Ana Carolina Garcia. Foto: SRzd

Ana Carolina Garcia

Jornalista formada pela Universidade Estácio de Sá, onde também concluiu sua pós-graduação em Jornalismo Cultural. Em 2011, lançou seu primeiro livro, "A Fantástica Fábrica de Filmes - Como Hollywood se Tornou a Capital Mundial do Cinema", da Editora Senac Rio.

‘Mulan’: ‘lealdade, coragem e verdade’

“Mulan” é protagonizado por Yifei Liu (Foto: Divulgação / Crédito: Disney).

Inicialmente agendado para o circuito comercial, “Mulan” (Idem – 2020) é um dos títulos mais aguardados deste ano e, também, mais afetados pela pandemia do novo coronavírus. Para driblar este período conturbado e de privações, a The Walt Disney Company decidiu lançá-lo diretamente em sua plataforma digital, a Disney+, que o disponibilizará a todos os assinantes da América Latina nesta sexta-feira, dia 04.

 

Versão em live-action da animação de Tony Bancroft e Barry Cook, lançada em 1998, o longa conta a história de Mulan (Yifei Liu), jovem que não se encaixa nos padrões impostos pela tradição e, para proteger o pai, decide se juntar ao Exército Imperial para lutar pelo seu país. Porém, o faz sem revelar sua verdadeira identidade porque mulheres tinham como única função casar para honrar a família.

 

Substituindo elementos que concederam comicidade à animação, como por exemplo, o grilo na sequência da avaliação pela casamenteira do vilarejo, este remake assume uma roupagem mais séria que tenta brincar com o cinema de aventura épico por meio tanto das lutas, impecavelmente coreografadas, quanto das belas paisagens exploradas pela fotografia, destacando as cores fortes inerentes da cultura chinesa. Além disso, também se destaca por quesitos como direção de arte (atenta aos mínimos detalhes), figurino, maquiagem e montagem, que insere trilha e efeitos sonoros com cuidado, agregando valor ao resultado final. Contudo, o longa apresenta certa irregularidade em efeitos visuais, mas isto não chega a comprometer o conjunto.

 

Yoson An e Yifei Liu em cena de “Mulan” (Foto: Divulgação / Crédito: Disney).

 

Com direção de Niki Caro, “Mulan” respeita o clássico, mas aposta em diferenciais como ação em detrimento do lúdico que sempre marcou as animações da Casa do Mickey. Com isso, esta releitura se torna uma produção mais madura que expõe os anseios da protagonista que não enxerga, nem aceita, o casamento como única opção de honrar o nome de sua família numa sociedade de lugares pré-estabelecidos na qual as noções de orgulho, honra e humilhação são fortes o suficiente para conduzi-la sem questionamentos, independente de quaisquer fatores, inclusive limitações físicas – “O seu trabalho é trazer honra para a sua família”, diz o pai à Mulan sobre matrimônio, logo nos primeiros minutos do filme.

 

Neste contexto, “Mulan” não discute somente a cultura de casamentos arranjados e impostos por famílias, mas o papel da mulher cansada de omissão e submissão em busca de realizar seus sonhos e viver intensamente tudo o que deseja tendo a liberdade de escolha como base para o presente e futuro. Mesmo assim, a personagem, defendida com garra por Liu, o faz sem relegar ao segundo plano suas preocupações de filha nem para com o coração, apesar de, num primeiro momento, reprimir o interesse por um colega devido ao disfarce.

 

Contando com uma trama mais consistente, comparada à da animação, a nova versão de “Mulan” cumpre o objetivo de levar ao público, sobretudo a fatia composta por meninas, uma história de superação da jovem decidida não apenas a honrar a família, mas à sua maneira, fazendo o que considera correto, como também de conquistar o respeito necessário para garantir o lugar que sempre desejou ocupar no mundo, tendo como norte lealdade, coragem e verdade.

 

Assista ao trailer oficial legendado:

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