Claudio Francioni. Foto: Nicolas Renato Photography

Claudio Francioni

Carioca, apaixonado por música. Em relação ao assunto, estuda, pesquisa e bisbilhota tudo que está ao seu alcance. Foi professor da Oficina de Ritmos do Núcleo de Cultura Popular da UERJ, diretor de bateria e é músico amador, já tendo participado de diversas bandas tocando contrabaixo, percussão ou cantando.

Titãs se reencontram em noite mágica

“Devem estar precisando de dinheiro” foi a frase que mais ouvi quando o assunto era a anunciada turnê que prometia reunir os membros da formação clássica da banda paulistana. Cheguei a rebater o tolo argumento algumas vezes com diversas alegações convincentes. Porém, nada é mais convincente para esquecer esta bobagem do que presenciar o tão esperado show. Os sete remanescentes, alguns deles amigos desde a infância, deixaram transbordar a emoção que sentiam de cima do palco. E não foi diferente com o público. O fã da banda que achava que faltava alguma coisa desde o início da debandada, com a saída de Arnaldo Antunes em 1992, foi à loucura. Até a única ausência inevitável – o guitarrista Marcelo Fromer, falecido em 2001 – foi momentaneamente compensada com a participação de sua filha.

A estreia da turnê Titãs Encontro – Todos ao mesmo tempo agora, na lotada Jeunesse Arena (Rio de Janeiro) começou com um atraso de pouco mais de meia hora. Passava das 22:20 quando o septeto subiu ao palco ao som da programação eletrônica que abre Diversão. Conforme anunciavam desde o início, o roteiro priorizou as músicas da época em que a banda estava completa. Do álbum Jesus não tem dentes no país dos banguelas (1987) saíram as primeiras da noite – Lugar Nenhum e Desordem fecharam a primeira trinca.

Ainda no início do show, Branco Mello celebrou a vida ao contar sobre uma cirurgia para a retirada de um tumor na laringe que precisou fazer no ano passado. É este o motivo para a sua rouquidão, que em nenhum momento atrapalhou o show. Pelo contrário, trouxe um tom gutural a mais para canções como Tô Cansado (Cabeça Dinossauro, 1986), que veio logo a seguir. O mais icônico disco da banda cedeu dez faixas para o setlist. Só ficaram de fora Dívidas, O Que e A face do destruidor.

Um longo set acústico foi aberto com uma das poucas canções gravadas já sem alguns de seus integrantes. Epitáfio é o maior hit dos Titãs em sua versão não octeto. Sergio Britto pediu as luzes dos celulares como cenário e comandou um belo momento da noite. No final do set, Arnaldo falou sobre a falta que todos estavam sentindo de Fromer e convidou sua filha, Alice, para cantar Toda Cor, composta pelo pai, e Não vou me adaptar. A menina saiu-se bem, com uma voz tão doce quanto firme.

As boas surpresas para os fãs mais ardorosos foram 32 dentes (Õ Blésq Blom, 1989) e Eu não sei fazer música (Tudo ao mesmo tempo agora, 1991). O set normal foi fechado com quatro músicas tiradas de Cabeça: Porrada, Polícia, AA UU e Bichos Escrotos. O sampler de Introdução por Mauro e Quitéria preparou para Miséria abrir o bis, que ainda teve Família e Sonífera Ilha.

A banda, que trouxe Liminha, produtor e parceiro da banda em vários momentos, na guitarra e Paulo Miklos voltando ao sax – emprestado por George Israel – executou de forma segura os arranjos muito próximos dos originais em todas as canções. Rolaram alguns equívocos bem comuns e aceitáveis para uma estreia. Instrumentos ou microfones, como o de Miklos, bem mais altos do que os outros, intervalos longos entre as músicas ou inseguranças na hora de entrar cantando em alguns momentos. Nada que atrapalhasse a mágica noite de reencontro entre os sete amigos e seu velho e gigantesco público.

Setlist

Diversão
Lugar nenhum
Desordem
Tô cansado
Igreja
Homem primata
Estado violência
O Pulso
Comida
Jesus não tem dentes no país dos banguelas
Nome aos bois
Eu não sei fazer música
Cabeça dinossauro

Set acústico

Epitáfio
Cegos do castelo
Pra dizer adeus
Toda cor
Não vou me adaptar

Marvin
Go back
É preciso saber viver
32 dentes
Flores
Televisão
Porrada
Polícia
AA UU
Bichos escrotos

Bis

Introdução por Mauro e Quitéria
Miséria
Família
Sonífera ilha

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