Wallace Safra

Idealizador e fundador do Projeto Moda Rio, apresentador do Canal +33, gestor de ateliê, assessor em branding de marcas, CEO e controlador de projetos da Casa Rio e coach de passarela.

A força da nova geração de designers no Carnaval carioca

Luciano Santos, Anderson Oliveira e Michel Marssola. Foto: Max Beltrão

Luciano Santos, Anderson Oliveira e Michel Marssola. Foto: Max Beltrão

O Carnaval é a maior manifestação popular da cultura brasileira. Através de seus desfiles que as escolas de samba hoje estão presentes como um dos principais atores da eco­no­mia criativa do Brasil, não somente nesta como também na festa, na inspiração e na criatividade de muitos profissionais que nascem, desenvolvem seus talentos e potenciais, além de ter um papel importante na forma de fabricar novos profissionais.

No ano de 2019, tivemos a oportunidade de desenvolver um trabalho que já pensava em tirar do papel há algum tempo. Conseguimos mostrar através de uma coluna de moda Carnaval desde os ensaios técnicos até os desfiles oficiais, figurinos, pessoas, projetos, materiais e ter a oportunidade de mostrar ao grande público os profissionais por trás de tantas roupas e tanto trabalho.

Os foliões e profissionais ligados ao Carnaval trabalham o ano inteiro e se preparam muito para vivenciar alguns momentos como: ensaios de quadra, finais de samba enredo, ensaios técnicos, viagens, desfiles e demais oportunidade de usar e abusar de seus figurinos pensados e elaborados com tanto esforço. No entanto, muitos não sabem que as pessoas que atuam no Carnaval, que vivem e sobrevivem dele, são pessoas que investem pesado na confecção de figurinos exclusivos, temáticos, com uso de diversos materiais para viver esses momentos. Muitos destes profissionais que passam noites em claro, que contratam pessoas, que geram renda familiar perante esta economia criativa precisam estar na luz, para que possamos identifica-los, valorizando assim, sua arte e dedicação. Dos bastidores diretamente para a passarela.

Luciano Santos. Foto: Max Beltrão
Luciano Santos. Foto: Max Beltrão

Morador da zona oeste do Rio de janeiro, Luciano Santos é o primeiro designer que vamos conhecer. Aos seus 42 anos, Luciano coleciona prêmios, fantasias marcantes e trabalhos que impactaram a Sapucaí, tudo isso em uma história que já percorreu mais de 10 anos desde o seu primeiro trabalho no Carnaval.

O profissional que atuava na área financeira de uma empresa de engenharia, largou tudo para se dedicar integralmente a essa grande festa. Começando sua carreira de forma despretensiosa, Lu (como é conhecido por clientes e amigos) iniciou seu curso de Desenhos de Carnaval, Fantasias e Adereços, na Universidade Veiga de Almeida, tendo como professores os carnavalescos Jack Vasconcelos e Milton Cunha. Lá teve a oportunidade de junto a turma de designers de moda da universidade promover seu primeiro desfile, onde na época, um presidente de uma das agremiações da série D do Carnaval do Rio que assistia na plateia, se encantou com o que viu e o convidou para assumir a confecção das fantasias para o Carnaval do ano de 2009 da escola.

Em 2010, Luciano inicia sua trajetória da Escola de Samba mirim Tijuquinha do Borel, onde aprendeu praticamente tudo o que precisava, inclusive, o manuseio e utilização de matéria prima reutilizada, renovando e ressignificando-as, já que a agremiação não obtinha recursos para compra de muito do material necessário para tal. Depois de dois anos na Escola, Luciano já vive sua primeira experiência no Carnaval de Vitória na Escola de Samba Rosas de Ouro, onde ficou por um ano cuidando dos processos de fantasias e figurinos. Depois da experiência, Lu opta enfim, voltar ao Rio de Janeiro.

Mais seguro de seu potencial e habilidades, Lu decide arriscar tudo mais uma vez e abrir seu ateliê, construindo sua própria cartela de clientes a fim de atendê-la de maneira direta e personalizada. Foi então que tudo começou a dar ainda mais certo na trajetória do artista. Luciano desponta como um dos ateliês mais respeitados do Rio e mostra sua arte com muita qualidade, trabalhando com fantasias de destaques, musas, passistas e demais setores de muitas escolas dentro e fora do Brasil.

Perguntado sobre o que pode ser melhorado no setor na visão da mão de obra dos designers de Carnaval, ele destaca que o trabalho ainda é visto de forma muito periférica e que acredita que os gestores e responsáveis pela festa nos devidos anos podem ser mais respeitosos e creditar não somente aos carnavalescos a glória de todo um trabalho realizado em equipe.

“Wallace, ter um profissional da moda como você dando atenção aos designers de Carnaval é enriquecedor. É uma troca porque cada vez mais levamos para a Sapucaí as tendências de passarela, acho importante o conhecimento quando se vai comentar um assunto seja ele qual for”, conta Luciano Santos.

