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Artigo: Quando as fintech’s encontram o futuro

Quem disser que um brasileiro mais simples sabe investir suas economias só pode estar mentindo ou ignora o significado dessa palavra. Essa é a minha opinião, que acabou sendo corroborada pela distância apontada entre um pequeno investidor nos EUA e o seu equivalente em terras tupiniquins. Enquanto lá encontramos massa crítica de aplicações e euforia em torno de criptomoedas – tendo o bitcoin como a mais famosa – e outros investimentos virtuais, por aqui temos que encarar uma população encurralada pela “segurança” das cadernetas de poupança, mais de 80% do dinheirinho guardado, oferencendo taxas negativas de rentabilidade, um verdadeiro desestímulo a quem deseja ter reservas para um futuro melhor.

A Mulher-Órama é uma referência nesse mercado de empresas financeiras que possuem a internet como elemento em comum. Entre elas, no entanto, não faltam diferenças, quase sempre difíceis de perceber. Faltam fundamentos, não existe educação financeira no país. Contrariando nossa amiga Cristiane Bellotti, não terei como esquecer a realidade americana, uma estrada de mais de dez anos e em escala evolutiva meteórica. Operar nas duas pontas da equação, de um lado desenvolver de baixo para cima a cultura do investimento, do outro aplicar técnicas disruptivas, trazendo aos mais ousados e afeitos aos riscos, os nomes de pelo menos dez financeiras de lá, com modelos bastante distintos entre si.

Começando pela Stripe e seu bolo avaliado em 22,5 bilhões de dólares. Trata-se de uma empresa liderada por dois irmãos irlandeses, formados no MIT e em Harvard. Você pode se perguntar como uma empresa com oito aninhos de idade que começou ajudando pequenas empresas online em seus processos de pagamento. Por mais incrível que possa parecer, hoje tem na carteira de clientes a Microsoft e a Amazon. Deixo para os mais curiosos toda margem para imaginação e pesquisa. O assunto merece e já existe farta literatura online.

Já a Coinbase tem suas raízes no negócio de bitcoin, e amealhou em valor 8 bilhões de dólares até aqui. Não parou por aí, vem diversificando seus negócios, coisa que se aprende nas boas escolas de economia. A entrada no mercado educacional com pagamentos na moeda bitcoin é algo que nossas mentalidades revolucionárias deveriam olhar com alguma curiosidade.

Dentro do espírito “tirar dos ricos para dar aos pobres”, o nome do negócio de valor na ordem de 5,6 bilhões de dólares, a Robinhood é uma empresa que utiliza seu aplicativo atuando como broker dessas novas moedas. Leva a vantagem em lugares onde a narrativa sobre destruir o sistema financeiro atual ganha popularidade. Todo esse cenário, como bem disse Cristiane, está anos-luz de distância da nossa base de poupadores, esses sim, verdadeiros pobres coitados, num país que aprendeu colocar uma camada inteira dos ganhos e da geração de riqueza nas mãos de um estado que pouco ou quase nada entrega pelo que leva.

As alternativas apresentadas numa conversa mais informal com a Diretora de Marketing da Órama permitiu enxergar uma parte da filosofia almejada pelos seus donos. Logo no início, desenharam uma estratégia para dar acesso a melhores níveis de remuneração aos que possuem pouco dinheiro. A fórmula simples, para cada mil reais de um investidor de menor porte, aportavam no mesmo lote de aplicação outros noventa e nove mil reais, dando assim acesso a níveis de rendimento nunca antes imaginados pelo perfil do pequeno, no Brasil. Uma ideia simples, bem executada e de sucesso.

Mas o laboratório da Órama não parou por aí. Inspirados na Black Friday, desenvolveram uma iniciativa de princípios equivalentes e abriram as portas de investimento sem taxas para ampliar a base de interessados, trocando assim seus rendimentos de menor escala por uma aposta no aumento do volume de pessoas atingidas. Não satisfeitos com a sexta-feira, ampliaram para a semana e também para todo o mês de novembro. A veiculação dessas iniciativas por meio de campanhas pela televisão também foi utilizada, embora nesse caso seja preciso admitir que a cultura e o entendimento das questões de fundo envolvendo o mercado de investimentos financeiros tenham sido identificados como entraves.

Não basta aplicar a frase clichê de que nos falta a cultura nesse campo. Nas observações de campo que realizo, fica muito evidente o ambiente de profundo desestímulo no qual o país se transformou, ou sempre foi, e nesse momento vem sendo agravado. Todas as conquistas passadas por aqui parecem term vida curta, as incertezas quanto a durabilidade dos marcos regulatórios fica garantida pela ponta de uma caneta que a cada 4 anos pode tudo. Não há sistema econômico que resista a essas variações, salvo os mecanismos de ordem especulativa, esses sim, eternos ganhadores.

A pergunta que se forçou responder como título do painel “O Futuro do Dinheiro”, não fazia muito sentido para minhas elaborações. Tenho me aplicado a localizar o valor das coisas de um modo geral, e em especial das mais intangíveis, porque essas sempre foram muito resistentes a ideia de métricas. Mesmo assim, seja qual for o produto, o serviço, o interesse e o desejo humanos, o valor se manifesta, e isso se dá mesmo para um quadro de Van Gogh. A complexidade dos sistemas financeiros atuais irá absorver das maneiras mais diversas as inovações propostas, mas também descartar outras. A disputa acirrada por padrões e escala de adoção explicam bem os altos e baixos que acompanhamos nas moedas virtuais. E sobre esse ângulo terei que deixar para o próximo capítulo onde as plataformas de inovação serão examinadas.

Até lá, resta torcer para que você, poupador de produto micado do governo, essa poupança que nada lhe rende, estude um pouquinho mais e procure encontrar melhores opções, hoje existentes, mesmo no mercado brasileiro. Nossa conjuntura não vive um mar de rosas, mas é possível ir além da mediocridade dos atos automáticos.

*em colaboração ao SRzd

Vladimir Cavalcante*

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