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Cinema de animação brasileira cresce, mas tem falta de capacitação

A animação brasileira completou um século este ano. Há 100 anos, no dia 22 de janeiro de 1917, foi exibido o primeiro filme brasileiro de animação da história: O Kaiser. O curta, do cartunista Álvaro Marins, exibido no Cinema Pathé, na Avenida Rio Branco no Rio de Janeiro, perdeu-se no tempo.

Hoje, o Brasil é reconhecido internacionalmente, com premiações consecutivas no festival de animação mais importante do mundo, Annecy – festival realizado anualmente na cidade de Annecy, na França, criado em 1960 e organizado pela Associação Internacional de Filmes de Animação (Association d’International du Film d’Animation). Por dois anos consecutivos, longas brasileiros venceram o prêmio Cristal do festival.

Uma História de Amor e Fúria, de Luiz Bolognesi, foi o vencedor em 2013 e O Menino e o Mundo, de Alê Abreu, recebeu o prêmio Cristal de Melhor Filme pelo júri e pelo público, em 2014. Outro filme, da única mulher brasileira premiada no festival, é o curta Guida (2015), de Urbes. Soma-se a isso o fato de o longa Menino e o Mundo ter recebido indicação ao Oscar, em 2016.

De acordo com a Associação Brasileira de Cinema de Animação (ABCA), 373 filmes de animação foram produzidos no Brasil entre 2000 e 2004. Enquanto 216 filmes foram produzidos no Brasil nos anos 1990. Ou seja, foram produzidos 72% a mais do que na década anterior.

Segundo Cândida Luz Liberato, integrante da ABCA, contribuem para o desenvolvimento do mercado as inúmeras iniciativas governamentais, por meio de programas de fomento ao setor audiovisual. Leis de incentivo, editais, o Fundo Setorial do Audiovisual (FSA) e o aumento da demanda de distribuidoras e canais de televisão por conteúdo nacional (filmes, séries e animações), consequência da Lei 12.485/11 (a Lei da TV Paga), corroboram nesse sentido.

Cândida Liberato explica, no entanto, que a animação brasileira não nasceu da criação de grandes estúdios, e sim da vontade de pioneiros e entusiastas. Para ela, apesar dos incentivos públicos existentes, um dos desafios do setor é o diálogo com o Poder Público. “É preciso o estabelecimento de padrões específicos de regras de fomento para o setor de animação, porque atualmente as regras são as mesmas usadas para outras técnicas de conteúdo audiovisual”, disse.

Ela ressalta que, apesar de as animações terem um potencial de exportação e retorno financeiro maior em comparação a outras técnicas de audiovisual, a demanda de tempo e recursos financeiros para a produção também é superior. Uma das principais demandas do setor é capacitação.

Segundo a integrante da ABCA, poucos profissionais são capacitados para fazerem roteiros e produção de animação com qualidade técnica. “Atualmente, temos poucos cursos de capacitação na técnica de animação. Esses cursos têm que ter uma carga horária alta e respeitar as especificidades do setor. É bem diferente de um roteiro e produção de um longa-metragem ou de um documentário, por exemplo”, explica. Outro problema apontado é o fato de os cursos da área se concentrarem no eixo Rio-São Paulo e a produção seguir essa tendência.

Para Maurício Fonteles, professor do Departamento de Audiovisual da Universidade de Brasília (UnB), a tendência de crescimento da produção do setor de animação é influenciada pela facilidade de acesso a equipamentos e tecnologia para a produção, diminuindo consideravelmente os custos do processo, comparado aos anos anteriores. No entanto, um dos desafios, segundo o professor, é a falta de investimento na formação dos profissionais da área. “As universidades brasileiras não investem na formação voltada para o cinema de animação, a própria UnB já teve um núcleo de animação, mas foi extinto”, destaca.

Fonteles ressalta que agências de propaganda têm uma longa tradição de empregar a animação como forma de despertar o interesse do consumidor em seus comerciais. “Fora do âmbito publicitário, uma das maiores conquistas do setor audiovisual foi a Lei da TV Paga, que aumentou a demanda por conteúdo nacional para ser veiculado nos canais de TV por assinatura, com uma cota de três horas e meia da sua grade de programação semanal, em horário nobre, das 18h às 24h, para os trabalhos das produtoras brasileiras independentes”, detalha.

Fortalecimento do setor e exportação de talentos

Apesar das demandas, a força do setor de animação nacional é cada dia maior, conforme avalia a Associação Brasileira de Cinema de Animação (ABCA). Uma prova foi a compra da animação Lino, de Rafael Ribas, pelos estúdios Fox. O filme, dublado por Selton Mello, Paolla Oliveira e Dira Paes, tem estreia prevista para 7 de setembro em mais de 400 salas do Brasil.

Outro destaque da animação é o estúdio brasiliense Anim’all, que tem feito sucesso nas redes sociais desde que começou a animar tirinhas do quadrinista Caio Gomez. Com relação à exportação de talentos, um dos nomes mais lembrados é o de Matias Liebrecht. O paulistano trabalhou com o londrino Tim Burton em Frankenweenie, filme da Disney de 2012. O brasileiro também atuou no longa Isle of dogs, do americano Wes Anderson. Com previsão de lançamento em 2018, o filme terá as vozes de Edward Norton, Bill Murray, Tilda Swinton e Scarlett Johansson, dentre outros nomes estrelados.

Histórico do cinema de animação no Brasil. Foto: Reprodução
Redação SRzd

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