Estresse no fim de ano. Como se proteger?

Homem estressado. Foto: Reprodução de Internet

Homem estressado. Foto: Reprodução de Internet

Fim de ano. Época de fechar ciclos, fazer balanços, comemorar, se arrepender e refletir. Também é um tempo em que a solidão aparece mais. Aumentam o consumo de álcool e outras drogas, além do número de internações psiquiátricas e tentativas de suicídio.

O ano de 2016 foi um período do qual muita gente quer se despedir. Muito estresse pela situação político-econômica do país, medo do desemprego, falta de confiança em nossos representantes. A sensação de desamparo e incerteza é notória.

Em entrevista ao SRzd, o médico psiquiatra Jorge Jaber, membro da Associação Psiquiátrica Brasileira (ABP), especialista em dependência química em Harvard, explica o que acontece no campo psicológico e emocional do ser humano comum com a proximidade do fim do ano e detalha porque deve-se evitar os excessos.

Confira na íntegra:

SRzd: As pessoas ficam mais estressadas a cada fim de ano?

Jorge Jaber: Fim de ano é época de fechar ciclos, fazer balanços, comemorar, se arrepender. A sensação de dever cumprido faz com que muitos se sintam no direito de exagerar. Já a frustração e a tristeza por planos não realizados vêm acompanhados por uma sensação de que algo vai mudar mais uma vez, haverá uma nova oportunidade e é preciso firmar novos pactos consigo mesmo. A pressa para tentar resolver tudo o que faltou no pouco tempo que resta gera ansiedade. Também é um tempo em que a solidão aparece mais. Os afetos são colocados em xeque, com a proximidade do Natal. São dias de ‘permissão’ para excessos em geral, de compras, de emoções. Aumentam o consumo de álcool e outras drogas e também de comidas muito calóricas, o número de internações psiquiátricas por crises depressivas e as tentativas de suicídio. Os mais velhos, que já sofreram perdas ao longo da vida, em geral vêem seus universos mais reduzidos e se sentem mais sozinhos.

Jorge Jaber. Foto: Divulgação
Jorge Jaber. Foto: Divulgação

SRzd: O uso de álcool e outras drogas produz que efeitos no cérebro humano, nesta época de excessos e confrontos com a realidade da própria vida?

Jorge Jaber: O álcool é considerado uma droga psicotrópica, pois atua no sistema nervoso central causando mudanças de comportamento a quem o consome. O consumo excessivo tanto de álcool como de outras substâncias químicas provoca efeitos no organismo como euforia, desinibição e desenvoltura para falar. Mas, logo em seguida, aparecem os efeitos depressores, a diminuição da coordenação motora, dos reflexos, além de outros problemas de saúde, gerando acidentes e violência. Do ponto de vista fisiológico, o cérebro humano funciona com os neurotransmissores, que se assemelham às moléculas das drogas, como o álcool, o tabaco, a cocaína, a maconha. Nas datas festivas, há uma tendência de haver falta dessas substâncias no cérebro. Aí, a pessoa toma alguma substância, como o álcool, que é um estimulante em pequenas doses, mas que, se tomado em excesso, acaba produzindo o efeito inverso. Em vez de um estímulo ao sistema nervoso central, ela passa a ter uma inibição do sistema nervoso central, fazendo com que aumente ainda mais a depressão, decorrente muitas vezes da lembrança de pessoas queridas que não estão mais presentes.

SRzd: Então os excessos provocam o efeito contrário do almejado ?

Jorge Jaber: Sim. Há uma inversão de valores nas festas de fim de ano, com crescimento do aspecto mais materialista da data e não dos valores espirituais. As pessoas acabam abusando de substâncias como o álcool, que adicionam no organismo, como adicionam presentes, comidas…Mas o ideal seria que aproveitassem a oportunidade para melhorar a qualidade de suas relações afetivas. A partir daí, há um abuso que pode ser o fator determinante de doenças como alcoolismo e dependência química.

SRzd: O sistema de saúde pública no Brasil é suficiente para atender as mazelas causadas pelo consumo de álcool e outras drogas ?

