Claudio Francioni. Foto: Nicolas Renato Photography

Claudio Francioni

Carioca, apaixonado por música. Em relação ao assunto, estuda, pesquisa e bisbilhota tudo que está ao seu alcance. Foi professor da Oficina de Ritmos do Núcleo de Cultura Popular da UERJ, diretor de bateria e é músico amador, já tendo participado de diversas bandas tocando contrabaixo, percussão ou cantando.

Adeus e obrigado, Neil Peart

Por PEDRO DE FREITAS

Sou baixista. Não toco profissionalmente, mas amo tocar baixo e jamais pensei em me tornar baterista. Mesmo assim, tinha como um dos meus ídolos na música um certo canadense, que me custa acreditar que tenha, essa semana, partido do nosso mundo.

Neil Peart era dessas personalidades que parecem que sempre existiram no mundo, e que achamos que sempre estarão por aí de alguma forma. Era, como talvez hoje não exista em nenhum outro instrumento musical, uma unanimidade absoluta. Por anos a fio foi o melhor baterista do planeta Terra. Aqueles que podiam ser seus rivais/contendores haviam morrido há muito tempo. John Bonham, o poderoso baterista do Led Zeppelin, e Keith Moon, o gênio louco do The Who, sucumbiram ainda no início dos anos 80 a um estilo de vida quase suicida. O pacato Neil ficou, e construiu uma imensa obra em torno do power trio Rush, que ao longo de anos gradativamente conquistou fãs e crítica no mundo todo, com um som ao mesmo tempo característico e mutante. Neil era parte fundamental, não fosse ele, com sua avidez literária, o compositor principal da banda.

Sem Bonham e Moon, aqueles bateristas que alcançaram de alguma forma seu nível técnico são na verdade súditos. Músicos de história recente como Mike Portnoy (ex-Dream Theater), Brann Dailor (Mastodon), Danny Carey (Tool), Jay Weinberg (Slipknot) entre outros não escondem as influências do mestre.

O próprio Neil Peart tinha seu ídolo: o grande baterista de jazz Buddy Rich. Mas sua evolução técnica englobando hard rock, jazz e os elementos de percussão que foi incorporando com o tempo faziam com que cada construção musical feita para sua banda fosse única e indistinguível; suas intervenções nas músicas Rush são tão fáceis de lembrar, apesar da complexidade técnica, que todo mundo que curte rock tem uma levada de bateria do Rush de sua preferência. A minha preferida é a de “Subdivisions”. Perfeita. Mas tem as clássicas de “2112”, “Xanadu”, “YYZ” e “The Spirit Of Radio”. Há belezas ocultas em músicas menos badaladas como “Between Sun And Moon” e “Test For Echo”.

O mestre canadense tinha se aposentado há uns cinco anos atrás. Seu talento o ajudou a superar tragédias pessoais tremendas no decorrer de sua carreira. Mas fisicamente já não se sentia apto a repetir dia após dia as proezas técnicas de que um dia tinha sido capaz. Interrompeu a carreira de uma das maiores duplas rítmicas de baixo/bateria da história da música popular, com seu companheiro de banda, o superbaixista Geddy Lee.

Entre as várias músicas que Neil compôs, uma especificamente fala sobre sua admiração pelo talento artístico, relatada por ele na condição de fã. Teria alguma vez pensado nos milhões que escutaram a mesma música e tinham ele mesmo como inspiração?

“Ouço suas musicas passionais e leio palavras que tocam meu coração,
Miro retratos febris e os segredos que os fazem especiais,
Quando sinto as visões poderosas que essa chama trouxe a vida,
Gostaria de ter esse instinto, gostaria de ter essa energia
Nós pagamos um preço fabuloso por nossas visões de paraíso,
Mas um espírito com uma visão é um sonho com uma missão.”

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