A perda de um pioneiro da Neurociência no Brasil


Como diria meu pai o tempo é inexorável.

Ontem perdemos o Professor Hiss Martins-Ferreira, um dos expoentes da primeira geração de neurocientistas de nosso país.

Dr. Martins-Ferreira teve papel fundamental na descrição da “depressão alastrante”, fenômeno descoberto por outro grande cientista brasileiro, Dr. Aristides Azevedo Pacheco Leão.

A depressão alastrante de leão, descrita originalmente em 1944, é uma onda de intensa atividade neuronal que se espalha por diferentes regiões do cérebro em situações especiais.

Diretamente associada à enxaqueca, pode explicar as ilusões visuais, formigamento e fraqueza relatados por muitos pacientes na fase de prenúncio que antecede a cefaléia. O fenômeno também está associado à epilepsia, contribuindo para seu diagnóstico.

Conheci o “Dr. Hiss” em 1990, quando ingressei como estagiário de iniciação científica no Instituto de Biofísica Carlos Chagas Filho. Na época, já tinha 70 anos mas sua vivacidade contagiava os jovens que iniciavam a formação acadêmica. 

Como lembrou bem a grande amiga Cecília Hedin-Pereira, há poucas semanas atrás Dr. Hiss, com seus 89 anos, ainda frequentava os seminários do Programa Avançado de Neurociências da UFRJ.

Abaixo mensagem do Presidente da Sociedade Brasileira de Neurociências (SBNeC) sobre o Dr. Martins-Ferreira.

“É com grande pesar que a SBNeC comunica o falecimento do Professor Hiss Martins-Ferreira, um de nossos mais importantes neurocientistas. Mineiro de São João del Rei, nascido em 1920, formou-se médico, no Rio de Janeiro, na então Faculdade Nacional de Medicina da Universidade do Brasil, em 1943.

Professor do Instituto de Biofísica Carlos Chagas Filho, UFRJ, Martins-Ferreira dedicou sua vida à neurociência, contribuindo de forma fundamental para a compreensão da “depressão alastrante”, fenômeno originalmente descoberto por seu amigo, mentor e colaborador por muitos anos, Aristides de Azevedo Pacheco Leão (1914-1993).

A neurociência brasileira perde, assim, um dos últimos representantes de uma tradição de pesquisa que vem se extinguindo rapidamente, e que se caracterizava pela busca perseverante, árdua e incondicional das respostas mais simples para uma pergunta bem posta. Perdemos, assim, não só um homem que fazia uma ciência genuína e intensa, mas que também nos mostrava como ela deve ser feita.

Marcus Vinícius C. Baldo

Presidente, SBNeC (2008-2011)”

Dr. Hiss Martins-Ferreira deixa um legado fundamentado na busca do conhecimento sem a competitividade acirrada ou corrida publicitária tão comuns nos dias de hoje.

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