A literatura e o cinema como base da educação; a lição de Goiás Velho

Um pequeno município de 25 mil habitantes no interior de Goiás está fazendo a diferença na educação de jovens e adultos ao utilizar no programa letivo as duas artes que mais proporcionam reflexão ao ser humano, a literatura e o cinema. A cidade de Goiás, distante 136 quilômetros de Goiânia, sítio histórico que tem o título de patrimônio cultural da humanidade, respira literatura desde a virada do século XIX para o século XX quando as ruas de pé de moleque e o casario do século XVIII começaram a inspirar poetas como Acrísio Gama e Cora Coralina.

A história e a obra dos escritores locais sempre estiveram presentes no programa letivo da cidade, mas a partir de 1999 com a criação do FICA (Festival Internacional de Cinema Ambiental), a cidade de Goiás passou a adotar também o cinema na rede pública. As turmas a partir do 5º ano do ensino fundamental até o 3º ano do ensino médio já são instruídas pelos professores a desenvolver projetos cinematográficos visando o festival já a partir do início do ano letivo, em fevereiro. O FICA sempre é realizado na semana mundial do meio ambiente, no começo de junho, quando os alunos apresentam as obras realizadas. Em seguida, os filmes e vídeos são selecionados por um júri formado por professores, agentes culturais e ambientalistas, e os primeiros colocados são premiados com recompensas que vão de uma quantia em dinheiro a viagens culturais pelo país. Após o festival, as tarefas escolares passam a ser focadas nos debates e nas ideias que surgem com as exibições dos filmes, impactando toda a grade letiva do ano.

De acordo com a ex-secretária de Educação do estado de Goiás, professora Raquel Teixeira, a mudança de atitude dos jovens locais nos últimos 20 anos é visível. “Hoje temos adultos bem mais conscientes e mais preparados que gerações passadas, porém o jovem contemporâneo é ainda mais preparado que os pais. Os estudantes estão influenciando e impactando as famílias de Goiás velho”, revelou a professora.

O FICA foi criado a partir da iniciativa do então secretário municipal de cultura de 1999, Nars Chaul, que se inspirou no festival de cinema da cidade de Seia, em Portugal. Naquela época, o diretor de cinema mineiro João Batista de Andrade, que passou a viver em Goiânia em 1990, incentivava a formação de cineastas goianos e mostrou a Chaul o modelo de festival que seria apropriado para a cidade de Goiás.

Neste ano, o FICA está na vigésima edição, sempre reunindo filmes e vídeos com temáticas ambientais do Brasil e do exterior. Um dos trabalhos premiados nessa edição foi o filme “Levo Minhas Escolhas na Sacola”, realizado por estudantes da rede pública do oitavo ano do ensino fundamental. O filme mostra a preocupação dos alunos com o impacto das sacolas plásticas jogadas nas ruas de pedras da cidade. “Esse pouco cuidado com o nosso centro histórico nos chamou a atenção e decidimos fazer o filme tendo como personagem central a própria sacola plástica”, revelou a estudante Kellen de Oliveira, de 13 anos. O filme foi todo rodado em imagens captadas em aparelhos celulares após os alunos receberam instrução do IFG (Instituto Federal Tecnológico de Goiás). A escola onde os vencedores estudam vai receber um prêmio de R$ 1.200 para a compra e melhoria de equipamentos de apoio.

O FICA vai até domingo (10) e vai reunir nomes do cinema como a atriz Bruna Linzmeyer. O show de encerramento será da cantora Ana Carolina.