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Artigo: Como manter a relação amorosa com a chegada do bebê

A chegada de um bebê na vida de um casal é um momento aguardado com muita expectativa e alegria. As pessoas preparam o quarto, as roupinhas e deixam tudo o mais organizado que conseguem dar conta. Mas raramente pensam nos conflitos que a nova família terá que superar com a chegada do mais novo membro. São tantos detalhes a pensar que o casal não tem nem tempo de antever quais e que tipos de conflitos podem ocorrer e como lidar com eles.

Ao longo deste texto vamos focar nos principais conflitos vivenciados pelos casais, e o que podem fazer para evitar ou lidar com eles da melhor maneira possível. O nosso objetivo é contribuir com a construção e manutenção de vínculos que sejam resilientes para enfrentar grandes transformações. É preciso que ambos estejam dispostos em ternos de tempo, envolvimento emocional e elaboração de estratégias criativas para que essa gestão compartilhada da mudança de vida dê certo. De acordo com o Relationship Research Institute a maioria dos casais se separam entre 3 a 5 anos após a chegada do primeiro filho.

Os principais conflitos:

Sobrecarga:

A mulher se sente sobrecarregada com os cuidados do bebê e acha que o companheiro deveria fazer mais do que ele faz. O homem também se sente sobrecarregado e não reconhecido.

Essa sensação é muito comum dentre os casais. A mulher está amamentando o bebê e esse fato em si já demanda muita energia do corpo, da mente e da emoção. Além disso, acontece a abstinência de sono para ambos e a mulher está no puerpério, momento de ajustes hormonais que afeta o humor e as emoções. As tarefas de casa se acumulam trazendo insatisfação para ambos os lados. A mulher está em um momento em que mais precisa de apoio na sua vida. O cansaço, a falta de clareza de como administrar as emoções e a bagunça na casa causam muito estresse.

“Meu marido é muito bagunceiro e eu acabo ficando sobrecarregada, eu já falei com ele e melhorou um pouco, mas ainda me dá muito trabalho. Não temos familiares na nossa cidade, o que torna a situação mais difícil, porque nem mesmo momento a dois conseguimos ter” – Jéssica

“Meu marido acha que ele tem que descansar nos raros momentos que ele está em casa, porque ele trabalha fora e acha que precisa descansar. Ele não percebe que eu estou exausta e preciso dormir, porque se eu não dormir como vou cuidar da criança? Ou seja, jornada dupla para mim também” – Vanessa

“Ele tem mania de achar que pode descansar com recém-nascido em casa! Bebê novinho é isso! É privação de sono, é difícil mesmo!” – Claudia

“Minha mãe ter se mudado para minha casa no começo foi bom por um lado porque ela me ajudou muito, mas por outro meu marido ficou meio acomodado. E ele não consegue ter dimensão do que é ficar em casa com o bebê” – Taisa

Clausura e distanciamento:

Geralmente o homem volta a trabalhar antes da mulher. Ou tem mais liberdade para ir e vir sem o bebê. A mulher sente que ele tem “a vida de volta” enquanto ela continua na “clausura” cuidando 24h do bebê. As mulheres experimentam sentimentos de solidão, abandono, inveja e acham que os companheiros não reconhecem o nível de energia que demanda estar em casa com um bebê.

“Foi difícil ter que doar 24h do meu tempo ao bebê, enquanto o marido ficava muito tempo fora de casa. Senti muita solidão, inclusive isso gerou muitas brigas. Eu não sentia ele inserido no contexto como eu. E além disso, me sinto mais como amigos do que como um casal normal” – Fabricia

“Eu tinha inveja de ver meu marido dormindo enquanto eu acordava para de mamar várias vezes ao longo da noite. Às vezes eu acordava ele de propósito, eu não queria ficar sozinha, eu precisava de apoio, mesmo que atrapalhasse o dia dele. Eu ficava tão cansada que qualquer momento que eu tinha livre eu só queria dormir, namorar sempre para depois e para depois” – Renata

“Eu me sentia vivendo em uma caverna de leite! Mal arrumada com olheiras e com o bebê pendurado nas tetas, é como se eu tivesse perdido minha identidade. De repente, eu não tinha mais autonomia e liberdade para fazer o que eu quisesse, e meu namorado continuava tomando uma cervejinha com os amigos, nem era tanto, mas eu ficava para morrer, achava que ele tinha que habitar a caverna de leite junto comigo!” – Diane

Interferências

Os familiares de ambos os lados querem o melhor para o bebê assim como os pais. O problema é que cada membro da família tem a sua forma de expressar e de fazer determinadas coisas, e que não necessariamente está de acordo com o que os pais acreditam ser o melhor. Acontece aqui um conflito de gerações e de forma de educação.

“Minha mãe queria dar água e chá para o bebê de 3 meses, quando a recomendação médica de hoje é apenas leite até os 6 meses. Ela achava que o bebê tinha sede, eu tive que levá-la ao pediatra para que pudesse compreender direito. Foi muito cansativo!” – Flavia

“Minha sogra acha que não tem problema dar açúcar para o bebê quando eu sou radicalmente contra, mesmo que seja em suco de laranja. A recomendação da pediatra foi o bebê comer a laranja e não tomar suco concentrado. É muito estressante isso.”

“Minha mãe fica supervisionando tudo que meu marido faz com o bebê, se limpou o cocô direito, de passou o hipoglos, se secou direito affffff, ele fica irritado porque não consegue relaxar com o filho” – Gabriela

O que fazer?

