Ana Carolina Garcia. Foto: SRzd

Ana Carolina Garcia

Jornalista formada pela Universidade Estácio de Sá, onde também concluiu sua pós-graduação em Jornalismo Cultural. Em 2011, lançou seu primeiro livro, "A Fantástica Fábrica de Filmes - Como Hollywood se Tornou a Capital Mundial do Cinema", da Editora Senac Rio.

‘Resgate’ tropeça no drama, mas acerta na ação

“Resgate” está disponível no catálogo da Netflix (Foto: Divulgação / Crédito: Netflix).

Lançada em 2014, a graphic novel “Ciudad” mostra um poderoso traficante brasileiro contratando um mercenário para a extração de sua filha que fora sequestrada pelo rival paraguaio, que a mantém na Cidade do Leste. Criada por Andy Parks, Fernando Leon e Joe e Anthony Russo, dois dos maiores nomes do Universo Cinematográfico da Marvel (UCM), a história acaba de ganhar uma adaptação, “Resgate” (Extraction – 2020), principal estreia desta sexta-feira, dia 24, na Netflix.

 

Primeiro filme de Sam Hargrave na direção, “Resgate” não mostra uma guerra entre narcotraficantes brasileiros e paraguaios, mas a tensão que tomou conta do sul da Ásia por meio dos chefões do crime organizado na Índia e em Bangladesh. No longa, Tyler Rake (Chris Hemsworth) é contratado para resgatar o jovem indiano Ovi (Rudhraksh Jaiswal), levado para Daca (Bangladesh) por membros da quadrilha de Amir Asif (Priyanshu Painyuli), considerado o Pablo Escobar da região.

 

Produzido por Hemsworth e pelos irmãos Russo, “Resgate” apresenta uma trama enxuta que trabalha com propriedade os elementos do cinema de ação. Com cenas coreografadas com esmero, algo que se deve à experiência de seu diretor como dublê, coordenador e coreógrafo de lutas, inclusive em títulos do UCM, o longa chama a atenção pelo primoroso plano sequência utilizado em seu primeiro ato – os poucos cortes são quase imperceptíveis, como no drama de guerra “1917” (Idem – 2019), de Sam Mendes.

 

Chris Hemsworth e Rudhraksh Jaiswal em cena de “Resgate” (Foto: Divulgação / Crédito: Netflix).

 

Repleto de violência gráfica, “Resgate” tropeça quando o drama tenta ganhar espaço na narrativa por meio dos fantasmas que atormentam o mercenário e o garoto que, aos poucos, vê nele uma figura próxima à paterna. E é a relação deles um dos principais pilares deste filme, pois os personagens são defendidos com dignidade por Chris Hemsworth e Rudhraksh Jaiswal. A sintonia entre os atores é evidente a cada cena, remetendo à do eterno Thor e Tom Holland em “No Coração do Mar” (In the Heart of the Sea – 2015). Isto se deve ao fato de Hemsworth “puxar” pelo novato, permitindo que ele ganhe confiança para conquistar seu próprio espaço no jogo cênico.

 

Mesmo que superficialmente, o longa trabalha os questionamentos de Ovi em relação ao modo de vida escolhido pelo pai, preso na Índia, algo que ganha dimensão maior quando ele próprio precisa puxar o gatilho. Em meio a isso, tece uma crítica à cooptação de crianças e adolescentes em situação de extrema pobreza pelo crime organizado, mostrando tanto o pavor imposto pelos criminosos quanto a idolatria daqueles que acreditam num futuro melhor com armas em punho.

 

Por vezes remetendo ao cinema de ação produzido em Hollywood nos anos 1980, “Resgate” poderia ter aprofundado sua trama, mas funciona a contento, destacando-se dentre os lançamentos recentes da Netflix pelo rigor técnico em seu processo de produção.

 

Assista ao trailer oficial legendado:

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