Artigo: Jorge Jesus apresenta o futebol europeu ao Brasil

Flamengo vence Palmeiras por 3×0. Foto: Alexandre Vidal e Marcelo Cortes/Flamengo

No futebol é impossível fazer previsões com 100% de certeza. Eu não sei se o Flamengo será campeão do Brasileiro e da Libertadores, mas é o favorito do nosso campeonato nacional.

Eu vejo poucos jogos do Flamengo. Sempre fui assim, mas as últimas partidas me chamaram a atenção. O treinador Renato Gaúcho disse que Jorge Jesus fez do Flamengo um bom time porque o clube gastou 160 milhões de reais em contratações de alto nível. Isso só em parte é verdade.

O que vi na equipe do Flamengo nesses jogos foi uma ação tática típica de equipes européias do século XXI. O time é mais compactado, quando perde a bola forma-se um bloco formado pelos atacantes e os meio-campistas para recuperar a bola e, então, chegar rapidamente com 5 ou 6 jogadores no ataque em trocas constantes de posição.

O Brasil fez frente aos europeus até a primeira metade da década inicial deste século. A partir daí havia uma mudança para melhor na formação de treinadores europeus que passaram a privilegiar o toque de bola com objetividade e compactação. E nós aqui com esquemas dos anos 90 e suas variações: equipes espaçadas, dependentes apenas da categoria de um ou outro atleta e a exaltação dos gols em bola parada. O São Paulo de Muricy, tricampeão brasileiro entre 2006 e 2008, era muito atrasado em relação ao que se jogava na Europa.

Eu vi no estádio Vicente Calderón uma partida entre o Atletico de |Madri e o Barcelona, em 2012. Era a segunda ou terceira partida de Simeone à frente da equipe da capital. Ver o Barcelona ao vivo, do alto, observar a movimentação e a marcação alta, me fez sair com a sensação de que jogávamos aqui outro esporte.

O meu filho, estudioso das mudanças na Europa, já me falava que estávamos perdidos, que os técnicos brasileiros precisavam se renovar. Eu constatei e as derrotas de 2014 e 2018 foram apenas símbolo desse atraso.

É sintomático que os treinadores dos dois líderes do campeonato sejam estrangeiros. Um europeu de um País pequeno ( Portugal ), mas que tem na Universidade do Porto um centro de excelência do estudo do futebol. E outro um argentino que também já passou pela Europa. É verdade que Jorge Jesus tem um baita elenco e Sampaoli não. É verdade que há algumas tentativas de técnicos brasileiros de evoluirem, mas é preciso parar com o discurso xenófobo de que não há nada a aprender. Há sim. E Jorge Jesus e Sampaoli, independente se vão ou não ganhar títulos, mostram isso.

Poderia aqui discutir todas as distorções que fazem com que haja hoje uma enorme diferença financeira entre 2 ou 3 times em relação aos demais. Isso foi avisado por um amigo meu, muito criticado pela mídia, que aconteceria. É preciso trabalhar duro para mudar. Isso vai demorar, mas é possível fazer melhor do que, por exemplo, o meu Vasco tem feito: unidade política, representatividade retomada, respeito às tradições com gente que entendesse do clube e do futebol, já diminuiria a diferença.

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