De aço e veludo

Por mais que me esforce, não consigo imaginar Roberto Ribeiro com 71 anos. Como ele nos deixou muito cedo, só consigo lembrar dele ainda jovem, com seu riso alegre, seu modo de ser carismático, sua voz inesquecível. Mas o fato é que hoje, 20 de julho, ele estaria completando 71 anos e a gente começa o dia pensando nele.

Roberto Ribeiro, nome artístico de Dermeval Maciel Miranda, nasceu em Campos, Estado do Rio, a 20 de julho de 1940, filho de Antônio Ribeiro de Miranda e Júlia Maciel Miranda. Quando rapaz, ainda em Campos, cantava em bares e festas de amigos. Aos vinte e cinco anos, em 1965, resolveu vir para o Rio tentar a sorte como jogador de futebol. Treinou no Fluminense, de onde pretendia ser goleiro, posição que já ocupara em times de Campos.

Ao mesmo tempo em que treinava, fazia apresentações no programa A Hora do Trabalhador, da Rádio Mauá, cantando sambas. Em 1969, começou a frequentar a quadra do Império, Escola de sua simpatia, levado por Liete de Souza, irmã do compositor Jorge Lucas.

Em 1971 puxou pela primeira vez o samba da Escola na Avenida. Contava com muita graça a preocupação de todos os amigos e da direção da escola com o fato de ser estreante e talvez não aquilatar bem o grande esforço vocal que representava o desfile. Ao final, na dispersão, depois de cantar o lindo samba Nordeste, seu povo, seu canto, sua glória ininterruptamente e sem uma hesitação durante mais de uma hora, perguntou: – Já acabou ou agora é que vai começar? Sua voz poderosa de jovem de 30 anos não dava sinal de cansaço, límpida e entoada como sempre.

Tornou-se a partir de 1974 o puxador oficial do samba-enredo do Império, na mesma época em que começa a se projetar como cantor de sucesso, tornando-se um dos intérpretes de samba mais populares do país. Foi também compositor de vários sucessos e no Império foi autor do samba-enredo de 1977, Brasil, berço dos imigrantes, em parceria com Jorge Lucas, e voltaria a ganhar samba-enredo em 1979, ao lado de Jorge Lucas e Edson Paiva, com Municipal maravilhoso, setenta anos de glórias.

Tive o privilégio, como crítica de discos e shows, de escrever sobre ele algumas vezes. O título acima foi o que usei, para caracterizar sua voz doce e firme, num texto que escrevi sobre ele. Quando nos tornamos vizinhos, na Urca, no início da década de 80, fiquei sendo amiga do adorável casal e do Alex, chamado pelo apelido familiar de Lequinho, que hoje segue os passos do pai numa ascendente carreira de cantor de samba.

Desse convívio agradável, cujo elo mais forte era o amor ao Império Serrano, me ficou a sensação de toda a dificuldade que é lidar com a fama súbita, para a qual nem sempre se está preparado. Roberto era um homem simples que brincava no Clube do Samba, gostava de cozinhar e torcia apaixonadamente pelo Botafogo. Queria uma vida simples, em família e entre amigos, mas muita coisa mudou de repente à sua volta, trazendo problemas antes não suspeitados, como o despeito e a falsidade, que não estava acostumado a driblar.

Roberto Ribeiro viveu bem menos do que merecia, poderia ter sido muito mais feliz do que foi. Ainda assim, no Império Serrano e no mundo do samba é cultuado como um dos maiores puxadores de samba-enredo de todos os tempos, aquele que primeiro desceu do carro de som para estar perto do seu povo e incentivá-lo a cantar. Fora da passarela, no panorama do samba do Brasil, é considerado um cantor inigualável. E no coração de seus amigos haverá sempre um lugar muito especial para lembrá-lo.

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