Os conflitos sempre vão ocorrer em nossas vidas e eles podem ser vistos como uma oportunidade para ajeitar algumas questões que não estão funcionando muito bem. O primeiro passo para lidar com um conflito é reconhecer que ele existe, falar sobre os incômodos e juntos buscarem uma solução.

Auto-observação

Antes de conversar ou brigar com o seu parceiro ou parceira olhe para dentro si. Tente ter clareza sobre o que você realmente precisa neste momento. As pessoas tem o hábito de se comunicarem através julgamentos e críticas, o que costuma ser recebido com resistência, ao invés de colaborar com uma solução. Então se você está cansada e sobrecarregada verbalize que tem necessidade de mais apoio e diga como esse apoio pode acontecer, ao invés de dizer algo como “Você não ajuda com nada e faz bagunça!”.

Conversar sobre expectativas e sentimentos:

É muito importante que o casal tenha tempo para conversar sobre como cada um está vivenciando a paternidade e a maternidade, e o que cada um precisa para sentir apoiado, amado e considerado. Lembre-se sempre que o óbvio para você não é para o outro. Comunique claramente como você quer ser apoiada o do que precisa em certos momentos. Conversem ao longo da gestão, antes do parto e principalmente se escutem muito após o nascimento do bebê. Muitas coisas vão mudar, as emoções estarão à flor da pele para os ambos os lados, mas muito mais para a mulher. Tenham paciência com as falhas e a demonstração de impaciência um do outro, está difícil para todo mundo, mas vai passar. Busquem se abraçar, demonstrar afeto e compaixão um pelo outro. A vida dos dois vai mudar muito e isto é assustador. Cada pessoa tem uma forma de expressar e lidar com isso, comuniquem qual é a de vocês para evitar falhas de comunicação.

Estudar juntos:

Ao longo da gestão é comum que as mulheres leiam muitos livros sobre gestação, parto, puerpério, sobre experiências de várias mulheres para conseguirem compreender um pouco sobre essa transformação gigante que irá acontecer com elas. Alguns homens não se preocupam com isso, ou acham que não é relevante para eles! Mas esse é um grande engano. Os homens devem se informar e estudar junto com a mulher sobre cada etapa da gestão, da amamentação e do puerpério. É importante que eu o casal compartilhe informação e conhecimento sobre o que está por vir e como o homem poderá apoiar a mulher neste momento. A mulher estará muito sensível e vulnerável e todo apoio físico e emocional será fundamental. Desde pegar um copo d’agua, dar suporte na amamentação e dar as mãos para ela simplesmente chorar. É importante que o homem busque revelar como se sente e que também busque apoio emocional com familiares e amigos, as atenções costumam ficar bastantes centradas no bebê e na mulher neste momento.

Elaborar acordos:

É importante que o casal converse e chegue em algum acordo antes do bebê nascer sobre:

Visitas de familiares

Pense sobre quem e por quanto tempo deverá visitar vocês. Lembrem-se que é um momento de sobrecarga e abstinência de sono. Pense em qual visita poderá ajudar vocês neste momento.

Como serão organizadas as tarefas domésticas

Pense como vocês darão conta dos serviços domésticos, levando em consideração que a mulher estará inteiramente dedicada ao bebê, principalmente nos primeiros meses. As tarefas de casa costumam ser a causa de muitos conflitos por duas razões principais: dificuldade em aceitar que a organização de antes não será possível, manter o mesmo padrão com um bebe em casa e quase impossível. O casal pode escolher flexibilizar e ter menos atrito ou um ficar implicando com o outro e desgastar a relação. O segundo motivo são os acordos não cumpridos, então pense bem antes de se comprometer porque a expectativa do outro lado estará alta.

Planeje uma estratégia para conseguirem estar a sós

É importante manter a conexão como casal, mesmo que seja por pouco tempo no início. É importante conseguirem sair para jantar, lanchar ou andar na praia ou na praça, nem que seja por apenas 30min. Passar meses apenas administrando logística, discutindo tarefas domésticas e trocando fraudas pode ser bem chato. Inclua diversão junto com o bebê e também a sós como casal.

Planeje momento para espairecer

A rotina como um bebê é muito cansativa e somos absorvidos inteiramente por ela. Momentos a sós ou com amigos e amigas são importantes para regular as emoções, e liberar as tensões, contribuindo para o bem-estar a dois. Sabemos que as mulheres se sentem enclausuradas, mas acredite: a clausura a dois pode ser bem pior. Converse como o seu parceiro sobre como você se sente, mas não o impeça de ter momentos descontraídos só porque você não pode. Pensem juntos em como os dois podem ter momentos individuais.

Leveza e bom humor

A nova vida em família já terá muitos desafios logísticos e físicos, e será muito fácil sentir irritação, tédio e sofrer a tentação de entrar no jogo da culpa e crítica. Importante o casal se esforçar para não ser chato, para ver o lado positivo, para inserir bom humor nas falhas.
Sabemos que o assunto é complexo e longo e esperamos que essas dicas tenham ajudado a dar um norte de como lidar com os conflitos que surgirão. A nossa sugestão é que o casal se aprofunde no estudo da Comunicação Não-Violenta para compreenderem melhor como é possível se expressar de forma autêntica sem ofender ou magoar o outro. Que haja uma boa dose de autocompaixão e que a parceria seja lembrada a cada instante.

*Diana Bonar é especialista em Gestão de Conflitos e Estudos da Paz. Saiba mais em www.peaceflow.com.br

Diana Bonar*

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