Jorge Jaber: Não. Nessa época, costuma aumentar o número de internações tanto em hospitais de pronto-socorro, como em clínicas psiquiátricas, mas a saúde pública ainda não conseguiu resolver a questão de leitos hospitalares e, em relação à saúde mental, vigora a política da redução do dano. Ou seja, a pessoa pode usar (álcool, no caso), desde que não cometa atos que piorem a sua vida. O Brasil está experimentando esse tipo de política mas, aparentemente, ela não tem tido o sucesso esperado. Isso é constatado pela existência de cracolândias, que são acúmulos de centenas de pessoas drogadas, em especial nas grandes metrópoles. Mas o maior problema são mesmo as drogas lícitas, especialmente o álcool e o tabaco. Quase todas as pessoas que usam álcool começaram usando tabaco. E quase todos que usam maconha, começaram usando tabaco ou álcool. Acredito que a tendência atual seja a ampliação do uso de álcool pela população, no Brasil. O que nós temos visto é um aumento do custo na saúde pública com a liberação velada do álcool para menores de 18 anos. E isso leva a um abuso cada vez mais cedo nos jovens, gerando alterações físicas e mentais muito importantes. Não há falta de fiscalização na venda de bebidas para crianças e adolescentes, principalmente em postos de gasolina, onde os jovens compram suco ou refrigerante e tomam misturado a álcool. Todos vêem isso acontecer e não há um efetivo combate a essa prática. Os mais abastados costumam misturar vodca com bebidas energéticas ou cafeínicos, enquanto os que têm menos recursos procuram tomar cerveja com cachaça ou fazer essas misturas chamadas batidas, que misturam cachaça com refrescos ou refrigerantes

SRzd: O senhor acredita que haja um estímulo ao consumo de álcool pelos meios de comunicação, mesmo fora das datas festivas ?

Jorge Jaber: Sim. A propaganda de bebidas alcoólicas sempre condiciona sua ingestão à possibilidade de vida social e sexual. Quer convencer o sujeito de que ele só pode se divertir se beber. O que é uma mentira. E um crime, na minha forma de ver. O corpo humano é capaz de sentir alegria e prazer sem nenhum aditivo. Se a pessoa estiver triste, deve viver sua tristeza e elaborá-la. Se a tristeza se aprofundar e durar muito, deve procurar um médico para ser tratada em sua doença. O consumo de drogas só piora qualquer quadro psiquiátrico e de desequilíbrio emocional e aumenta o estresse. Para mostrar que o ideal é não usar drogas e evitar os excessos de álcool, há 13 anos faço prevenção em dependência química com o bloco Alegria Sem Ressaca. O bloco sai antes do Carnaval. Em 2017, sairá domingo, dia 12 de fevereiro, na esquina de Av Atlântica com R. República do Peru, em Copacabana. Nossa madrinha é a atriz Luiza Tomé. O craque Zico, a ala máster do Flamengo, Eduardo Dussek, Elisa Addor, Edu Krieger, o Cordão da Bola Preta e o Bloco Sargento Pimenta são alguns amigos da causa.

SRzd: Alguma dica para os que não têm problemas com o álcool e querem fazer brindes nas comemorações com a família e os amigos?

Jorge Jaber: Uma dica importante a quem quer comemorar as festas de fim de ano sem abrir mão de tomar uns drinques é beber com moderação, não sem antes fazer uma boa refeição. É preciso tomar água enquanto se está bebendo para desintoxicar e o mais importante: é preciso saber a hora de parar. 

SRzd: O bombardeio de más notícias que o brasileiro vem recebendo contribui para o stress do fim deste ano, especificamente ?

Jorge Jaber: O ano de 2016 foi um período do qual muita gente parece querer se despedir. Nas redes sociais, o que mais se vê são frases como ‘já vai tarde, 2016!’. Há muito estresse pela situação político-econômica do país, medo do desemprego, falta de confiança em nossos representantes pelas denúncias de corrupção e desconfianças de que a lei é igual para todos. A sensação de desamparo e incerteza é notória. Em quadros de crise como o atual, as pessoas devem procurar dentro de si os valores que consideram importantes para iniciar um novo ciclo com mais autoconfiança e cientes de que a saúde da sociedade começa em cada indivíduo. É preciso se fortalecer para enfrentar a realidade. E procurar ajuda especializada quando perceber que não consegue sozinho. Fazer exercícios físicos, manter uma alimentação equilibrada, beber bastante água e, principalmente, repito, evitar o abuso de álcool e o uso de outras drogas, podem dar uma mãozinha para quem quer entrar em 2017 com o pé direito.

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