um cientista da computação canadense de 28 anos, revelou como descobriu o truque para extrair do Facebook os perfis detalhados de 50 milhões de pessoas.

O app foi baseado em um estudo científico sobre como utilizar redes sociais para pesquisa social. O paper, em PDF.

Com estes dados — os likes, os posts, idade, estado civil, local de residência etc. — a CA pôde fazer cruzamentos para perceber que um percentual alto de pessoas que odeiam Israel costuma gostar de chocolates KitKat. São padrões de comportamento sutis que parecem aleatórios, mas não são: há correlação. Cruzando este imenso volume de informações, a consultoria traçou perfis detalhados de eleitores que poderiam se inclinar pelo Brexit e por Trump. Sabia, para cada subgrupo, que argumento preciso costurar, que ponto fraco cutucar. O Facebook lhes entregou dados que ninguém mais tinha.

A primeira reação do Facebook foi suspender as contas da Cambridge Analytica, de Wylie e de Aleksandr Kogan, um professor da Universidade de Cambridge que ajudou na construção do app. (A Consultoria leva o nome por contratar pesquisadores da universidade britânica.) Mas a rede social tem um problema: vem, há anos, dizendo que é muito difícil extrair dados para usos ilegítimos. “É hora de Mark Zuckerberg parar de se esconder atrás de sua página no Facebook”, disse o deputado conservador Damian Collins, em Londres. Collins quer convocar Zuck para um depoimento formal. A senadora democrata Amy Klobuchar, em Washington, também vai convocá-lo. “Ficou evidente que estas plataformas não conseguem cuidar de si mesmas”, afirmou. Alex Stamos e Andrew Bosworth, executivos do Facebook, foram ao Twitter para defendê-lo: “Não houve um vazamento”, disse Boz. “As pessoas escolheram compartilhar suas informações.”

Aliás… De Steve Bannon, o assessor de Trump que montou com a Cambridge Analytica a estratégia de campanha nas redes. “Mussolini era adorado pelas mulheres, um homem entre homens. Viril. Sou fascinado por ele.”

Reportagem publicada originalmente no site Meio.

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