Falando de coisa nova: Lu revela que vai se dedicar à carreira de moda. Depois de ter passado no Enem este ano, o designer volta a estudar e pretende focar em figurinos com recorte em teatro e cinema: “Já venho confeccionando figurinos de balé há três anos. Venho aprendendo muito! Quero me dedicar e me interar ainda mais para ver meu trabalho tomar outras proporções podendo assim, ocupar novos espaços”.

Anderson Oliveira. Foto: Max Beltrão
Anderson Oliveira. Foto: Max Beltrão

Nosso segundo entrevistado é o requintado Anderson Oliveira de 33 anos e morador da zona oeste do Rio. Formado como designer de moda, Anderson é um grande talento no Carnaval e promissor dentro e fora dele. Apresentado ao mundo do Carnaval aos 14 anos, teve seus primeiros passos guiados pelo carnavalesco Elson Painho e apresentado logo de cara a um dos grandes ícones do Carnaval Milton Cunha.

Dedicado e aplicado, logo galgou um espaço como assistente de Milton e assim, foi se aprimorando e enriquecendo seus conhecimentos.

O Artista tem se tornado uma figura presente entre as celebridades. Já vestiu a cantora Iza, Lexa, Kamila Reis, Lore Improta, Ana Paula Minerato e outras personalidades no Carnaval. Confidencia para nossa equipe que este ano está usando e abusando do canutilho para mostrar ainda mais beleza e perfeição em suas criações.

Perguntado sobre o que acredita que pode melhorar de acordo com sua visão como designer de Carnaval, ele é rápido em dizer que a arte é parte da festa e a criatividade vem destes profissionais. Sabendo disso, só é necessário que as escolas e as pessoas que atuam à frente dessa festa tenham ainda mais cuidado ao tratar estes artistas e valorizar ainda mais essa galera que se dedica tanto.

“Esse trabalho que você está fazendo é importante para dar visibilidade e voz a nós estilistas do Carnaval. Isso é gratificante e importante para todos nós! Trabalho no Carnaval há 18 anos e sempre nos bastidores, há com 13 atuando com meu ateliê. Depois de anos posso ter através dessa matéria linda e real, reconhecimento e valorização do meu trabalho. Estou honrado”, diz Anderson Oliveira.

Falando de coisa boa: Anderson nos conta que apesar de já ter atuado no mercado de noivas e debutantes, quer dedicar esse ano a estudar mais e retornar a esse recorte do setor de moda ainda mais forte e seguro.

Michel Marssola. Foto: Max Beltrão
Michel Marssola. Foto: Max Beltrão

O terceiro e último designer que vamos conhecer é o talentosíssimo Michel Marssola. Autodidata, a fera tem 34 anos e é morador do bairro do Estácio, um dos berços do samba carioca. Se mostra um cara entregue à carreira e focado em crescer a cada dia mais.

Michel começou e vivenciar a arte através dos festivais de quadrilha junina em 2007. Se apaixonou e resolveu que esse seria o seu caminho profissional. Desde então o artista direcionou toda sua energia e foco no desenvolvimento de suas habilidades e conhecimento.

Em 2009, Michel inaugura o seu próprio ateliê e inicia um trabalho autoral no Carnaval, construindo a partir daí uma história que coleciona muitos trabalhos relevantes, marcantes e premiados.

Perguntado sobre o que ele acha que pode melhorar na festa à partir da sua perspectiva enquanto designer de Carnaval, ele acredita que as agremiações podem olhar com mais sensibilidade e cuidado àqueles que se dedicam tanto para tornar palpável as criações, que muitas vezes também criam e desenvolvem coisas tão bonitas, fazendo com que o Carnaval seja uma festa ainda mais rica e glamorosa aos olhos do público.

“Eu tenho mais de 10 anos de Carnaval, Wallace. Ao longo desses anos não me recordo de ter visto uma matéria em nenhum site especializado falando sobre os estilistas de Carnaval que produzem roupas que tanto inspiram e impressionam o público. A iniciativa do SRzd foi muito legal, por que traz visibilidade ao nosso trabalho valorizando-o ainda mais. As matérias veiculadas no ano passado sobre os figurinos utilizados durante os ensaios técnicos já haviam nos ajudado, mas agora essa matéria vem agregar e contribuir ainda mais”, diz Michel Marssola.

Falando de novidade e futuro, Marssola nos confessa que prepara muitas novidades para 2020 e que vai surpreender muito com trabalhos e atuação em novas áreas “aguardem grandes coisas vindo por aí”, declara o designer.

Acompanhem os estilistas em suas redes e conheçam ainda mais o trabalho deste setor que acrescenta tanto para nossa cultura e para nossa vida como foliões e como povo brasileiro.

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