Oscar: AMPAS anuncia nova regra para a categoria de melhor filme
A Academia de Artes e Ciências Cinematográficas de Hollywood (Academy of Motion Picture Arts and Sciences – AMPAS) anunciou na última terça-feira, dia 08, nova regra de elegibilidade para a categoria de melhor filme do Oscar. Válida a partir de 2024, a regra prevê que pelo menos duas de quatro exigências, chamadas de “padrões” pela instituição, sejam seguidas para que o longa-metragem se torne elegível para concorrer à estatueta dourada.
“A abertura deve ser ampliada para refletir a diversidade da nossa população global tanto na criação de filmes quanto nas audiências que se conectam a eles. A Academia está empenhada em exercer um papel vital em ajudar a tornar isso uma realidade. Acreditamos que esses padrões de inclusão serão um catalisador para mudanças essenciais e duradouras em nossa indústria”, afirmaram David Rubin e Dawn Hudson, respectivamente, presidente e CEO da AMPAS, em comunicado oficial à imprensa.
De acordo com a Academia, os padrões são divididos em quatro, conforme dito acima, mas contêm subdivisões próprias. São eles:
“Padrão A: representação na tela, temas e narrativas.
Para atingir o Padrão A, o filme deve atender a UM dos seguintes critérios:
A1. Atores principais e coadjuvantes:
Pelo menos um dos atores principais ou atores coadjuvantes significativos é de um grupo racial ou étnico sub-representado:
- Asiático
- Hispânico / latino
- Negro / Afro-americano
- Indígena / Nativo Americano / Nativo do Alasca
- Oriente Médio / Norte da África
- Havaiano nativo ou outro ilhéu do Pacífico
- Outra raça ou etnia sub-representada
A2. Elenco em geral:
Pelo menos 30% de todos os atores em papéis secundários e outros menores terão de ser de pelo menos dois dos seguintes grupos sub-representados:
- Mulheres
- Grupo racial ou étnico
- LGBTQ +
- Pessoas com deficiências cognitivas ou físicas, ou surdas ou com deficiência auditiva
A3. Enredo principal / assunto:
O(s) enredo(s) principal(is), tema ou narrativa do filme são centrados em um (ou mais) grupo sub-representado(s):
- Mulheres
- Grupo racial ou étnico
- LGBTQ +
- Pessoas com deficiências cognitivas ou físicas, ou surdas ou com deficiência auditiva
Padrão B: Liderança criativa e de equipe.
Para atingir o Padrão B, o filme deve atender a UM dos critérios abaixo:
B1. Liderança criativa e chefes de departamento:
Pelo menos dois dos seguintes cargos de liderança criativa e chefes de departamento – diretor de elenco, cineasta, compositor, figurinista, diretor, editor, cabeleireiro, maquiador, produtor, desenhista de produção, decorador de cenário, som, supervisor de efeitos visuais, escritor – são do seguintes grupos sub-representados:
- Mulheres
- Grupo racial ou étnico
- LGBTQ +
- Pessoas com deficiências cognitivas ou físicas, ou surdas ou com deficiência auditiva
Pelo menos uma dessas posições deve pertencer ao seguinte grupo racial ou étnico sub-representado:
- Asiático
- Hispânico / latino
- Negro / Afro-americano
- Indígena / Nativo Americano / Nativo do Alasca
- Oriente Médio / Norte da África
- Havaiano nativo ou outro ilhéu do Pacífico
- Outra raça ou etnia sub-representada
B2. Outras funções importantes:
Pelo menos seis outros membros da equipe e cargos técnicos (excluindo Assistentes de Produção) têm de ser de um grupo racial ou étnico sub-representado. Essas posições incluem, mas não estão limitadas a Primeiro AD, Supervisor de Roteiro, etc.
B3. Composição geral da equipe:
Pelo menos 30% da equipe do filme têm de ser dos seguintes grupos sub-representados:
- Mulheres
- Grupo racial ou étnico
- LGBTQ +
- Pessoas com deficiências cognitivas ou físicas, ou surdas ou com deficiência auditiva
Padrão C: Acesso e oportunidades da indústria
Para atingir o Padrão C, o filme deve atender AMBOS os critérios abaixo:
C1. Aprendizagem remunerada e oportunidades de estágio:
A distribuidora ou financiadora do filme precisa pagar por aprendizagens ou estágios nos seguintes grupos sub-representados e que atendem aos critérios abaixo:
- Mulheres
- Grupo racial ou étnico
- LGBTQ +
- Pessoas com deficiências cognitivas ou físicas, ou surdas ou com deficiência auditiva
Os principais estúdios / distribuidores são obrigados a ter aprendizes / estagiários remunerados e contínuos, incluindo grupos sub-representados (também deve incluir grupos raciais ou étnicos) na maioria dos seguintes departamentos: produção / desenvolvimento, produção física, pós-produção, música, efeitos visuais, aquisições, negócios, distribuição, marketing e publicidade.
