Comoção em Parintins: em dia épico, Caprichoso e Garantido se unem em homenagem a Arlindo Júnior

Caprichoso e Garantido em homenagearam a Arlindo Júnior. Foto: Lucas Paulino

O ano de 2019 deixou para escrever, no último dia, uma das páginas mais emocionantes da sua história. Em uma verdadeira lição de amor e respeito, a cidade de Parintins, no Amazonas, parou para homenagear um dos maiores nomes da região: Arlindo Júnior, ídolo do Boi Caprichoso. Conhecido como ‘Pop da Selva’, o cantor morreu no último domingo (29).

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Ilha do Festival, que divide o município em azul e vermelho, Parintins acordou de branco, cor escolhida para representar não só o luto, como também para reverenciar aquele que tanto fez pela cultura do lugar. Caprichoso e Garantido se uniram em um só boi, uma ação histórica que deixou a rivalidade de lado e mostrou para o mundo os verdadeiros fundamentos da brincadeira de boi-bumbá.

O corpo de Arlindo Júnior chegou ao aeroporto Júlio Belém no início da manhã e seguiu em um trajeto pela cidade, organizado pela prefeitura de Parintins em parceria com os bumbás. O percurso passava pelos principais pontos do município: a Cidade Garantido, o Curral do Boi Caprichoso, o Bumbódromo e a Catedral de Nossa Senhora do Carmo.

O corpo foi carregado pelo caminhão dos Bombeiros. À frente, um carro com o Caprichoso abria caminho na multidão. Era como se o próprio boi pedisse licença à Parintins para levar seu ex-apresentador e levantador de toadas. Atrás da viatura dos Bombeiros, centenas de motos e carros com bandeiras azuis, vermelhas e brancas. Na calçada, milhares de pessoas – quase que a população inteira de Parintins – aplaudiam e acenavam ao Pop da Selva.

Logo na primeira parada do cortejo, uma cena levou às lágrimas a multidão. Em frente à Cidade Garantido, o bumbá vermelho recebeu o bumbá azul. Ao som da toada ‘Garantiando’, gravada por Arlindo, Caprichoso e Garantido dançaram juntos em homenagem ao cantor.

A carreata seguiu em direção ao Curral do Caprichoso, onde os presidentes dos bumbás, junto do prefeito Bi Garcia e de outras personalidades bovinas, carregaram o caixão até o palco. A multidão de azul que tanto dançou, cantou e evoluiu ao som de Arlindo pôde se despedir e agradecer ao ícone azulado pelos 30 anos de serviços prestados.

O corpo ainda seguiu ao Bumbódromo, para uma volta olímpica pela Arena. Depois, foi levado à Catedral de Nossa Senhora do Carmo, onde aconteceu uma missa. Na saída, a última homenagem: em frente à Igreja, dezenas de pessoas com balões brancos cercavam Arlindo, acompanhado de perto por Caprichoso e Garantido.

No fim da manhã, as bolas foram soltas no céu em forma de um último adeus. Os bumbás reverenciaram novamente o Pop da Selva. A multidão aplaudiu. O corpo voltou ao aeroporto em direção a Manaus. A alma ficou pra sempre em Parintins.

Boi Caprichoso: ‘Te amamos Arlindo Júnior! Obrigado por tudo’

Nação Azul e Branca e torcedores do boi contrário!

Hoje, é um dia que nos unimos, deixamos a rivalidade de lado e irmanados prestamos nossas últimas homenagens ao maior artista que o Amazonas já teve, ao maior artista do Festival de Parintins, ao maior ídolo do boi Caprichoso. A história de Arlindo se confunde com a própria história do nosso amado Touro Negro. O Festival de Parintins nasceu para a construção desta Catedral, lá em 1965, hoje a igreja abriga e homenageia um dos grandes responsáveis em levar aquela brincadeira, lá da década de 60, para o Amazonas, para o Brasil e para o mundo. Agradeço a família por deixar que os fãs, amigos e todos aqueles que conviveram com Arlindo, em Parintins, pudessem prestar sua última homenagem. A homenagem ao menino pobre que construiu uma história com suor e muito trabalho chegou onde chegou sem nunca esconder suas raízes e muito menos deixar de lado nossa cultura e nossa gente.

Durante o translado do aeroporto e vendo o carinho das pessoas para com Arlindo ecoa na cabeça um canto de 1996, quando o Caprichoso se despedia da arena e dava um até logo para retornar no ano seguinte. A letra do poeta dizia mais ou menos assim:

“Caprichoso urrou
Silêncio meu povo pediu
Minha voz serenou
Nem mais um canto se ouviu
Boi contrário calou
O brilho e a beleza sentiu
Foi tudo tão lindo que Deus abençoou”

Arlindo, se despede da arena da vida e vai voltar sim no próximo ano na arena dos corações de todos nós : parintinenses, caprichosos, garantidos, fãs e familiares porque Arlindo está na galera, nos artistas, nos brincantes, nos itens, diretores…

Arlindo está nas toadas basta entoarmos letras como de Sidney Rezende:

“Como um sonho de marujo
Reacendendo a emoção
Ele esquece do remo
Ele esquece da dor
Balançando as bandeiras
Na arena seu mundo se revela
Agora ele é um pássaro sonhador”

Te amamos Arlindo Junior, nosso Pop da Selva! Obrigado por tudo.

Boi Garantido: ‘Sua história está eternizada a todos quem amam o Festival’

A Associação Folclórica Boi-Bumbá Garantido vem lamentar profundamente a morte prematura de um dos maiores personagens do Festival Folclórico de Parintins, o cantor e compositor Arlindo Júnior, o eterno Pop da Selva. Arlindo que por décadas elevou o nome da nossa cultura faleceu na noite deste domingo, 29 de dezembro, em Manaus. O Pop da Selva foi guerreiro até o final na sua comovente luta contra o câncer.

A sua história, Pop da Selva, está eternizada a todos que amam o maior festival folclórico do planeta.

A toda família, amigos e admiradores deste grande homem, a sincera solidariedade do Boi Garantido.

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