C2. Oportunidades de treinamento e desenvolvimento de habilidades (equipe):
A empresa de produção, distribuição e / ou financiamento do filme oferece oportunidades de treinamento e / ou trabalho para o desenvolvimento de habilidades para pessoas dos seguintes grupos sub-representados:
- Mulheres
- Grupo racial ou étnico
- LGBTQ +
- Pessoas com deficiências cognitivas ou físicas, ou surdas ou com deficiência auditiva
Padrão D: Desenvolvimento de público
Para atingir o Padrão D, o filme deve atender aos critérios abaixo:
D1. Representação em marketing, publicidade e distribuição:
O estúdio e / ou empresa de cinema precisa ter vários executivos seniores internos dentre os seguintes grupos sub-representados (deve incluir indivíduos de grupos raciais ou étnicos sub-representados) em suas equipes de marketing, publicidade e / ou distribuição:
- Mulheres
- Grupo racial ou étnico:
Asiático
Hispânico / latino
Negro / afro-americano
Indígena / Nativa americana / Nativa do Alasca
Oriente Médio / Norte da África
Havaiano nativo ou outro ilhéu do Pacífico
Outra raça ou etnia sub-representada
- LGBTQ +
- Pessoas com deficiências cognitivas ou físicas, ou surdas ou com deficiência auditiva”.
Definidos pelo Conselho Diretor, que criou uma força-tarefa liderada por DeVon Franklin e Jim Gianopulos, os padrões são similares aos de outras instituições, como o British Film Institute (BFI) e British Academy of Film and Television Arts (BAFTA), segundo comunicado oficial da AMPAS à imprensa, destacando que as decisões foram tomadas após consulta ao Sindicato de Produtores dos Estados Unidos (Producers Guild of America – PGA), responsável pelo PGA Awards, maior termômetro da categoria de melhor filme do Oscar. De acordo com a Academia, esta medida integra a nova fase de sua iniciativa em prol de equidade e inclusão, chamada de Academy Aperture 2025, anunciada em junho deste ano. À época, Dawn Hudson, CEO da AMPAS, afirmou que as regras da premiação seriam analisadas e, se necessário, alteradas “para garantir que todas as vozes sejam ouvidas e celebradas”.
Recebendo duras críticas desde o Oscar 2016, chamado de “#OscarSoWhite” (“Oscar tão branco”, uma tradução literal), a AMPAS buscou caminhos para aumentar os índices de representatividade, diversidade e inclusão tanto em seu quadro de membros quanto no Oscar. Mas, no segundo, depende de mudanças drásticas na própria indústria cinematográfica. Tais mudanças vêm acontecendo gradativa e discretamente, mas sem o reflexo necessário na premiação da Academia, que, desta vez, decidiu impor suas próprias condições não somente para modificar de fato o cenário, mas para se ajustar às novas exigências da sociedade, evitando, assim, mais críticas negativas após o anúncio dos indicados ao Oscar e, até mesmo, dos vencedores – vide a polêmica causada pela vitória de “Green Book – O Guia” (Green Book – 2018) em 2019.
No entanto, a nova regra de elegibilidade para a categoria de melhor filme, a principal do Oscar, colocou, mais uma vez, a Academia no centro de algo que ela mesma tenta evitar: polêmica. Isto se deve ao fato de que, para muitos, o filme deve ser analisado e, consequentemente, premiado, pelo que ele é. Não pela raça, etnia e/ou gênero de quem o realiza, por exemplo. Esta discussão já começou em Hollywood e certamente ganhará força nos próximos anos e edições, acirrando os ânimos de parte da comunidade hollywoodiana, que alegará que esta regra impedirá a participação de diversos projetos na corrida por uma vaga entre os finalistas do Oscar.
Esta movimentação da AMPAS pôde ser observada na última cerimônia do Oscar, realizada em 09 de fevereiro deste ano, calcada no tom inclusivo e, também, de autocrítica, pois a todo instante os apresentadores lembraram a falta de representatividade na História da instituição. Isto ficou evidente logo nos primeiros minutos da festa, ainda durante a performance de Janelle Monáe, sendo corroborado pela homenagem à Harriet Tubman ao mostrar sua imagem no telão durante a apresentação musical de Cynthia Erivo, indicada ao Oscar de melhor atriz por interpretar a ex-escrava e ativista em “Harriet” (Idem – 2019). Apesar disso, os produtores derraparam ao convidar Shia LaBeouf para entregar o prêmio de melhor curta em live-action ao lado de Zack Gottsagen, ator que entrou para a História como o primeiro apresentador com Síndrome de Down do Oscar. Esnobado pela Academia por “Honey Boy” (Idem – 2019), filme inspirado na sua vida, LaBeouf demonstrou impaciência para com o colega, com quem contracenou em “O Falcão Manteiga de Amendoim” (The Peanut Butter Falcon – 2019), e recebeu inúmeras críticas.
É importante lembrar que, em abril deste ano, a Academia anunciou o afrouxamento da “Regra Dois, Elegibilidade” para o Oscar 2021 devido ao impacto da pandemia do novo Coronavírus (Covid-19) sobre a indústria cinematográfica, tornando elegíveis, apenas para a próxima edição, títulos lançados diretamente no streaming sem a necessidade de exibição comercial em Los Angeles por pelo menos sete dias consecutivos e três sessões diárias. Com isso, a AMPAS começará de fato a endurecer as regras nas edições 94 (2022) e 95 (2023), mas as mesmas serão enviadas por formulário confidencial.
Adiada em decorrência da pandemia, a cerimônia do Oscar 2021 será realizada em 25 de abril, no Dolby Theatre, em Los Angeles. Com isso, todo o cronograma da AMPAS foi modificado, sobretudo no que tange ao período de elegibilidade, que foi estendido até 28 de fevereiro de 2021, data outrora escolhida para a realização da maior festa da indústria hollywoodiana. A lista de indicados ao Oscar será divulgada em 15 de março.
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